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terça-feira, 13 de março de 2012

Paciente não é Cliente

Certa vez uma pessoinha muito, muito cara para mim esteve internada. Uma infecção hospitalar a pôs por três semanas num quarto de uma clínica, parte desse tempo entre a vida e a morte. Felizmente, e graças à Ciência, ela acabou sendo salva por antibióticos avançados, bem como pela competência de médicos, enfermeiros, fisioterapeutas.

A despesa foi bastante alta, o que é irrelevante, posto que não há preço possível para se medir o quanto valeu vê-la recuperada. Não é mensurável em nenhuma moeda, vale mais que qualquer patrimônio.

Desde há muito se observa que os governos são exortados a conter gastos, e aplicar recursos apenas no que é estratégico. Isto conduz a uma conclusão óbvia: precisamos aumentar os gastos com a saúde no Brasil. Se for necessário, que se aumentem os impostos, mas precisamos investir mais.

Muito mais.

Precisamos gastar muito mais dinheiro em equipamentos, medicamentos, instalações e, muito particularmente, com as pessoas: Enfermeiros, Fisioterapeutas, Médicos, Nutricionistas, Odontólogos, Psicólogos. Todos estes profissionais precisam ser muito bem remunerados.

Não há nada mais estratégico do que a saúde e o bem estar das pessoas.

Estas pessoas que trabalham na Saúde merecem uma remuneração à altura da importância e da responsabilidade de suas atribuições, e é justo que busquem isso. O problema é que tipicamente esses profissionais só conseguem alguma remuneração razoável quando se associam a planos de saúde ou conseguem se estabelecer fazendo atendimentos particulares.

Inegavelmente merecida, a remuneração jamais deveria vir do paciente
E é aí que está um grande e perigosíssimo equívoco.

Quem promove a Saúde merece receber muito bem, mas deveria trabalhar única e exclusivamente para o Estado. Sim, o pagamento de seus salários vai custar caro, e este é um problema de toda a sociedade, já que todos devemos assumir a missão de remunerá-los de acordo, e fazer isso sem economias é de interesse Estratégico.

Ou isso ou se rasga o juramento de Hipócrates.

Porque quando se permite uma relação em que uma pessoa paga pelos serviços de saúde, se estabelece, ainda que se esforcem todos para manter princípios éticos e morais, uma relação essencialmente comercial. Ocorre que em relações comerciais um cliente e um fornecedor negociam um produto, e o cliente receberá o produto em quantidade e qualidade proporcional à sua capacidade de pagamento. É simplesmente a lei de mercado, tal como predita por Adam Smith.

Porém, do ponto de vista do paciente, não há como se valorar a saúde, a convalescença, o bem estar. Ter a companhia daquela pessoinha de novo é algo que transcende qualquer valor financeiro. Estas coisas não são precificáveis. Desta forma, quando se cria uma relação comercial, e se vende saúde, gera-se uma negociação injusta, já que um dos lados não tem poder de barganha.

Não deveria caber isso no provimento da saúde. Os profissionais merecem o mais profundo respeito de todos, a começar pela sua remuneração. Mas jamais devem receber das pessoas que tratam.

Paciente não é cliente.

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