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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Boca com Fome

No próximo dia 04 de Dezembro a cidade de Ilhéus receberá a visita de um dos artistas mais competentes que existem perambulando pela Música Popular Brasileira. Longa carreira, muita qualidade, uma voz marcante, uma identidade particular.

Zé Ramalho.

Ocorre que, ao contrário do que deveria ser, isso não é exatamente motivo de alegria para todos.

Muito pelo contrário.

É que Zé Ramalho vai se apresentar no Boca Du Mar.

O Show, portanto, vai ser ali, na cabeceira da Ponte do Pontal. As milhares de pessoas e as centenas de veículos vão estar exatamente ali, onde o trânsito da cidade normalmente já é caótico. Ali, a menos de 400 metros de um bairro residencial. Ali mesmo: proporcionando o colapso nos transportes e o fim do sossego dos moradores.

O saldo do Show deverá ser magnífico para os que dele participarem. Zé Ramalho é puro deleite. Mas para o restante da cidade será uma longa e difícil noite. Aos moradores de Ilhéus se recomenda que planejem para que não dependam de trafegar por ali naquelas horas. O seu direito de ir e vir estará irremediavelmente subtraído. O mesmo valerá para ambulâncias e o Corpo de Bombeiros. Desde as primeiras horas da noite os moradores perdem também o direito de necessitar de urgência ou emergência. Se desobedecerem, caso se atrevam a necessitar de serviços médicos, a pena poderá ser a Morte. Estejam avisados.

Outrossim saibam, os que habitam as imediações, que seu direito ao sono e ao sossego também será suprimido inexoravelmente. Cabe aos responsáveis por idosos e recém nascidos deixar as suas casas e levá-los para longe das imediações, ou aguentarem as consequências. O Poder Público, que autoriza eventos desta natureza naquela localização, entende que seu sossego é um pequeno detalhe, frente à magnitude de um evento que "agitará Ilhéus inteira". Se desejarem ouvir a Televisão, tratem de adquirir fones de ouvido. Caso exista apenas um aparelho para muitas pessoas, revezem-se: cada um ouve um pedacinho do Filme, da Novela, ou do Jornal. É tudo para o Bem da Cidade.

Aproveitem a oportunidade de exercitarem um profundo respeito pela Democracia e pelo Estado de Direito.

Não adianta o argumento de que há uma infinidade de locais onde se poderia fazer o Show, que este poderia ocorrer em um espaço muito mais amplo, melhor e mais agradável para o público, com o bônus adicional de não promover nenhum incômodo às pessoas.

A cidadania, este pequeno detalhe, será impiedosamente mastigada e engolida naquela noite. É um preço que todos pagarão por um Bem maior.

O Boca está faminto.

sábado, 27 de novembro de 2010

Sul da Bahia Justo (?) e Sustentável (?)

No Youtube tem um vídeo muito bonito, que apóia as manifestações contra o Complexo Intermodal. Eu reproduzo o vídeo abaixo, mas ele pode ser assistido "in loco" se clicarem aqui.

O vídeo é realmente muito bem produzido. Extremamente emotivo, com músicas de fundo - destaque para a execução repetida do Hino Nacional Brasileiro - e tomadas paisagísticas de qualidade profissional.

Constrói vilões e mocinhos com a mesma maestria que a Rede Globo faz com suas novelas, e que a indústria do entretenimento faz nos Estados Unidos.

Pessoalmente me toca muito. Emociono-me fácil com boa música, belas imagens, histórias bem contadas. Então devo dizer que gostei do vídeo. Embora tenha sentido falta, nas imagens, das pessoas não tão bem vestidas, não tão bem penteadas, não tão bem alimentadas e não tão bem cuidadas que efetivamente moram naquela região. Pergunto-me porque não se vê os sem camisa, sem dentes e sem perspectiva que povoam às centenas a Ponta da Tulha e a Lagoa Encantada.

Mas deixando de lado o apelo emocional, e focando no ponto racional, é possível ver um pouco mais dentro do vídeo.

Ou, melhor dizendo, um pouco menos.

Porque ali há muita produção cenográfica e pouco – talvez nenhum – conteúdo relevante. O vídeo é uma compilação dos mesmos argumentos que são usados há muito. Não diz nada de novo. Apenas diz de maneira muito bem editada.

O vídeo fala da biodiversidade da mata atlântica e afirma, com uma autoridade difícil de ser demonstrada, que a real vocação desta região é o “Turismo Sustentável”.

E, com a mesma falta de evidências, ainda afirma que, com o Complexo Intermodal “todo aquele ecossistema estará irremediavelmente perdido”, e “o impacto será extremamente maior ao longo do tempo”.

Muitas afirmações, nenhuma sustentação técnica ou científica.

Com a bela seleção musical ao fundo e as tomadas aéreas tecnicamente perfeitas, efetivamente o vídeo causa um grande impacto. Mas não traz nenhuma luz à discussão. Apenas um apelo sem nenhum fundo racional. Chega à pachorra de mostrar imagens de baleias Jubarte como se estas também fossem se tornar vítimas do projeto.

Em essência, o vídeo propõe a manutenção do que sabidamente não funciona: defende que a região continue apostando suas fichas no desenvolvimento econômico baseado no turismo “sustentável”.

Que, até então, não reduziu minimamente a desigualdade social nem a crescente pobreza de Ilhéus, uma cidade que caminha a passos largos para o seu Ocaso.

Bem como também não discute o fato de que, segundo os relatórios técnico/científicos da COPPE/UFRJ, os impactos gerados pela instalação do Complexo Intermodal podem ser minimizados e compensados satisfatoriamente.

Efetivamente não discute nada. É uma mera peça publicitária. Portanto, a menção vai apenas para a inegável qualidade da produção. O resto é mera estratégia de propaganda.

Podem assistir. Vale à pena.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Vereza Radical

No Blog "Nas veredas do Vereza" o ator Carlos Vereza derrama suas críticas e suas reflexões sobre uma infinidade de assuntos. Como modestamente também se faz aqui neste espaço.

Devo esclarecer que considero, e continuo pensando assim, que trata-se de um bom ator. Pelo menos bons me pareceram os poucos trabalhos que assisti com ele. Na Televisão e no Cinema.

Inobstantemente, a última postagem, com o título "Forças Armadas: acordem!", é de conteúdo estarrecedor. Ali o ator se derrama em elogios aos valores patrióticos e militares, contra os quais eu tenho algumas reservas, e em seguida ele vai além.

Inconsequentemente além.

Não se trata de defender governos. Carlos Vereza e qualquer outro brasileiro pode e deve se expressar contra qualquer ação de qualquer governo. Vereza pode denunciar, cobrar, criticar, satirizar. E ao fazê-lo estará exercendo seu pleno direito democrático.

Mas defender a deposição de governantes eleitos pelas forças armadas é defender o encerramento das garantias democráticas que ele próprio está exercendo ao emitir suas opiniões.

Vereza vai à insanidade de defender que haviam motivos para se depor o Presidente Jânio Quadros. Não da forma que se depôs Collor de Melo, com o exercício das instituições do Estado de Direito. Vereza, no meio de seu ódio, postula que "Os motivos alegados para a deposição de Jango, multiplicam-se, hoje, acrescentados pelo banditísmo do PT, que não hesita em quebrar todas as regras pela permanência no poder".

Não tenho elementos para alegar nenhum "banditismo do PT". Pelo menos não mais do que o que tenho visto nos governos que se sucedem ao longo dos meus já nem tão poucos anos de vida. Mas tenho a serenidade de entender que, seja qual for o banditismo alegado, se este não for combatido pelos poderes Judiciário e Legislativo (a quem cabe fiscalizar o Executivo) então a nação estará sendo vilipendiada. Estaríamos combatendo um "banditismo" com outro.

Quando Vereza esceve "Espero, sinceramente, que nossas Forças Armadas, intervenham, colocando alguma ordem no caos que, rapidamente, instala-se no Brasil!", ele efetivamente está propondo que as forças armadas tomem para si um poder que elas não possuem e nem jamais deveriam possuir. Por incrível que pareça, Carlos Vereza acredita que o que aconteceu em 1964 foi bom para o Brasil.

Vereza não se preocupa com a Democracia. Preocupa-se com a deposição de um governo do qual ele não gosta. Ele não entende que o respeito às decisões cidadãs, como são por excelência as que exalam das urnas, é pilar insubstituível - embora muitas vezes difícil de aceitar - de qualquer Democracia.

Vereza sabe muito de artes cênicas, mas não sabe nada de Cidadania.

Ou então está com dor de cotovelo em função do resultados das últimas eleições.

Aqui na Bahia sabemos expressar muito bem o que Vereza é: Jacu Baleado.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Transparência Hacker

Um Hacker é uma pessoa que possui conhecimentos profundos sobre sistemas web service e sobre sistemas operacionais.

Nem tanto do ponto de vista tecnológico, já que o objetivo é desenvolver pequenas linhas de código que explorem bugs ou falhas de segurança nestes sistemas.

A expressão "Hacker" é associada a pessoas que desejam tirar vantagem das falhas dos sistemas de Rede de Computadores em proveito próprio. Hackers são acusados de violar informações alheias, acessar contas de e-mail, redes de relacionamento e até mesmo dados bancários de suas vítimas. Hackers já promoveram brincadeiras com governos, pessoas públicas e grandes corporações, deixando-os em saia justa.

Todavia há que ressaltarmos que nem todos os Hackers atuam meramente como irreverentes ou criminosos. Eles, os hackers, já atuam, em muitos casos, de maneira extremamente positiva.

É o caso dos wikileaks, que vem initerruptamente divulgando documentos, fotos e informações confidenciais, vazadas de governos ou empresas, sobre assuntos sensíveis. Ficaram famosos quando divulgaram uma grande massa de documentos secretos do exército dos Estados Unidos, reportando a morte de milhares de civis no guerra do Afeganistão, por militares norte-americanos.

Consultem o wikileaks aqui (twitter) ou aqui (espelho) porque o site original não está acessível.

E o Brasil possui o Transparência Hacker, que desenvolve uma série de aplicações com dados governamentais (públicos, que se diga) construindo pequenos datawarehouses e permitindo múltiplas visões e diversos tipos de cruzamento de dados.

Em 2009 eles clonaram o Blog do Planalto, com a diferença que, na versão hacker, o blog permitia que os cidadãos postassem comentários. Em São Paulo, hackeraram o serviço de reclamações da prefeitura e montaram um ranking de problemas municipais. Também invadiram o site da Câmara Municipal para publicar a prestação de contas de vereadores.

Wikileak, Transparência Hacker, e outros mais venham. É a Tecnologia da Informação deixando de ser propriedade exclusiva do Capital, e servindo a propósitos diversos. Para o bem de todos.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

sábado, 20 de novembro de 2010

Dave Brubeck All Star Quintet



Porque Jazz não é só para negros. Dave é branco.

E não tem idade. Brubeck já comemorou 90.

Bela homenagem, belíssima música.

O melhor da música Norte Americana.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Os filhos que cuidam dos pais

Essa matéria assustadora eu peguei no Blog do Nassif (leiam aqui).

Não é fácil entender como um país rico e socialmente avançado como a Grã Bretanha permite esse estado de coisas. Mesmo nos emergentes e em boa parte do terceiro mundo isso seria absurdo.

Um crime contra a Infância.

Os filhos que cuidam dos pais

Por MiriamL

Da BBC Brasil

Filha que cuida da mãe desde os seis anos ilustra realidade que preocupa britânicos

A situação de uma adolescente britânica de 12 anos que cuida da mãe desde os seis anos ilustra uma realidade que vem se tornando mais comum na Grã-Bretanha e gera preocupação no país.

A mãe da Victoria, Gail, perdeu a visão após ser submetida a uma operação para remover um tumor do seu cérebro. O pai é caminhoneiro e passa longos períodos fora de casa, deixando a mulher aos cuidados da filha.

Victoria ajuda a mãe a se lavar, se vestir e ir ao banheiro. Ela também a alimenta por meio de um tubo inserido no seu abdômen e prepara um complicado coquetel de medicamentos que também precisa ser injetado por meio de um tubo na mãe, quatro vezes ao dia.

"Já sei as doses de cor, então essa parte está tranquila. Eu olho para a minha mãe e sei que isso é o que faz que ela fique viva", diz Victoria, enquanto prepara os medicamentos para a mãe.

"São vários remédios que ela precisa tomar. Você tem de prepará-los com cuidado, amassar tudo, tomar cuidado para que eles possam passar pelo tubo".

Culpa

Gail sabe que cuidar de um adulto é uma responsabilidade imensa, um peso muito grande sobre os ombros de uma jovem de 12 anos.

"Me sinto culpada por fazer com que ela cumpra essas tarefas. Mas para ser honesta, se pessoas de fora viessem me dar assistência, seria uma pessoa diferente entrando pela porta a cada dia", diz Gail.

"Eu gostaria de um pouco de ajuda em tudo", diz Victoria. "Gostaria que viessem nos ajudar com coisas básicas, como levar minha mãe ao banheiro, por exemplo. Dos medicamentos, nós poderíamos cuidar."

Em Dundee, uma cidade na Escócia, a menina Leigh, de oito anos, tem uma realidade parecida com a de Victoria.

Leigh precisa cuidar da mãe, Kirsty, que sofre de transtorno bipolar. A filha fazer companhia constantemente à mãe, dar a ela remédios e, além disso, tem que fazer tarefas domésticas e ir sozinha para a escola.

A menina acaba tendo apenas duas horas por dia para si mesma, das 17h às 19h, quando vai a um centro local para crianças que cuidam de parentes.

Embora admita que precisa do apoio da filha, Kirsty reconhece que Leigh precisa de ajuda.

"O grupo (de apoio, no centro local) dá a elas (as crianças que cuidam de parentes) a chance de serem crianças", disse. "Isso também as faz perceberem que não estão sozinhas."

Pesquisa

Nesta semana, a BBC divulgou uma pesquisa que indica que o número de adolescentes e crianças que cuidam de pais ou parentes pode ser quatro vezes maior do que calcula o governo britânico.

Ao todo, 4.029 crianças em idade escolar foram entrevistadas. Uma em cada 12 disse ser responsável por dar assistência - como banhar, vestir ou alimentar - a algum membro da família.

Se a pesquisa - baseada em um questionário elaborado por acadêmicos da Universidade de Nottingham University, na Inglaterra - for um reflexo da Grã-Bretanha como um todo, pode haver 700 mil crianças nessa situação no país.

O último censo britânico, feito em 2001, identificou apenas 175 mil delas.

Entidades de defesa dos direitos da criança dizem que o governo está economizando milhões de libras às custas do trabalho dessas crianças, prejudicando a sua infância e destruindo seu futuro.

A secretária para as Crianças da Inglaterra, Sarah Teather, disse que a pesquisa mostra a realidade vivida por essas crianças.

"É chocante perceber que elas não recebem nem apoio, nem o reconhecimento que merecem" disse Teather.

A secretária anunciou que o governo deve lançar um programa direcionado ao grupo no final do ano.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Os Preconceitos de Nós

Pessoalmente tenho ficado preocupado com os flagrantes de preconceito, intolerância e discriminação que estão nos palcos da mídia e nos centros dos debates.

Emissoras pintando na Televisão dois "Brasis", um de azul e outro de vermelho, reiterando irresponsavelmente uma divisão inútil e inexistente em resposta ao frustrante (para elas) resultado das últimas eleições.

Pessoas usando a internet de maneira irresponsável ou, no mínimo, infeliz, destilando rancor contra nordestinos, negros, índios. Classificando pejorativamente nações e povos.

Ou esse flagrante asustador abaixo: o Sr. Luiz Carlos Prates se queixando das pessoas "miseráveis" que "agora possuem carro" e denunciando a irresponsabilidade do governo que permitiu que eles pudessem alcançar isso. A culpa dos acidentes seria, pela lógica deste senhor, das pessoas que "não deveriam possuir carro". Assim como já se queixam as pessoas dos aeroportos lotados, dos shoppings apinhados de gente "pé-rapado", das pessoas dividindo seus restaurantes e seus barzinhos com a "gentalha".

Acho que vai demorar até que nossas elites aceitem que o Brasil pode e precisa ser de todos.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Vettel Campeão




Eu bem que poderia dizer aqui que havia previsto o título de Sebastien Vettel. Fiz isso com 7 meses de antecedência. Deve ser um récorde!

Podem conferir aqui.

Mas não seria justo. Porque eu havia mudado de opinião já há algumas corridas e ontem, antes da largada do GP de Abu-Dhabi, apostaria no veterano espanhol do carrinho vermelho.

Ainda assim, reitero o que dizia naquela época: considerando a pouca idade e experiência, Vettel é um piloto que está guiando "o fino", e foi consistentemente rápido durante toda a temporada, embora alguns erros quase tenham ofuscado o brilho desse jovem talento.

Vettel é o mais provável candidato a gênio que há na Fórmula 1 hoje. A despeito de seu rosto juvenil, quiçá imberbe, e de seu sorriso quase pueril, sua ascenção lembra-me muito um outro piloto alemão, que também levou uma então pequena equipe ao seu primeiro campeonato mundial.

Aquele alemão depois ainda venceria outros 6 títulos. Quanto a Vettel é difícil saber quantas conquistas o aguardam. Ou se aguardam.

Mas eu, pessoalmente, apostaria num número grande.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Sanfona é assim!

Para os que pensam que somente aqui no Nordeste é que tem sanfoneiro bom.

Ainda bem que tem outras pérolas em outras paragens.

Direto do Rio Grande: Renato Borghetti e a Milonga das Missões. Sanfoneiro para ninguém botar defeito.

Aliás, "gaiteiro".

Puro deleite.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O Governo do Brasil ajuda o SBT

Sempre pairou uma dúvida a respeito de, num dado instante da campanha presidencial, uma certa emissora de televisão ter destoado das demais a respeito de um certo episódio.

Foi o SBT no episódio do Atentado da Bolinha de Papel.

Fraude muito mal articulada que todo mundo viu, muitos se revoltaram, alguns acharam engraçado e uns poucos tentaram justificar.

Particularmente na grande imprensa. Com direito a peritos e análises que eram, no mínimo, surreais.

A Rede Record não entrou na mesma linha. O que já era esperado. E a Globo foi a principal emissora de TV que tentava explicar o inexplicável e defender o indefensável. O que já era esperado também, já que as relações do governo federal com a Rede Record são infinitamente melhores do que com a rede Globo.

Mas o SBT também acusou a fraude no Atentado da Bolinha de Papel. E todos se perguntaram o porquê.

Não que isto seja uma resposta definitiva. Mas efetivamente dá o que pensar quando, menos de 15 dias depois das eleições, chega um socorro oficial (leia-se federal) de 2,5 bilhões de Reais para salvar o Banco de Sílvio Santos - o empresário que dirige o SBT. Leia aqui e aqui para ver como o Banco Panamericano recebeu ajuda do Banco Central.

Evidentemente seria leviano acusar o SBT de ter usado as eleições como moeda de troca. E o Governo Federal de ter aceitado o jogo. Não há nada que não seja circunstancial a respeito.

Mas seria igualmente leviano não considerar essa hipótese. Como diz o jornalista Bóris Casoy, "eu tenho uma eterna desconfiança dos políticos. Deve ser um defeito meu. Ou dos políticos."

Acho que o SBT e o Governo precisam mesmo se explicar muito bem.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

CPMF

É interessante observar como a maré da política muda o pensamento dos governos e das oposições.

Pois quando a CPMF foi proposta pelo governo do presidente Fernando Henrique Cardoso a oposição de então, liderada pelo PT, atacou duramente o imposto. Que acabou sendo aprovado pois seria a "salvação da saúde pública".

Não foi, como se viu.

Depois, quando o governo já era do PT, e cabia ao PSDB a oposição, as preferências rapidamente mudaram de lado. O imposto (ou contribuição, a depender do contexto jurídico observado) acabou sendo derrubado no senado, indiferente ao esperneio do presidente Lula.

Agora fala-se na volta da CPMF. E fica fácil adivinhar as posições de cada um: naturalmente a oposição será contra e o governo será favorável. Hoje, o primeiro papel cabe ao PSDB e o segundo ao PT. Mas amanhã eles trocam fácil. Basta as contigências do jogo mudarem.

Pessoalmente tenho ouvido e lido muita coisa sobre a CPMF. A única crítica que meu pobre e limitado cérebro conseguiu entender foi a de que o dinheiro não estaria sendo usado na saúde. Ou então que os governos (PSDB e depois PT) teriam aproveitado a CPMF para subtrair outros recursos tradicionalmente voltados para a saúde, o que acabou anulando o benefício que seria obtido.

Isso eu consigo entender. De fato, sendo verdade essa alegação, e parece mesmo que é, que sejam cobrados os governos. E que seja direcionada, a CPMF, para o fim a que originalmente se destina, e que a justifica plenamente.

A outra crítica é a respeito do impacto na economia. Mas eu ainda não consegui ver isso. Falam que o imposto incide "em cascata", e que acaba "comprometendo a competitividade em todas as áreas" em função do impacto sobre os preços.

Pelo que entendi, o problema é que há aplicação do imposto em todos os níveis da produção. Assim, se um agricultor vende sua produção de feijão a um comerciante, ele deve recolher a CPMF. E, naturalmente, repassá-la para o preço de venda de seu produto. O comerciante, depois, deve igualmente recolher sua CPMF para fazer o transporte. E depois para revender aos supermercados. Que recolherão outra CPMF ao entregar as mercadorias aos clientes. Esta lista de pessoas envolvidas no processo de produção e venda do feijão é a tal "cadeia produtiva". Neste pequeno exemplo, a cadeia teria 5 integrantes.

Ora. Supondo, para simplificar com um exemplo prático, que o único imposto que exista seja a CPMF. E assumindo também a alíquita de 0,38% que era praticada até a extinção do imposto. Supondo, também, que um quilo de feijão seja vendido, pelo agricultor, por 1 real. Com a CPMF ele terá que repassar o feijão por 1 real e 38 décimos de centavo ao comerciante. Este, por sua vez, poria mais 0,38% nesse valor, elevando o aumento para 0,007614 de real (menos de um centavo). Depois que todos os integrantes da cadeia produtiva tenham repassado o custo da CPMF para o produto, o quilo de feijão estaria em 1,01914495 reais (menos de 2 centavos de aumento).

Não consigo entender onde fica um impacto tão grande assim. Principamente se, em troca, houver uma melhoria substancial na saúde pública.

Pensando matematicamente, se a cadeia produtiva é formada por N integrantes, então o aumento total do preço é o resultado de N multiplicações de 1,0038 por 1,0038. Ou 1,0038 elevado a N.

Assim, se a cadeia produtiva de nosso exemplo fosse formada, numa situação absolutamente irreal, por 20 integrantes, ainda assim o quilo de feijão não passaria de 1,079 reais.

Menos de 8 centavos de aumento.

Assim, ao passo em que me alio aos que denunciam o mau uso e o desvio do dinheiro da CPMF, não consigo entender a alegada nocividade financeira deste imposto sobre a produção.

Por outro lado, consigo ver fácil algumas coisas. Por exemplo, um cidadão que ganhe 600 reais pagará, ao sacar todo o seu salário no banco, um total de 2,28 reais de CPMF. De outro lado, um investidor que movimente 1 milhão de reais em especulação financeira terá que pagar 3.800 reais de CPMF.

Acho que isso incomoda. Principalmente porque não é este investidor que usufruirá dos benefícios do imposto.

Outra coisa que dá para ver fácil é a facilidade com que, via CPMF, os auditores fiscais do governo podem rastrear a movimentação financeira de muitas empresas, surpreendendo-os (se for o caso) em tentativas de sonegação fiscal.

Acho que isso incomoda também. Por motivos óbvios.

E é só. Outra explicação não encontro. Efetivamente deve haver algo que eu não sei. Ou que minha inteligência limitada não foi capaz de perceber. Pois só isso explica a oposição visceral que faz o PSDB hoje, como fez o PT ontem, contra a CPMF.

Ou isso, ou então trata-se de puro fisiologismo político mesmo.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O Nazismo do Brasil

Um dia eu tive o interesse de entender exatamente o que propunha a filosofia nazista. Que fundamentos haveria para justificar todos aqueles absurdos de que ouvimos tanto falar.

Queria, na verdade, dar espaço ao contraditório, já que sempre ouvira falar do nazismo pela boca dos que foram contra, e os derrotaram na 2ª guerra.

Aproveitando viagens e oportunidades de encontrar pessoas diferentes no Brasil e no exterior, consegui ouvi-los. Bem como li um tanto de textos de orientação ultra-conservadora. Nessa caminhada eu tive duas grandes surpresas. A primeira é que não é correto dizer que o Nazismo propunha qualquer coisa. Erro de tempo verbal. Ele propõe. No presente.

Porque o nazismo está aí, vivo, discutindo e se apresentando aos espaços sociais e políticos. Ainda que não se identifique pelo nome. Ninguém diz: “prazer, eu sou um nazista”. Mas há muitos nazistas, pode acreditar. Você os percebe ao trocar algumas palavrinhas.

Constatei isso junto com minha segunda surpresa. Os nazistas possuem uma visão extremamente pragmática da relação do Estado com as pessoas. E é isso que justifica, para eles, toda uma série de medidas, digamos, pouco ortodoxas.

Para os nazistas é simplesmente intolerável que as pessoas sejam um “peso” para o estado. Não estou falando de cabides de emprego ou políticos corruptos. Para os nazistas, qualquer pessoa que porventura dependa da ajuda do Estado para viver é simplesmente um peso. Não se deve aceitar. Esse elemento precisa ser eliminado.

Índios, estrangeiros sem qualificação, desempregados, pessoas carentes, gays e prostitutas (que são grupos de risco de doenças venéreas) são, entre muitos, e segundo os meus interlocutores, potencialmente danosos para a sociedade. Precisam ser simplesmente extirpados. A qualquer preço.

No Brasil isso vai além. Programas sociais e decisões estratégicas que visem o desenvolvimento regional também são vistos como desperdício. Como uso indevido do Estado. As pessoas ou regiões que se beneficiem dessas medidas são um grande “peso”. Precisam ser condenados.

Sim, há nazismo no Brasil. E essa campanha eleitoral de 2010 expôs isso de maneira dura e cruel. A derrota do PSDB e das elites do Sul e do Sudeste do país não foi facilmente digerida por esse grupo. Estão se expondo, apresentando seus argumentos, começando a ocupar espaços na mídia. Por ora, a Internet.

Exemplos do discurso nazista podem ser vistos neste vídeo abaixo.



Verdade que ainda se trata de uma minoria de idiotas que estão usando a Rede para aparecer. Mas alguns meses atrás eles sequer apareciam. Todo esse preconceito e todo esse ódio começaram a aflorar muito recentemente.

É uma amostra, apenas uma amostra, do Nazismo do Brasil.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Fratura exposta

Há uma infinidade de motivos para que o Brasil comemore o resultados das urnas.


Um, em particular, não é exatamente motivo de festa. Mas é um esqueleto que finalmente pula para fora do armário.


O Brasil mostrou todo o seu preconceito. Como discute a professora Prof. Tania Bacelar de Araujo, da UFPE: "A ampla vantagem da candidata Dilma Rousseff (...) no Nordeste reacende o preconceito de parte de nossas elites e da grande mídia face às camadas mais pobres da sociedade brasileira e em especial face ao voto dos nordestinos. Como se a população mais pobre não fosse capaz de compreender a vida política e nela atuar em favor de seus interesses e em defesa de seus direitos".


De fato, trata-se o voto dessas pessoas todas com uma certa indulgência. Como se fosse um mal necessário. Do ponto de vista dessa análise, os Nortistas e Nordestinos não são pessoas que estão depositando sua confiança em um projeto que efetivamente deslocou o eixo principal de desenvolvimento do Brasil para regiões outras que o Sudeste (um amigo defende que Lula rompeu com o SDD: "São Paulo Driven Development" - Desenvolvimento Orientado por São Paulo) e, conseqüentemente, dando a regiões como o Norte e o Nordeste a oportunidade de, em décadas, finalmente experimentar algum tipo de desenvolvimento efetivo.


Há o argumento óbvio e repetido, de que o Bolsa-Família é que permitiu ao governo federal uma efetiva "compra de votos branca" nessas eleições. Ocorre que, infelizmente, os dados não sustentam tal hipótese: Dilma obteve mais de 60% dos votos do Nordeste. E não são 60% das pessoas daqui beneficiárias de programas sociais. Simples assim.


Ocorre que, infelizmente para alguns analistas de plantão, o que ficou em contraste nessas eleições foi o país que vivemos nos anos 90 (entre 1994 e 2002), marcado pelo investimento regionalizado (Sudeste, principalmente) e por pouca sensibilidade às carências sociais do país.


Os eleitores compararam isso com o Brasil do século 21 (entre 2003 e 2010), onde o interesse da administração federal se voltou em parte para os programas sociais, é verdade, mas também para um grande projeto de integração nacional, apostando no crescimento da produção e consumo de massa. Isso foi muito bom para a economia e para o desenvolvimento social do Brasil. E, é verdade, em particular para as regiões Norte e Nordeste.


Esta é uma hipótese que se sustenta, e nos permite entender o porquê de 60% dos votos daqui terem ido para a candidata do projeto atual.


Todavia o fato é que para os "analistas", bem como para boa parte da grande mídia, e, principalmente, para os políticos da oposição, há e haverá sempre um fato que permanece: só votou no projeto do atual governo a camada "mais pobre e menos esclarecida da população". Os votos vieram de pessoas que não escolhem por motivações pragmáticas e pela percepção que possuem quando comparam os dois projetos, já que em tese seriam incapazes de tal exercício. Seriam apenas pessoas que votam em resposta à recompensa imediata, a refeição provida pelo Bolsa-Família. Cérebros não evoluídos, que atuariam meramente como os cães do famoso experimento de Pavlov.


Uma visão que expõe a ferida aberta e infeccionada de todo o preconceito que sempre existiu, e que agora aparentemente nem se esconde mais. A pele se rompeu. Não está escoriada, tampouco é uma simples contusão.


É Fratura Exposta.