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domingo, 31 de outubro de 2010

Dia das bruxas



Ufa!

Não aceitamos a maçã. A sedução foi intensa, e eu mesmo temi que hoje estivéssemos irremediavelmente envenenados.

Mas não aconteceu. O dia das bruxas foi só de brincadeira mesmo. Não era verdade.

Ainda bem!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Os exageros que não engolimos

Essa campanha eleitoral está mesmo sendo lamentável.

Bolinhas de papel para cá, aborto para lá, homossexualismo, dossiês, sigilos bancários. A relevância política dos temas são realmente decepcionantes.

Muitos referem-se ao candidato do PSDB como "Zé Baixaria". Eu, apesar de considerar que muitas práticas envidadas por sua campanha não tenham sido as mais recomendáveis, insisto que não há porque desrespeitar um candidato, representante legítimo da oposição, porta-voz de uma série de propostas e de uma série de grupos que efetivamente compõem parte dos interesses e da malha social do Brasil.

É José Serra, não "Zé Baixaria".

Mas, ao mesmo tempo, reconheço que fica difícil caracterizar de outra forma o vídeo abaixo. Não encontro outra palavra. Um amontoado de apelos "futurísticos" com uma visão apocalíptica totalmente infundada. Um vídeo com o único propósito de disseminar um medo irracional e sem sentido, de confundir os eleitores e, principalmente, fugir das discussões relevantes em troca do sensacionalismo midiático e totalmente sem conteúdo.

Um enorme desserviço à Democracia. Uma aposta na falta de inteligência do eleitor. Uma contribuição à superficialidade das discussões políticas.

Não tem outro nome: baixaria. Em sua forma mais pura.

Com um bom remédio contra enjôo, talvez seja possível assistir até o fim.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Bode Expiatório

Jomarcelo Fernandes dos Santos foi condenado. Jomarcelo pegou um ano e alguns meses de detenção por homicídio culposo.

Porque, segundo o Tribunal Militar que o julgou, Jomarcelo foi negligente como controlador de vôo e colocou em rota de colisão o jato Embraer Legacy e o avião Boeing 737 que cumpria o vôo 1907 da Gol, partido de Manaus com destino a Brasília.

Eu acho muito didático ilustrar esse acidente fazendo uma metáfora como se fosse uma colisão entre automóveis. Podemos entender tudo como se fossem dois veículos que bateram de frente. Um acidente terrível.



Obviamente há culpa no agente de trânsito, nosso controlador Jomarcelo, que não advertiu um veículo de que ele estava na contramão. De fato, o Embraer Legacy estava em altitude incorreta e não há nenhum registro de que ele tenha sido efetivamente alertado a esse respeito.

Ocorre que há, nos aviões, um sistema de rádio especial que identifica a rota das aeronaves e, se necessário, permite que as aeronaves atuem automaticamente para evitar colisões. Chama-se Transponder.

O Transponder é configurado com um único número para cada aeronave em um dado espaço aéreo. Com ele, e com o auxílio do radar, pode-se saber a localização e a altitude de todas as aeronaves ao alcance. Isso permite que os controladores instruam os pilotos para cruzar os ares em segurança.

E o Transponder vai além: a onda de rádio que emite pode ser percebida por outras aeronaves na mesma rota e isso dispara um alarme de colisão iminente. Nesse caso os pilotos podem tomar medidas evasivas. Ou, o mais comum, as aeronaves fazem isso autonomamente: os sistemas de piloto automático determinam mudanças de altitude de forma que se cruzem em segurança.

Tendo ainda em vista a analogia com o tráfego rodoviário, imaginemos uma rodovia à noite. O Transponder são os faróis. Dá para ver, de longe, pelos faróis, que há um veículo vindo em direção contrária. Os motoristas, então, tomam as providências necessárias para que os veículos se cruzem em segurança.

O maior pesadelo de qualquer motorista é encontrar um veículo na contramão, de noite, com os faróis desligados. O acidente, nesse caso, seria praticamente inevitável.

E o Legacy estava com o Transponder desligado.

De volta ao Jomarcelo, assim como a um guarda de trânsito, cabia a ele alertar o motorista de que ele estava na contra-mão e, principalmente, que ele estava com o “farol” desligado. Falhou, inegavelmente.

Mas como esquecer do motorista que estava deliberadamente na contramão, e que ainda trafegava com o “farol” desligado? Como justificar tamanha imprudência? Como não condenar dois pilotos que simplesmente atravessavam o espaço aéreo sem acionar o Transponder e sem, portanto, serem identificáveis tanto pelos sistemas de radar quando pelos sistemas das demais aeronaves?



Pessoalmente acho estranho que os senhores Joseph Lepore e Jan Paladino ainda tenham suas licenças de pilotos válidas. Fosse um acidente rodoviário e eles provavelmente teriam incorrido em falta gravíssima e teriam sua habilitação cassada. Não é fácil entender que nada tenha acontecido contra os dois pilotos. O resultado, tristemente, podemos relembrar na reportagem abaixo.



Apenas Jomarcelo Fernandes dos Santos foi condenado. Nessa pantomima toda coube a ele o papel mais difícil.

De bode expiatório.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Une presse très remontée contre Lula

É isso o que se pode constatar. Uma imprensa contra o Presidente. E a constatação não é minha, tampouco de nenhum partidário do Presidente Lula, da candidata Dilma (que é a minha preferência neste segundo turno) ou mesmo do PT.

É de um grande jornal francês: “Courrier International”.

O jornal vai além: “Dans la dernière ligne droite de la campagne, le torchon brûle entre les grands journaux et le gouvernement.

(Entrando na linha final da campanha, a disputa ferve entre os grandes jornais e o governo).

E denuncia o que todos sabemos por cá: “Quatre grandes familles se partagent le contrôle des principaux médias : les Marinho, propriétaires du quotidien de Rio O Globo et de la toute-puissante Télé Globo ; les Mesquita de O Estado de São Paulo ; les Frias, de Folha de São Paulo ; et les Civita, de la maison d’édition Abril, éditeur du principal hebdomadaire, Veja. Ces grandes familles ne se sont jamais remises de l’élection de Lula, ce président peu instruit, venu d’un Etat pauvre et issu du syndicalisme.

(Quatro grandes famílias dividem o controle das principais mídias: os Marinho, proprietários do diário O Globo do Rio e da toda poderosa Televisão Globo; os Mesquita, de O Estado de São Paulo; os Frias, da Folha de São Paulo e os Civita, da Editora Abril, editores do principal semanário, Veja. Essas grandes famílias não se renderam jamais à eleição de Lula, o presidente pouco instruído, vindo de um estado pobre e oriundo do sindicalismo)

E um comentário interessante, com o qual tenho ressalvas, feito na mesma reportagem do mesmo jornal.

La presse déteste Lula et ce qu'il représente. Best-président dans l'histoire du Brésil est un ouvrier métallurgiste. La presse veut bannir l'héritage de Lula.
Dilma Rousseff est vilipendé et calomnié comme jamais vu dans une autre campagne présidentielle. Cette presse brésilienne est la copie de l'American Tea Party et Fox News.

Exemples:
Dilma est accusé de l'avortement par la femme du candidat Serra, qui a commencé une persécution religieuse.
Vérité: La femme du candidat pratiqué des avortements.
Dilma est accusé de violation du secret des finances de la fille du candidat Serra.
Vérité: Un allié du candidat Serra et de son propre parti, Aécio Neves (PSDB), est le responsable.
Dilma est accusé de terroriste et un assassin.
Vérité: Dilma jamais pris les armes, elle a été arrêté et sauvagement torturé par la dictature parce qu'il s'est battu pour la liberté et la démocratie. Dans tout autre pays, Dilma serait traitée comme une héroïne. Une femme qui ont osé défier la dictature!

(A imprensa detesta Lula e o que ele representa. O melhor presidente da história do Brasil é um metalúrgico. A imprensa que banir a herança de Lula.
Dilma Roussef é vilipendiada e caluniada como jamais se viu em outra campanha presidencial. Esta imprensa brasileira é a cópia do Tea Party americano e da Fox News.

Exemplos:
Dilma foi acusada de aborto pela esposa do Candidato Serra, que começou uma perseguição religiosa.
Verdade: A esposa do candidato praticou aborto.
Dilma é acusada de violar o segredo das finanças da filha do candidato Serra.
Verdade: Um aliado do candidato Serra e de seu próprio partido, Aécio Neves (PSDB), é o responsável.
Dilma é acusada de ser terrorista e um assassinato.
Verdade: Dilma jamais pegou em armas, ela foi presa e selvagemente torturada pela ditadura porque ela se empenhou pela liberdade e a democracia. Em qualquer outro país, Dilma seria tratada como uma heroína. Uma mulher que se atreveu a desafiar a ditadura!)

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Para se ter uma ideia de a quantas anda a preocupação da grande Mídia com os princípios éticos do jornalismo. Do ponto de vista de outras pessoas, e de outros países.

A matéria no Corrier International pode ser lida aqui.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A mais criativa


Há anos não vejo uma propaganda eleitoral tão criativa.

Porque é um joguinho, do tipo "ajude sua candidata a vencer as eleições".

Muito engraçado, embora talvez nem todos tenham espírito esportivo para apreciar.

Quem quiser jogar é só clicar aqui.

sábado, 16 de outubro de 2010

Manifesto de professores

A lista completa, com mais de mil nomes, pode ser conferida aqui.

Se conferirem, por favor, acrescentem Álvaro Coêlho - UESC. Não sei se já a terão atualizado até então.

O manifesto segue abaixo.

"
Manifesto em Defesa da Educação Pública

Nós, professores universitários, consideramos um retrocesso as propostas e os métodos políticos da candidatura Serra. Seu histórico como governante preocupa todos que acreditam que os rumos do sistema educacional e a defesa de princípios democráticos são vitais ao futuro do país.

Sob seu governo, a Universidade de São Paulo foi invadida por policiais armados com metralhadoras, atirando bombas de gás lacrimogêneo. Em seu primeiro ato como governador, assinou decretos que revogavam a relativa autonomia financeira e administrativa das Universidades estaduais paulistas. Os salários dos professores da USP, Unicamp e Unesp vêm sendo sistematicamente achatados, mesmo com os recordes na arrecadação de impostos. Numa inversão da situação vigente nas últimas décadas, eles se encontram hoje em patamares menores que a remuneração dos docentes das Universidades federais.

Esse “choque de gestão” é ainda mais drástico no âmbito do ensino fundamental e médio, convergindo para uma política de sucateamento da Rede Pública. São Paulo foi o único Estado que não apresentou, desde 2007, crescimento no exame do Ideb, índice que avalia o aprendizado desses dois níveis educacionais.

Os salários da Rede Pública no Estado mais rico da federação são menores que os de Tocantins, Roraima, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Espírito Santo, Acre, entre outros. Somada aos contratos precários e às condições aviltantes de trabalho, a baixa remuneração tende a expelir desse sistema educacional os professores qualificados e a desestimular quem decide se manter na Rede Pública. Diante das reivindicações por melhores condições de trabalho, Serra costuma afirmar que não passam de manifestação de interesses corporativos e sindicais, de “tró-ló-ló” de grupos políticos que querem desestabilizá-lo. Assim, além de evitar a discussão acerca do conteúdo das reivindicações, desqualifica movimentos organizados da sociedade civil, quando não os recebe com cassetetes.

Serra escolheu como Secretário da Educação Paulo Renato, ministro nos oito anos do governo FHC. Neste período, nenhuma Escola Técnica Federal foi construída e as existentes arruinaram-se. As universidades públicas federais foram sucateadas ao ponto em que faltou dinheiro até mesmo para pagar as contas de luz, como foi o caso na UFRJ. A proibição de novas contratações gerou um déficit de 7.000 professores. Em contrapartida, sua gestão incentivou a proliferação sem critérios de universidades privadas. Já na Secretaria da Educação de São Paulo, Paulo Renato transferiu, via terceirização, para grandes empresas educacionais privadas a organização dos currículos escolares, o fornecimento de material didático e a formação continuada de professores. O Brasil não pode correr o risco de ter seu sistema educacional dirigido por interesses econômicos privados.

No comando do governo federal, o PSDB inaugurou o cargo de “engavetador geral da república”. Em São Paulo, nos últimos anos, barrou mais de setenta pedidos de CPIs, abafando casos notórios de corrupção que estão sendo julgados em tribunais internacionais. Sua campanha promove uma deseducação política ao imitar práticas da extrema direita norte-americana em que uma orquestração de boatos dissemina dogmas religiosos. A celebração bonapartista de sua pessoa, em detrimento das forças políticas, só encontra paralelo na campanha de 1989, de Fernando Collor."

Dito por Ayrton Senna

Os ricos não podem mais viver numa ilha rodeada por um mar de pobreza. Nós respiramos, todos, o mesmo ar. Devemos dar a cada um, uma chance, ao menos uma chance fundamental”.
(Ayrton Senna)



Ayrton foi espetacular nas pistas. E nas pistas muitas vezes não agiu de maneira correta. Mais especificamente, nas pistas ele muitas vezes agiu de maneira absolutamente imperdoável.

Não obstante, ao se ver fora do carro, longe do asfalto e sem nenhuma disputa em vista, Senna era, segundo muitos e muitos relatos de pessoas próximas, bastante sincero e humano. Preocupado com o Brasil, com o Mundo, com as pessoas.

Recebi essa frase aí por e-mail e resolvi compartilhar. Não porque Senna foi um dos meus ídolos. Tampouco pela sua imensa qualidade como piloto de automóveis.

Apenas porque é um pensamento com o qual eu mesmo compartilho.

E pelo qual tenho sinceros temores a partir dos resultados das próximas eleições.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

1989

É preciso reviver 1989.

Não há um candidato como o Lula de 1989. Mas há um embate entre as mesmas forças. Naquele ano o lado sombrio da linha dura ultra-conservadora da política brasileira, mais a grande Imprensa, mais o clero conservador de todas as igrejas aliaram-se ao candidato Collor.

Todos contra as forças populares, de transformação. Que eram personificadas na candidatura de Lula, apoiado pelos sindicatos, pelos estudantes, pelos setores progressistas das igrejas, e pela imprensa livre.

Deu no que deu. Mas a marca do grito pela mudança ficou indelével. Lula não venceu, mas as forças conservadoras perceberam que havia um oponente poderoso, e a partir de então as coisas tiveram que ser reacomodadas.

Há muito em jogo: os projetos de inclusão social, o Pré-Sal, as Universidades Públicas, o desenvolvimento com inclusão social do Brasil.

Contra isso tudo há a Força da Grande Imprensa, do Capital, dos grupos conservadores. Aliado ao Brasil que avançou resta apenas a militância.

A despeito das diferenças históricas entre as candidaturas Lula/1989 e Dilma/2010, é preciso que as forças progressistas se posicionem rápido ao lado da única candidatura viável para os interesses populares. E irredutivelmente contra a candidatura dos modelos de exclusão, privatização, atraso e subdesenvolvimento.

Que esqueçam as diferenças menores, irmanados todos pelo projeto maior: manter alijados do poder os velhos donos do Brasil.

Manter o Brasil sendo de todos os brasleiros.

É a hora dos estudantes irem para as ruas. Dos sindicatos se posicionarem. Aliem-se os blogueiros, os padres e pastores progressistas, os profissionais liberais, os professores.

Estejam nas trincheiras de hoje como estiveram nas de ontem. Pelo Brasil para todos, contra o Brasil do atraso.

Engajemo-nos, como em 1989. Porque há muito em jogo.

O Brasil está em risco.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

De volta à Idade Média

Um discurso muito interessante. Barack Obama é o presidente dos Estados Unidos. Logo, temos que entender que ele defende os interesses de seu país. Interesses que, evidentemente, tantas vezes afrontam os de outros países. Às vezes do mundo inteiro.

Mas é um país com longa tradição republicana. Onde jamais houve um presidente que não tenha sido eleito. Onde as instituições democráticas são muito mais maduras do que as nossas, por exemplo. Se não são exemplo para o mundo em sua política internacional, em termos de organização do Estado há, seguramente, algo a aprendermos com os Ianques. Como nesse discurso de Barack Obama.

Não sendo uma nação de Cristãos, mas uma nação plural, como esperar que o Estado atue apenas a favor dos Cristãos? Ou, mesmo assumindo essa hipótese absurda, a serviço de quais grupos de cristãos estará? Os protestantes? Os católicos? Os evangélicos? Os anglicanos?

O Estado precisa ser laico. Ou isso ou não é um estado republicano, que respeita cada um dos seus cidadãos em sua individualidade e em seus direitos.

Não podemos aceitar a religiotização da política, com a conseqüente religiotização do Estado. Sob pena de caminharmos para uma nação fundamentalista, onde todos estarão sujeitos à ditadura de um pensamento teocrático.

Uma nova Idade Média.

domingo, 10 de outubro de 2010

Religiotização

Vou ousar um neologismo. Porque não há outra forma de descrever o que está acontecendo nestas eleições presidenciais: religiotização.

Na ânsia de ganhar os votos dos brasileiros, os candidatos simplesmente partiram para cima de temas cuja relevância é discutível mas, principalmente, afronta direitos fundamentais de muitas minorias.

Agora o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo – perdoem-me a falta de hipocrisia ao não me referir a isso como “União” - são as tônicas do debate.

Como se o Presidente fosse responsável por decidir sobre a legalização do Aborto. Ou do casamento entre gays.

Parece que os demais assuntos, como os investimentos em infra-estrutura, os destinos da impressionante fortuna do Pré-Sal, os problemas na gestão da Saúde, a necessidade de estruturação da Educação, o combate à fome e à miséria e tantos outros temas se tornaram instantaneamente irrelevantes.

Porque os brasileiros querem mais votar em quem partilha de suas convicções religiosas, ainda que à custa do próprio desenvolvimento do País. Danem-se as escolas. Esqueçamos o Pré-Sal. Abandonemos a Saúde. Infra-estrutura é secundário. O importante é que o Presidente seja contra o casamento Gay e contra o Aborto.

Em breve ele também terá que ser contra os Muçulmanos, os Judeus, as Religiões Africanas. Parece mesmo muito promissor este debate.

A discussão política está pautada pelos temas religiosos. Antes, quando não havia temas em discussão, falava-se em "Idiotizar" o debate, ironia ao nível de profundidade e relevância com que os temas eram tratados. Esta barreira foi superada: agora não é mais a idiotização. Trata-se da Religiotização.

Parece que o eleitor quer ver suas convicções religiosas garantidas, ainda que ao preço de seu próprio desenvolvimento. Que sejam execrados os gays, e que levem para a cadeia por toda a eternidade as mulheres que cometem aborto. Isto feito, podem fazer o que quiser com o resto. Que é o Brasil inteiro.

Naturalmente, há alguns Padres, Pastores e oportunistas de toda hora que se levantam contra todas as conquistas, contra tudo o que o Brasil avançou, segurando solenemente essas duas bandeiras religiotas: o aborto e o casamento gay.

Juntando tudo isso à pouca quantidade de escrúpulos das duas campanhas, uma por avidez de retomar o poder, outra pelo desespero de vê-lo escorrer entre os dedos, temos a eleição mais suja que já se viu nos últimos anos.

Ninguém se lembra de ponderar que, independente da religião do Presidente, a Presidência, bem como todo o Estado brasileiro, não professa nenhuma Fé.

E assim corremos para uma eleição onde o homossexualismo é uma Praga Contagiosa. A Nova Lepra. Onde o aborto é o pior mal da sociedade. A Nova Sodoma. Onde todos devem ser radicalmente contra as duas Bestas do Apocalipse, os Gays e as Mulheres. Ou isso, ou sofrerão as penas da Inquisição. A Nova Inquisição, moderna, que não precisa de fogueiras para imolar os que condena.

É uma eleição. Uma Democracia. Prefiro Dilma. Não porque ela é contra ou a favor do Aborto. Eu sou contra, mas sei que há muito entre o Céu e a Terra.

Tampouco prefiro Dilma por conta de suas opiniões a respeito do Casamento Gay. Eu sou a favor. Porque não devemos negar a ninguém o direito de tentar ser feliz.

Tenho formação Católica, ainda sou profundamente religioso, e não faço a menor ideia a respeito da Fé de nenhum dos candidatos. Nunca me interessei em saber.

Prefiro Dilma porque ela representa uma realidade, uma experiência de governo de 8 anos. José Serra representa outra realidade, outro período de 8 anos. Agora é um ou outro. E compará-los não deixa nenhuma dúvida para mim.

Mas sendo eleição, e sendo Democracia, curvo-me como sempre à decisão das urnas. Ocorre que, desde já adivinho, curvar-me-ei em resignação, e não em concordância. Porque nestas eleições, ainda que minha candidata seja a eleita, eu continuarei desconfiando do que realmente motivou o voto das pessoas, sejam elas contra ou a favor de qualquer dos candidatos.

Temo que os motivos não sejam realistas, tampouco ideológicos, nem mesmo refletidos. Deve ser o voto meramente religioso.

Pura Religiotização.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Postagem antiga: Armandinho

Uma postagem antiga, mas daquelas que eu adorei ter feito. Está na série Tabuleiro da Bahia.

Ponho de novo, já que a preguiça de sexta-feira e a exigüidade (este trema aqui ainda existe?) de tempo me impedem de preparar algo novo.

Então vai algo velho. Mas bom.

Armandinho Macêdo!

Vejamos algumas de suas performances.

Bolero de Ravel (lembranças da Praça Castro Alves de Carnavais de Outrora).



Brasileirinho.



Marchinhas de Carnaval.



Czardas.



No frevo rasgado do Carnaval de Salvador.



Ou simplesmente brincando, derramando talento em todos.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A Cassetada



Ao contrário de muitos, não achei surpreendente o vídeo acima. Reflete precisamente o tom do programa, que é até interessante em alguns momentos, diga-se de passagem. Muito apropriadamente chamado de "Manhattan Conection", conta com a presença quase initerrupta de pessoas como Diogo Mainardi (leia algo sobre ele aqui) sendo um exemplo a mais das absurdas distorções que a Liberdade de Imprensa pode gerar.

Para quem já leu a coluna de Mainardi na Veja ou já assistiu o programa no GNT não é surpresa nenhuma.

Naturalmente há que se defender a liberdade da Globo em manter seu canal orientado da forma que achar melhor. Não é esse o caso.

Contudo, ao mesmo tempo se pode observar duas coisas muito importantes: primeiro que, apesar das ofensas contundentes, o humorista não aponta uma única crítica real ao governo. Sua fala é apenas uma coleção de frases feitas, que são repetidas ininterruptamente por inúmeras pessoas naquele programa, sem nenhum conteúdo crítico prático.

Em segundo lugar, olhando atentamente, tem-se a sensação de que Marcelo Madureira está um pouco aéreo, fora de si. Talvez sob efeito de algum medicamento, ou coisa parecida. Não parece mesmo saber exatamente o que está fazendo.

Ou então é impressão minha.

Deve ser por isso que, segundo o Blog do Nassil (leia aqui) tanto nas reprises quanto no site oficial do canal GNT a fala do "Casseta" foi cortada.

Já tenho temido os caminhos a que as relações entre esta Imprensa e este Governo nos levará.

Tomara que todos tenham mais juízo.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

É fácil escolher agora

Segundo Turno.

Dava para prever, e eu mesmo comentei sobre isso (aqui) frente à pressão da Mídia, cujo poder vem sendo gradativamente minado, mas ainda não foi totalmente vencido. Provavelmente jamais o será.

Também por conta de certa soberba por parte da direção de campanha de Dilma Roussef, que subestimou a força dos adversários, os de dentro e os de fora do jogo, bem como a capacidade de seus “aloprados” meterem os pés pelas mãos.

Mas pessoalmente sinto que a maior fraqueza, ou falta de força, que o PT mostrou nessas eleições foi sua militância. Hoje a militância não é sombra do que foi outrora.

Em nome da governabilidade o PT fez uma série de alianças com grupos muito pouco afinados com a então história do partido, a se ver o PP, onde se abriga Paulo Maluf, ser hoje aliado do governo Lula. A governabilidade também fez o PT ir além, de encontro a um tanto de suas próprias lutas: reforma da previdência tirando direitos dos trabalhadores, intervenção da executiva nacional nas executivas regionais, privatização de rodovias e aeroportos, etc. Não é mais o mesmo PT. Bônus: a governabilidade. Ônus: não tem mais a mesma militância.

E esta fez falta ontem.

A disputa fica mais uma vez entre o PT e seus aliados, alguns dos quais merecem desconfiança geral, versus PSDB e seus aliados, muitos dos quais merecem desconfiança geral. É a disputa entre dois projetos, ambos já experimentados no Brasil. Pessoalmente não gosto muito do projeto do PT, que deveria ser mais ousado, avançar mais. Mas efetivamente gosto menos ainda do projeto do PSDB.

Apesar dos avanços com o Plano Real, bem como algumas mini-reformas necessárias, a gestão PSDB/PFL (hoje DEM) ficou restrita a isso. Não houve nenhum avanço para o Brasil que pulou da 8ª para a 14ª posição no ranking das economias globais durante os anos de gestão tucana.

Época das privatizações mal explicadas e mal conduzidas. Época da PetrobraX, uma tentativa quase infantil de descaracterizar uma marca para posterior venda, aquela que hoje é a segunda maior petrolífera do mundo, potencialmente. Época do salário mínimo de 70 dólares, que mal dava para uma cesta básica. Época em que o Brasil era tão respeitado que um Ministro de Estado tirou os sapatos para ser revistado ao entrar nos Estados Unidos. Época de desemprego rondando os 10%, às vezes 15%. Época de crescimento abaixo de 3%. Época dos juros de até 48%. Época do Apagão, e de nenhum investimento em rodovia, energia ou qualquer tipo de infra-estrutura. Época de programas sociais pífios e sem alcance. Época de Universidades Federais sucateadas. Época sem aumentos para o funcionalismo. Época do Estado sem concursos, sem investimentos. Época em que o Estado Brasileiro praticamente inexistia.

Confrontar isso com a gestão do PT é fácil, e o resultado é uma sonora diferença da água para o vinho. É ver o salário mínimo passando de 200 dólares, comprando quase três cestas básicas. É a economia avançando, com o Brasil ocupando cada vez mais destaque e respeito internacional. São programas sociais fundamentais (com os quais tenho discordâncias, mas sem que lhes diminua a importância) para a elevação do nível de renda da população. São investimentos em infra-estrutura: rodovia, ferrovia, portos, aeroportos, energia, comunicações, etc. em patamares jamais alcançados antes. É o Brasil que, pela primeira vez, começa a deixar de ser o “País do Futuro”, como sempre se ouviu. Apesar de todos os percalços, hoje temos cada vez mais um Brasil do Presente. Dos estudantes, dos trabalhadores, dos professores, dos agricultores. Um Brasil que não se envergonha de assumir que precisa de políticas sociais para a população carente, mas que se orgulha dos resultados destas políticas.

Claro que há problemas de corrupção. De malversação do erário. Este, entre muitos, é mais um dos males que a gestão do PT não atacou, e evidentemente isso deve ser denunciado e cobrado.

Mas ou muito me falha a memória ou o escândalo do SIVAM, aconteceu na gestão do PSDB/PFL. Também a CPI dos Bancos, que foi legitimamente engavetada pelo então Procurador da República, não é lá uma página que deixe orgulhosos os tucanos. E há mais, muito mais: as denúncias de propinas para a privatização, os supostos 200 mil reais por deputados para aprovar a emenda da reeleição, as ligações entre Luiz Carlos Mendonça de Barros, então ministro das Comunicações, e André Lara Resende, então presidente do BNDES, articulando o apoio da Previ para beneficiar o consórcio do banco Opportunity na privatização das Telecomunicações, a desvalorização do Real, já que para FHC se reeleger em 1998, o seu governo manteve a quase paridade entre o real e o dólar até passar o pleito. Tudo isso para que, depois, se descobrisse o nome de vários bancos que lucraram muito com a mudança cambial, enquanto a economia do Brasil ficava literalmente na bancarrota.

A lista é imensa, e pode ser conferida pelos que não tenham boa memória, ou não eram atentos à política naqueles anos. (leia aqui).

Questionar o apoio do governo do PT ao presidente da Venezuela, Equador, Bolívia, Honduras, todos democraticamente eleitos é possível? Sim. Mas é estranho quando as críticas partem dos mesmos que se aliaram a elementos verdadeiramente sombrios da História recente da América do Sul, como Fujimori, Menem e Cia. a fim de descaracterizar o Mercosul em total subserviência aos interesses dos Estados Unidos e da Europa.

Há uma lista enorme de motivos, pode-se até os continuar elencando. Fato porém é que, nesse segundo turno, no que pese o fato de nenhum dos dois candidatos ser pessoalmente o de minha preferência, há uma clara diferença entre um projeto que não é o ideal, mas traz avanços, e outro projeto que sempre se revelou lamentavelmente abaixo das expectativas e das possibilidades do Brasil.

É fácil escolher agora.