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quarta-feira, 30 de março de 2011

Chileno Maluco

Não tentem fazer isso em casa. Eu mesmo adoro bicicleta, mas jamais me arriscaria fazer algo que sequer lembrasse esta epopéia aí.

Detalhe: notem o desespero do cachorrinho.

VCA 2010 RACE RUN from changoman on Vimeo.



Muito legal!

terça-feira, 29 de março de 2011

Série Aberturas: Knight Rider

Em português ficou "A Supermáquina".

As aventuras de Michael Knight e seu impossível automóvel K.I.T.T. (sigla de Knight Industries Two Thousand ou "Indústrias Knight Dois Mil", em português).

Impossível porque o carro era virtualmente invulnerável, e comandado por peças computacionais de Inteligência Artificial virtualmente inconstrutíveis.

KITT era o Protagonista. Um automóvel de tecnologia espetacular, que trazia à frente um led passeando de um lado ao outro.

A abertura empolgava. Trazia uma música envolvente, que sugeria a tecnologia envolvida e as aventuras prometidas, uma sucedendo à outra. As imagens mostravam detalhes da "super máquina", bem como algumas passagens de Michael e KITT em suas peripécias tecnológicas.
As aventuras passavam nas quintas-feiras à noite no SBT. Eu, já aficcionado por automóveis e por Computação, estava sempre em frente à TV assistindo.

Hoje, sem os olhos adolescentes, curto a série no Syfy Channel pela nostalgia. Mas, à época, minha imaginação viajava, prevendo a chegada de tais tecnologias que permitiriam a construção de máquinas tão espetaculares.

segunda-feira, 28 de março de 2011

A Covardia

Eu já presenciei e já tive notícia de atos de covardia.

Infelizmente.

Tipicamente o covarde é alguém que detêm poder. Porque, sem dispor de poder, o covarde sequer se expõe.

Mas, uma vez de posse de algum tipo de poder, ei-lo mostrando suas prerrogativas. Impondo sua pequenez, alçada proteticamente a tamanhos enganadores.

Pode estar no professor, no político, no juiz, no pai, na mãe, no padre, no pastor, no médico.

Em qualquer um que, apesar de meramente humano, ou às vezes nem isso, muleta-se de alguma vantagem circunstancial e a usa para subjugar os mais fracos, normalmente de maneira autoritária. É a covardia absoluta.

Ela aparece entre os policiais também. Basta ver como tantos deles se acovardam tantas vezes, usando o poder que lhes é confiado contra os que não podem se defender, e apenas contra eles. O covarde jamais desafia quem lhe pode vencer.

A foto abaixo, obtida por um repórter de O Globo, dispensa maiores comentários. Retrata um policial despejando gás de pimenta em uma criança. A outra, que está do lado, defende-se mantendo os olhos fechados. E a mãe as protege como pode.


Vê-se três pessoas corajosas. Uma covarde.

A covardia já se manifestou muitas vezes em suas mais variadas facetas. Mas, pessoalmente, poucas vezes a vi exposta de maneira tão despudorada.

sábado, 26 de março de 2011

Vettel de novo

Ano passado eu vaticinei a conquista de Sebastien Vettel (porque alguns pronunciam Fettel?) com vários meses de antecedência. Confiram aqui.

Foi pura sorte, é verdade. Até porque eu mesmo duvidei que o jovem alemão chegasse lá, até as voltas finais da última corrida. Até então eu apostava em Alonso. E antes disso, em Webber.

Mas agora é diferente. Vettel está desfilando. Apenas isso. A prova de logo mais, em Melbourne, será, com sorte, uma luta muito dura entre todos os demais, que assistirão o garoto guiar tranquila e entediantemente em direção à vitória.

Porque o menino botou quase um segundo (0,866s) na concorrência. É um piloto excepcional, com pinta de se tornar um dos gênios da História, que está conduzindo um carro excepcional, mais uma obra de arte concebida por um dos gênios da História.



Seu colega de equipe, piloto da casa, que seria único com equipamento suficiente para fazer-lhe a devida oposição, parece pouco à vontade. Talvez Webber esteja sentindo o enorme peso psicológico de ter se aventurado numa bicicleta e comprometido sua performance nas últimas corridas do ano passado. Talvez esteja sofrendo com a pressão de recomeçar do zero a caminhada rumo a um título que esteve tão perto em 2010. E que pode jamais estar tão próximo novamente.

Talvez. Mas eu penso que é mais simples. Vettel simplesmente está melhor. Mais à vontade com a equipe e com o carro. Rápido e arrojado, agora com o título de campeão ele ainda contará com a tranquilidade necessária para caminhar sem sustos rumo ao bicampeonato mundial.

Deve conseguir.

É cedo para apostar, eu sei. Mas segurar o alemão parece tão difícil quanto deter as correntes maritmas.

Uma força da Natureza.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Fukushima em pauta

Com o temor de um grande acidente nuclear na usina de Fukushima, no Japão, volta à pauta o debate sobre a segurança e, portanto, a viabilidade das usinas termo-nucleares. Antes, cabe uma explicação do termo "termo-nuclear": a usina usualmente chamada de "nuclear" é, na verdade, uma usina termelétrica. Só que a água não é aquecida por carvão, e sim pela fissão controlada de material radioativo. E, naturalmente, este material radioativo fica totalmente isolado, sem ter contato com o meio externo.

Pessoalmente não tenho nenhuma opinião fortemente embasada sobre essas usinas. Era adolescente quando aconteceu o acidente de Chernobyl na União Soviética (aqui), em que uma usina com tecnologia ultrapassada, mesmo para a para a época (anos 80), simplesmente explodiu. Como todo mundo, também fiquei bastante aterrorizado com aquilo. Há quem garanta que a explosão efetivamente equivaleu a uma nova bomba nuclear.

Um estudo da ONU aponta que, no total, contando as vítimas da exposição imediata e as que carregarão o fardo radioativo ao longo dos anos, mais de 4000 mortes podem ser atribuídas ao acidente na usina soviética.

Isso deixa as pessoas temerosas, e é muito razoável que assim seja. Ninguém quer morar ao lado de uma nova Chernobyl.

Mas ocorre que não existem mais Chernobyl. Nem na Rússia nem em nenhum país do mundo. As usinas de hoje são muito mais seguras, e desde aquele episódio de triste lembrança não houve mais nenhum acidente com vítimas em usinas nucleares.

Nem mesmo em Fukushima. Observa-se que até o momento há muitos temores, plenamente justificados, e uma série de medidas profiláticas que foram tomadas, muito apropriadamente.

Mas o número de vítimas do acidente na usina nuclear é zero.

E isso é verdade há décadas.

Considerando o número de acidentes com vítimas, as usinas hidrelétricas, por exemplo, parecem ser muito mais perigosas. Vejam este vídeo sobre um acidente em que morreram mais de 70 pessoas, na usina de Sayano-Shushenskaya, na Rússia.



Ao contrário do acidente na usina de Chernobyl, que já conta décadas, este aconteceu a menos de 10 anos, em 2004.

Mais relatos de acidentes com vítimas fatais em hidrelétricas podem ser lidos aqui ou aqui. Exemplos não faltam.

Bem medido e bem pesado, não parecem ser tão perigosas assim as usinas nucleares. pelo menos quando comparadas às suas equivalentes de outras tecnologias.

Do ponto de vista econômico, vale observar que o custo do Kwh de energia produzido em termo-nucleares, termelétricas (a gás ou a carvão) e hidrelétricas é bastante similar.

A grande vantagem das usinas termo-nucleares, por incrível que pareça, é ambiental.

Ao contrário das usinas a carvão e gás, não há despejo de gases na atmosfera. Efeito zero sobre o aquecimento global.

Da mesma forma, ao contrário das usinas hidrelétricas, não há grande impacto ambiental, tampouco qualquer desequilíbrio ecológico. Não é necessário desmatar nem inundar nada. E, importante ressaltar, as demais tecnologias "limpas" não possuem potência (quantidade de energia gerada por unidade de tempo) comparável às termo-nucleares.

O único problema, que já é equacionado, são os dejetos. Os restos radioativos produzidos nas usinas termo-nucleares são perigosos e precisam ser tratados com cuidado.

Entre as alternativas para se resolver este problema estuda-se a reciclagem e o isolamento geológico. Ambas parecem ser viáveis, embora ainda careçam de estudos específicos (leia aqui).

Sendo uma alternativa de energia barata, limpa e segura, é de se perguntar o porquê de não ser largamente adotada em todo o planeta. Países cuja economia é mais desenvolvida a usam com sucesso há décadas. Os acidentes com vítima parecem ser coisa muito rara. O impacto no ambiente é praticamente nulo. Considerar a alternativa nuclear deveria estar na pauta tanto de governos quando de ambientalistas.

Poucas vezes se vê algo que agrega tão bem o interesse de todos.

segunda-feira, 21 de março de 2011

IBAMA a favor do Complexo

No Blog do Gusmão tem uma matéria em que ele apresenta um parecer técnico do IBAMA (leia aqui), a respeito do qual ele mesmo, Gusmão, já se referira no mês de Fevereiro.

É onde os técnicos do IBAMA apresentam-se contrários à instalação do Terminal Portuário da BAMIN na Ponta da Tulha.

Na Ponta da Tulha.

O blogueiro tinha razão, afinal. Tratou-se, à época, de um grande furo de reportagem, e todos os que duvidaram ou até questionaram seus princípios devem, humildes, se desculpar com ele agora.

Não obstante, destoando dos que são contrários ao Complexo Intermodal, parece que a análise foi, na verdade, extremamente positiva para os que desejam a vinda deste empreendimento para Ilhéus.

Porque, apesar de serem contrários à instalação na Ponta da Tulha, aquele parecer ressalta estar, ele mesmo, sujeito “à consideração superior”.

Isso acontece porque há uma série de informações indisponíveis, as quais os analistas julgaram necessárias a fim de se medir o impacto ambiental do terminal na Ponta da Tulha. Da mesma forma, as ações de compensação e de mitigação dos danos ambientais pareceram inadequadas, mas naturalmente podem ser ajustadas de forma a atender o que desejam os técnicos do órgão. Mais ainda, o próprio relatório aponta que pode-se buscar uma “avaliação de alternativas locacionais para a instalação do empreendimento”.

A conclusão óbvia é que o IBAMA não é contrário ao empreendimento. Apenas entende que, com as informações atuais, o terminal da companhia de mineração não deve ficar na Ponta da Tulha. Simples assim.

Isso fica cristalino, no relatório, quando a equipe do órgão se posiciona como “não sendo contrária a instalação do empreendimento no município”. Sem meias palavras, sem subterfúgios, a conclusão imediata é que o IBAMA é a favor do Complexo Intermodal.

Mais importante, ainda no mesmo relatório, os analistas vão adiante e reconhecem a importância do empreendimento. No texto, “Ressalta-se, ainda, que esta equipe entende que o empreendimento traria benefícios sócio-econômicos para o município de Ilhéus”.

Além de ser a favor do Complexo, o IBAMA reconhece a importância deste empreendimento para romper a estagnação econômica que se impõe na região sul da Bahia.

Dessa forma, diferente do que pensam os que são contrários ao Complexo Intermodal, parece ser, o parecer do IBAMA, uma peça favorável à instalação do empreendimento.

A oportunidade que isto representa para Ilhéus não pode ser perdida. Até o órgão de fiscalização ambiental percebe isso.

Bem como, aliás, a imensa maioria das pessoas desta região ex-cacaueira. O Complexo tem de vir. Se não vier, será uma decisão imposta de cima pra baixo.

Um desrespeito aos anseios das pessoas do Sul da Bahia.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Porto Velho

Nos início dos anos 90 eu morei na Região Norte. Precisamente em Porto Velho, Rondônia.

É ela mesma, a cidade da ferrovia Madeira-Mamoré, que apareceu na minissérie da Rede Globo.

E das usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau.

Foram alguns meses apenas, enquanto desenvolvia um trabalho. Mas desde então a cidade ocupa um espaço enorme em meu coração. Já na época posso lhes assegurar que Porto Velho me surpreendeu muito. Antes de viajar, consultando dados do IBGE, vi que o município contava com algo entre 250 e 300 mil habitantes. Mais ou menos como Vitória da Conquista.

Mas ao desembarcar no Aeroporto (Internacional) percebi que não era como eu pensava. A capital rondoniense possui avenidas largas, excelente iluminação pública e sinalização extremamente cuidadosa. Chove muito, e o clima é bastante quente. Devido às queimadas nos meses de Setembro e Outubro, o horizonte aparecia sempre enevoado. No fim da tarde o Sol descia no meio da fumaça ganhando cores belas e assustadoras.

Debruçada sobre o Rio Madeira, que, para um nordestino como eu, parecia um verdadeiro oceano, Porto Velho mostrava uma infra-estrutura surpreendente. Trata-se de uma cidade muito bem planejada. Impressionou-me como trânsito, limpeza, saneamento, eram problemas que estavam razoavelmente equacionados.

Há um museu, que na época não recebia a devida atenção dos poderes públicos, onde se conta a história da famosa Ferrovia. Ali há uma Maria Fumaça (a “Mad Maria”) e toda uma série de maquinas e equipamentos que foram usados nos tempos áureos da Madeira-Mamoré.

Tempos de ouro que, quando lá estive, estavam no passado. Porto Velho passou décadas mergulhada numa grande estagnação econômica.

Só muito recentemente é que a economia porto-velhense recebeu o precioso impulso das duas hidrelétricas, verdadeiras locomotivas para a retomada do desenvolvimento regional. Inobstantemente a cidade também ficou no centro de uma grande polêmica: apesar das evidentes melhorias que a Capital recebeu, há denúncias de aumento da quantidade de favelas e da violência urbana, em decorrência dos empreendimentos.

Contudo, o fato é que Porto Velho recebeu 5 mil novas empresas em apenas um ano, além de 30 mil novos empregos. Segundo a Federação das Indústrias do Estado de Rondônia (FIERO), o Estado possui hoje a maior taxa de ocupação da população economicamente ativa da região Norte (94,6%) e a segunda menor taxa de desemprego do Brasil. A renda média do trabalhador porto-velhense é também a mais alta da região: R$ 880,00. Bem acima da média nacional (leia aqui).

Bem medido e bem pesado, a mim não parece que os investimentos Jirau e Santo Antônio tenham sido tão ruins assim. Muito pelo contrário.

E parece que Porto Velho não pára mais. A próxima fronteira a ser explorada é o Turismo, já que a exótica Amazônia sempre despertará a curiosidade e a admiração de todos.



Saudades da Cidade e dos amigos que fiz ali. Do Tacacá na praça Madeira-Mamoré, das tardes fazendo piqueniques na beira dos igarapés, do Pirarucu de Casaca, da Costela de Tambaqui, do sublime Peixe ao Molho de Castanha do Pará, da Catedral do Sagrado Coração de Jesus, das Caixas d´Água.

Meu coração vai me convencer: um dia volto lá.

terça-feira, 15 de março de 2011

Cumpra-se

Uma decisão judicial determina que o Blog do Gusmão retire algumas de suas postagens.

Parece que um secretário do município de Ilhéus se sentiu ofendido, e acionou a justiça para que se estabelecesse o que ele julgou ser o seu direito: amordaçar Gusmão.

Sem entrar no mérito jurídico do caso, pois falta-me competência e estômago para tanto, acho necessário solidarizarmo-nos com Gusmão. Aquele espaço que ele mantém é muito importante para a sociedade, onde se travam debates saudáveis, com a livre expressão do contraditório.

Tenho certeza que o secretário poderia usar o mesmo espaço para se defender.

A mim, porém, toca mais a questão política. Sendo um funcionário público municipal do primeiro escalão, imagino que o secretário deva entender que ele é naturalmente propenso a ser criticado e satirizado. Faz parte de seu metier, são os tais "ossos do ofício".

Lembro agora de inúmeras chacotas e brincadeiras, muitas bastante desrespeitosas aliás, que vitimaram os presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso.

Cientes do que é requisitado de seus cargos públicos, jamais procuraram a Justiça por se sentirem "ofendidos". E os sátiros, humoristas, cartunistas, continuaram publicando seus trabalhos sem serem importunados.

Seria bom se o comportamento do Secretário se espelhasse no dos presidentes. A crítica, mesmo quando em forma jocosa, é inerente à cidadania.

Partilho a tristeza de Gusmão, a quem ouso aconselhar o cumprimento imediato da decisão judicial acima, e lamento a impertinente impaciência do Secretário. Apesar de não ser juiz togado, gostaria que ele mostrasse mais complascência com o contraditório.

Cumpra-se.

domingo, 13 de março de 2011

Na prática a teoria é outra

Eu conheci uma artesã genial. Vou chamá-la de Dona Zefa, porque vou citá-la bastante aqui, mas não pedi permissão a ela para fazê-lo. Com isso, naturalmente, renuncio a qualquer pretensão científica deste texto. Fica como uma experiência compartilhada e uma reflexão pessoal.

Dona Zefa mora em algum local na rodovia Ilhéus-Itabuna. E vive de artesanato. Na loja montada próximo à sua residência ela vende as pequenas esculturas que consegue adquirir dos vizinhos, bem como alguns bordados que produz.

Dona Zefa trabalha na loja entre as 10 da manhã e as 5 da tarde sem descanso. O almoço, numa marmita, é consumido ali mesmo. Depois das 5 da tarde, até aproximadamente a meia-noite, ela trabalha em casa. Preparando os bordados.

Dona Zefa ganha aproximadamente 400 reais por mês. O dobro disso, na época de alta estação.

Um amigo de Dona Zefa, o “Seo” Alceu, é agricultor. Agricultura familiar, pelo que consta. “Seo” Alceu trabalha das 7 da manhã às 6 da tarde, e almoça nas mesmas condições de Dona Zefa.

“Seo” Alceu vende, através dos filhos, a sua produção na beira da rodovia, e ainda manda uma parte para um feirante de Itabuna. Consegue receber 600 reais por mês, em média.

Dona Zefa e “Seo” Alceu me fazem pensar sobre modelos de desenvolvimento econômico. Ouço alguns professores, da UESC e de outras universidades, defendendo modelos de desenvolvimento econômico baseados em atividades como agricultura familiar e atividades artesanais de interesse do Turismo. Atividades que, segundo suas teses, são as que devem ser fomentadas pelas políticas públicas, já que trariam dignidade às pessoas da região Sul da Bahia.

Ganhando de 400 a 800 reais por mês, a troco de 12 a 14 horas de trabalho diário.

Acho difícil advogar um modelo que multiplica as Donas Zefas e os “Seos” Alceus. Parece a perpetuação da pobreza.

Fico me perguntando se os professores e demais acadêmicos que defendem essas teses trocariam de lugar com Dona Zefa. Se eles trocariam seu trabalho em salas de aulas e laboratórios pelo dia de sol de “Seo”Alceu. Se trocariam sua internet, TV a cabo, ar condicionado, automóvel, viagens de fim de ano, restaurantes, pela vida de Dona Zefa. Se trocariam seu salário pelos incertos 600 reais de “Seo”Alceu.

Ah! “Seo” Alceu e Dona Zefa trocariam imediatamente sua condição de vida com a de um acadêmico, caso a oportunidade aparecesse.

Há um argumento difuso que parece sugerir que o discurso esquerdista, socialista, é o discurso de favorecimento desse tipo de atividade. Se for, então é a proposta concreta do voto Franciscano de pobreza. Uma crueldade. Pessoalmente não creio. Acho que o discurso concreto de esquerda passa pelo fortalecimento da classe trabalhadora frente ao poder do Capital. Uma luta que, esta sim, congregaria acadêmicos, artesãos, agricultores e todos os demais trabalhadores.

É por isso que fico refletindo, imaginando como tantas vezes os discursos bucólicos que propõem o fortalecimento da dignidade humana e da vida em comunhão com o Meio Ambiente acabam derivando para modelos geradores de miséria, pobreza e má distribuição de renda. Nada contra vivermos em comunhão com a natureza. Tampouco contra a autonomia dos pequenos trabalhadores. Mas tudo isso tem que ser posto e observado na perspectiva correta. Senão corremos o risco de idealizar a pobreza (a dos outros) e acabarmos entrincheirados do lado errado da Luta de classes.

Porque na prática, a teoria é outra.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Concordância Agressiva

Há uma expressão em inglês para referir-se a pessoas que discutem apaixonadamente sobre um certo tema sendo que, na essência de seus argumentos, estão na verdade concordando. Chamam isso de Agressive Agreement, ou Concordância Agressiva (tradução minha).

Uma postagem (aqui) dava conta de uma cobrança da empresa de mineração que construirá um terminal portuário em Ilhéus. O autor basicamente propunha que a comunidade cobrasse desta empresa o máximo possível de contrapartidas, já que as que estão postas seriam consideradas insuficientes.

É fácil perceber que nesta ou em qualquer outra negociação a contrapartida buscada pelas partes deve ser a maior possível. É a busca pela maximização do ganho, conforme descrita na Teoria dos Jogos, que foi discutida pelo matemático americano John Nash (aqui).

Efetivamente não dá para discordar disso. Quanto mais esta região puder ganhar da empresa de mineração, melhor.

Da mesma forma, não é meramente pelo número de empregos diretos, tampouco simplesmente pelo impacto ambiental que se pode medir o tamanho da contrapartida recebida. Aliás, considerando a informação passada (aqui) dando conta que a empresa de mineração estaria dispondo de 80 hectares em troca de recuperar e manter livres da degradação 120 hectares de mata, uma diferença de 50% em favor da preservação, parece que a conta é até bastante favorável.

Em nenhum momento houve uma discordância neste debate. Um lado defende que a contrapartida deve ser tão grande quanto possível, e que se busque exaustivamente este objetivo. É fácil de concordar com esta Tese. O outro defende que efetivamente há contrapartidas, o que também é verdade. Mas isto não invalida a primeira afirmação.

Um não contradisse o outro. Não houve embate de idéias. São linhas de pensamento complementares que se encadeiam.

Às vezes as pessoas são tão apaixonadas por suas convicções que até concordam, mas permanecem debatendo sem perceber.

Concordância agressiva.

terça-feira, 8 de março de 2011

Mulher



Para entender uma mulher
é preciso mais que deitar-se com ela…
Há de se ter mais sonhos e cartas na mesa
que se possa prever nossa vã pretensão…

Para possuir uma mulher
é preciso mais do que fazê-la sentir-se em êxtase
numa cama, em uma seda, com toda viril possibilidade…
Há de se conseguir
fazê-la sorrir antes do próximo encontro

Para conhecer uma mulher, mais que em seu orgasmo, tem de ser mais que amante perfeito…
Há de se ter o jeito certo ao sair,
e
fazer da saudade e das lembranças, todo sorriso…

O potente, o amante, o homem viril, são homens bons…
bons homens de
abraços e passos firmes…
bons homens pra se contar histórias…
Há, porém, o homem certo, de todo
instante: O de depois!

Para conquistar uma mulher,
mais que ser este amante, há de se querer o amanhã,
e depois do amor um silêncio de cumplicidade…
e mostrar que o que se quis é menor do que o que não se deve perder.

É esperar amanhecer, e nem lembrar do relógio ou café…
Há que ser mulher,
por um triz e, então, ser feliz!

Para amar uma mulher, mais que entendê-la, mais que conhecê-la, mais que possuí-la,
é preciso honrar a obra de Deus, e merecer um sorriso escondido,
e também
ser possuído e, ainda assim, também ser viril…

Para amar uma mulher, mais que tentar conquistá-la, há de ser conquistado…
todo tomado e, com um pouco de sorte, também ser amado!


Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 7 de março de 2011

Carnaval

Na postagem passada eu comentei que uma infecção pelo vírus da Dengue e a ausência de uma conexão Velox atrasara em boa monta as tarefas que costumeiras.

Eu estava comemorando haver superado os dois obstáculos. Mas na verdade apenas um deles, a Dengue, havia sido superado. Ainda estou aguardando a Oi me permitir o direito de usar uma conexão Velox para que eu possa voltar a estabelecer meu ambiente computacional caseiro, e ter minha produtividade acadêmica, profissional e pessoal inteiramente restaurada.

Por ora vamos usando conexões 3G emprestadas de amigos.

Carnaval.

Ao contrário do que muita gente pensa, quando me vê ranzinza com o barulho excessivo e crítico ácido da qualidade da música baiana de hoje, a verdade é que eu gosto muito de Carnaval.

Não gosto de música alta, e acho um absurdo criminoso o abuso de algumas pessoas, que impõem sua excrecência musical aos ouvidos alheios. Bares, automóveis, residências. Meu ouvido não é penico (leiam aqui).

E também ainda acho lamentável a qualidade deplorável que alcança, a cada ano, a música decadente da Bahia (leia aqui).

Mas eu adoro Carnaval. Quase tanto quanto gosto do São João.

Gosto das marchinhas, das fantasias e da inocência (aparente) dos bailes de outrora. Gosto também dos blocos de Trio Elétrico, e de ser folião "pipoca" em Salvador. Imagino como deve ser emocionante curtir as ruas de Olindda. E Ouro Preto, e o Rio de Janeiro (os bailes, os blocos, o Sambódromo), e cada festa pelo Brasil afora.

Folião fanático, frequentei o Carnaval em Salvador por quase uma década seguida, entre 1992 e 2000. Corria atrás dos Trios na Av. 7 de Setembro e na Carlos Gomes, bem como no circuito Barra-Ondina. Bloscos afro, índios, a Mudança do Garcia e os meus preferidos: Filhos de Ghandi.



Mas hoje em dia sou pai de uma Princesa, e com outro rebento prestes a chegar. Conto com muitos anos e muitos quilos a mais do que tinha naquela época (cabelo e paciência de menos).

Meu Carnaval mudou.

Agora ele tem mais tranquilidade, menos barulho, mais descanso, menos agitação, mais lazer, menos viagens, mais música, menos barulho. Não é melhor nem pior. A Alegria e o prazer de curtir a festa permanecem inalteados. Apenas diferentes.

Feliz Carnaval para todos.

sexta-feira, 4 de março de 2011

De volta

Estive ausente por esses dias, enquanto esperava a regularização da conexão Velox em meu novo endereço.

Uma mudança precedida por uma infecção por Dengue atrasa bastante a vida da gente.

Agora consegui.

E ontem tive uma grata surpresa. Fui a um rodízio (na verdade é um bufê) de sushi aqui em Ilhéus. Que eu me lembre, desde o triste falecimento do Boca Du Mar que não havia um rodízio de sushi na cidade.

Gostei muito. Recomendo a todos os apreciadores da culinária japonesa. Teria algumas sugestões, pois senti falta do sashimi de lula e de agulhão, e principalmente de um bom saquê.

Mas reitero a minha recomendação a todos. O ambiente é este aí embaixo.



O endereço? Lá na pousada Praia Bela, que fica no Km 2,5 da rodovia Ilhéus-Olivença.

Bom apetite!