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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O argumento que morreu

Durante os anos 90, particularmente entre 1998 e 2000, circulou fortemente nos meios políticos e editoriais o discurso de que, para aumentar a formalização, só com diminuição da carga tributária e de direitos dos empregados.

Chamaram isso de “flexibilização das leis trabalhistas”.

Que, na prática, resultaria em perda de direitos por parte dos trabalhadores.

De acordo com o discurso da época, essa era a única forma de o Brasil voltar a gerar empregos formais. Ou era isso, a “flexibilização”, ou seria o desemprego crescente e desgovernado que vivíamos naqueles anos.

Os trabalhadores estavam sendo empurrados para uma verdadeira sinuca de bico. Ou mantinham a bandeira dos direitos trabalhistas, da CLT, ou partiam para a linha pragmática, para a “negociação” com os patrões, verdadeiramente para a concessão de parte de seus direitos.

Na pauta da “flexibilização” estavam as férias, o 13º salário, o FGTS, a aposentadoria. As perspectivas eram deveras pessimistas.

Mas os anos foram passando. E veio o último governo, mudando muito da orientação vigente.

Nestes últimos 8 anos não houve nenhuma flexibilização. Férias, 13º salário, FGTS, tudo continuou sendo mantido pela legislação, e vigiado pela Justiça, pelo Governo e pelos sindicatos.

Mas algo, sem dúvidas, mudou. Porque apesar de todas essas garantias serem mantidas, o nível de emprego formal cresceu no Brasil. Cresceu muito, aliás. Segundo dados do IBGE (leia aqui) “o número de trabalhadores com carteira assinada aumentou 38,7%, enquanto população ocupada cresceu 18,9%”.

Nos anos do governo Lula o número de postos de trabalho cresceu quase 20%. Mais ainda, o número de vagas com carteira assinada cresceu mais que o dobro disso. A conclusão? Os trabalhadores não precisavam pagar por isso com seus direitos, afinal.

Isso tudo esvaziou o discurso da flexibilização. Hoje não há mais quem, em sã consciência, proponha isso. Porque os resultados da economia provaram que a flexibilização, que na verdade resultaria na perda de direitos por parte dos trabalhadores, é absolutamente desnecessária. Puro casuísmo. O Brasil cresceu, gerou empregos, a maioria com carteira assinada. E os trabalhadores não precisaram sacrificar seus direitos por isso. Que bom que foi assim.

Este argumento, felizmente, está morto e enterrado.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O mundo de Wozniak

Steve Wozniak, cofundador da Apple, acredita que “0 computador se tornará o melhor amigo das pessoas”. A matéria pode ser lida aqui.

Steve aponta um futuro em que os computadores estarão tão próximos de compreender e interagir naturalmente com os humanos que o mundo das pessoas se tornará indissociável do das máquinas. Steve espera que essa proximidade seja tão alta que chegará um dia em que haverá “um tipo de computador que, quando um aluno for para a escola, ele quer ficar com aquele computador como se fosse seu melhor amigo, que sabe tudo sobre ele, seus sentimentos, crenças e filosofias, mais do que um professor humano”.

Há questões de ordem filosófica, psicológica e sociológica embutidas nesta visão que Wozniak mostra. Questões importantes, que merecem o debate e a reflexão de todos.

Mas pessoalmente tenho uma reserva particular a esta hipótese; de ordem científica. Steve propõe que os algoritmos de reconhecimento de voz e imagens sejam tão evoluídos que um computador “poderá olhar no meu rosto e dizer se estou cansado”.

De meu modesto ponto de vista ele está falando de vários desafios diferentes, e misturando tudo numa salada um tanto quanto difícil de deglutir.

Por um lado ele aponta a iminente aposentadoria (parcial) do mouse e do teclado como elemento de interação homem-máquina. Estes passos estão efetivamente sendo dados pela Indústria, e os exemplos das novas formas de interação não param de surgir.

Todavia, a sofisticação dos algoritmos necessários para desenvolvermos esta máquina “melhor amigo” depende de uma série de fatores científicos totalmente em aberto, e que nada tem a ver com os dispositivos de interface, que em última análise se ocupam apenas das tarefas de entrada e saída de dados.

Caminhando na direção dessa máquina quase humana, esbarraramos inexoravelmente no famoso teste de Turing (aqui). Um problema cuja solução permanece em aberto ao longo das décadas, mesmo quando desconsideramos as limitações de hardware. O teste consiste em verificar a hipótese de haver um programa que possa interagir (conversar) com seres humanos de forma que estes últimos não consigam determinar se estão ou não falando com uma máquina. Este problema de ordem científica e filosófica foi explorado no filme Blade Runner (aqui).

Além disso, há mais problemas à vista. Os computadores, tal como os conhecemos, são comprovadamente incapazes de resolver alguns problemas que já foram formulados, como por exemplo o Problema da Parada (aqui). Steve não considera a hipótese, muito razoável aliás, de que nos deparemos com problemas desta natureza ao caminharmos na direção desta máquina “amiga do peito”.

Finalmente, considerando as especulações a respeito do fim da Lei de Moore (aqui), é forçoso considerar que talvez não consigamos evoluir muito significativamente no tocante à capacidade de processamento das nossas máquinas doravante. Ocorre que, ao mesmo tempo, todas as pesquisas de reconhecimento de linguagem natural apontam para algoritmos que demandam grandes capacidades de processamento.

Aliás, caso o fim da Lei de Moore realmente se verifique, então o todo desenvolvimento de programas sofrerá um duro golpe, tanto do ponto de vista científico - já que muitos programas simplesmente jamais poderiam ser implementados na prática, mais o fato de que a concepção dos algoritmos passaria a ser uma tarefa muito mais complexa e lenta – quanto do ponto de vista econômico, porque a evolução sucessiva das versões dos softwares se tornaria uma tarefa deveras custosa, e isso impactaria negativamente na atratividade do desenvolvimento de programas de computador como um negócio.

Dessa forma, por mais amedrontador ou auspicioso que seja o mundo proposto por Steve Wozniak, permanecem fortes os desafios científicos, tecnológicos e econômicos que nos separa dele.

Uma longa jornada. Que talvez jamais seja realizada.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Duas brasileiras entre as companhias áereas mais inseguras

Do Blog do Nassif (aqui)

O primeiro acidente da TAM, assim como o da Gol, foi uma tragédia. O segundo acidente da TAM foi criminoso. Era um avião com problemas técnicos, que deveria estar parado para manutenção. Mesmo assim foi de Porto Alegre para São Paulo com tanque cheio (para economizar ICMS), completamente lotado de passageiros, caracterizando sobrepeso (conforme post colocado na época por um especialista). Mesmo assim pousou em Congonhas, com sua pista curta, em um dia de chuva.

Em país sério, dava inquérito em cima da companhia e das autoridades aeronáuticas.



Por Nonato Amorim

Empresas brasileiras são as últimas em ranking mundial de segurança aérea. Lista é feita por um órgão conceituado no setor, cuja sede é em Hamburgo, na Alemanha. A TAM é a última da lista, que classifica as 60 maiores empresas aéreas do mundo conforme sua retrospectiva nos últimos 30 anos.

Em 2010, morreram mais pessoas em acidentes aéreos do que no ano anterior: foram 829 mortes contra as 766 registradas em 2009. No entanto, nenhum desses casos envolveu alguma das 60 maiores companhias aéreas do mundo.

Todos os anos, os dados são compilados e publicados pelo Jet Airliner Crash Data Evaluation Center, Jacdec, órgão com base em Hamburgo, Alemanha, que reúne informações relacionadas à segurança do setor. O ranking, obtido pela Deutsche Welle, considera o número de passageiros transportados por quilômetro, analisa os últimos 30 anos da aviação civil.

De baixo para cima

A brasileira TAM aparece em último lugar da lista, o mesmo posto de 2009. Segundo o registro da Jacdec, a empresa já registrou seis acidentes desde a sua criação, em 1980, que custaram a vida de 336 passageiros.

Questionada pela Deutsche Welle sobre a má posição no ranking, a TAM ressaltou sua preocupação em seguir os altos padrões de segurança do mundo, "atendendo rigorosamente os regulamentos das autoridades brasileiras e internacionais".

Além disso, lembrou que em janeiro de 2010 a TAM renovou a certificação IOSA (IATA Operational Safety Audit), que é o sistema independente de avaliação "mais completo e aceito internacionalmente em segurança operacional", destinado a avaliar os sistemas de gestão e controles operacionais de companhias aéreas.

Outra companhia aérea do Brasil entre os últimos colocados é a Gol, fundada em 2001. Em 2009, a empresa era a penúltima colocada, e na edição atual subiu uma posição, trocando de lugar com a China Airlines. Também a Saudi Arabian e a Garuda Indonesia estão classificadas entre as cinco últimas.

Feito notável

O destaque do ranking de 2010 vai para sete companhias que nos últimos 30 anos não registraram acidentes graves, que tenham envolvido a perda de aeronaves ou mortes. Entre elas estão a alemã Air Berlin, fundada em 1979, a finlandesa Finnair, de 1923, e a portuguesa TAP, de 1946.

A australiana Qantas, a Air New Zealand, a Cathay Pacific (Hong Kong) e a japonesa All Nipon também compõem o seleto grupo. O incidente registrado em 2010 com o Airbus A380 da Qantas, no entanto, não tirou pontos da empresa porque o avião não sofreu perda total. Na ocasião, aeronave teve que fazer um pouso forçado em Cingapura depois da explosão, em pleno voo, de uma de suas turbinas.

A gigante Emirates obteve também a nota máxima no ranking da Jacdec, ficando em 9º. No entanto, a companhia dos Emirados Árabes ainda não completou 30 anos – foi fundada em 1985.

A Lufthansa, maior empresa alemã do setor e segunda maior do mundo em números de passageiros transportados por quilômetro (atrás da Emirates) caiu uma posição, para o 21º lugar. O último acidente aéreo da Lufthansa foi em 1993, com um A320 em Varsóvia, devido ao mau tempo, com duas mortes.

Mudanças no ranking

Esta é a primeira vez que a Air New Zealand, fundada em 1940, figura entre as primeiras da lista (3ª). O acidente mais grave da companhia, registrado há mais de 30 anos, não é mais considerado na avaliação. Em novembro de 1979, um DC-10 colidiu na Antártica e causou a morte de 257 pessoas.

Entre as grandes companhias europeias, a British Airways está em 20º lugar, a holandesa KLM aparece em 23º, a Swiss é 29ª, a Alitália está em 37º, a Air France, em 41º, a Iberia, em 47º, e a Scandinavian Airlines, em 48º.

Autora: Nádia Pontes
Revisão: Roselaine Wandscheer

domingo, 16 de janeiro de 2011

Um pouco mais rápido

Para quem eventualmente não tenha a exata noção. Eu mesmo não tinha.

Veja o vídeo abaixo. São carros de corrida "mortais" (como diz Flavio Gomes). Eles estão contornando a famosa curva Eau Rouge em Spa-Francorchamps. Carros realmente rápidos.




Tenha paciência. Espere carregar antes de abrir o outro.

Aqui são os carros de Fórmula 1. Dá para entender porque é a principal categoria do automobilismo mundial.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Carlos Reutemann

Ele jamais foi campeão. Mas ficou para a história de maneira indelével. Para nós, brasileiros, a memória mais recente é do duelo pelo campeonato mundial em 1981, quando acabou derrotado por Nelson Piquet. Uma diferença de um ponto apenas.

Mas Carlos Reutemann fez muito mais. Apenas não conseguia estar no lugar certo na hora certa.

Lole, como era conhecido, estreou fazendo Pole Position em 1972. Não coneguiu um grande desempenho, mas dois anos depois já vencia corridas e disputava o campeonato mundial a bordo de um Brabham.

Em 1976 o pavoroso acidente com Niki Lauda abriu uma vaga na Ferrari, por algumas corridas. Reutemann acabou sendo o escolhido do Comendador. E, em 1977, com a ida de Lauda para a Brabham, juntava-se oficialmente a Clay Regazzoni formando a dupla do time de Maranelo. Esteve na Ferrari até 1978, desta feita dividindo a equipe com Gilles Villeneuve. Naquele ano, viu o desfile dos carros negros da Lotus, que fizeram campeão e vice.

Reutemann gozava de muita consideração por parte dos dirigentes. Tanto que, em 1979, aceita um convite de Colin Chapman e deixa a Ferrari para compor a equipe Lotus. Os carros que até então dominavam a Fórmula 1. Uma chance de ouro. Imperdível.

Ou não.

O destino mostra, em 1979, uma impressionante inversão: a improvável queda da Lotus, para onde Lole se mudara, e a impressionante ascenção da Ferrari, de onde Lole saíra. Definitivamente Reutemann só conseguia estar no lugar certo quando a hora era errada.

Segue para a Williams em 1980. Segundo piloto, comboiando Alan Jones que caminhava claudicante em direção ao título. Termina em terceiro, também atrás de Nélson Piquet, que guiava um Brabham, outra equipe onde Lole esteve. No ano seguinte, com mais competência que o australiano, Carlos se rebela e parte para o confronto contra o brasileiro. Na última corrida do ano, em Las Vegas, com um ponto de vantagem, consegue a Pole Position. Mas a corrida foi temerária. Reutemann tem muitos problemas e não marca pontos. Piquet, também sofrendo com seu Brabham, consegue um mero quinto lugar. O suficiente. Carlos vê o campeonato escapar por um mísero ponto.

Foi demais para o velho portenho. Hora de parar. Lole deixa a Williams, e a Fórmula 1.

O destino, porém, ainda tinha mais uma peça guardada para ele: em 1982 o campeão mundial acaba sendo Keke Rosberg. Que guiava uma Williams. Contratado junto à Fittipaldi, o finlandês ocupou a vaga de piloto principal da equipe inglesa. A mesma que deveria ser de Carlos Reutemann.

Abaixo uma pequena amostra. Lole, com a Williams em 1980, onde era o segundo piloto. Uma disputa e tanto contra Mário Andretti. Bons tempos.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Ao menos hoje, pense no Haiti

Peguei isso na Carta Capital (aqui).

Pensemos no Haiti. Rezemos pelo Haiti.

Ao menos hoje, pense no Haiti

Vitor Taveira 12 de janeiro de 2011 às 17:29h

Hoje é um dia especial. Hoje é um dia triste. Imagine uma missa de um ano de morte, não de uma, mas de mais de 250 mil pessoas. Pense no Haiti. Reze pelo Haiti. Faz um ano que nos sensibilizamos com a tragédia do terremoto. Agora esqueça a missa porque não estamos falando de um país como o nosso.

Então imagine uma cerimônia de vodú gigante, onde milhões de negros, todo um país, lamentam a perda de seus entes queridos. Se for difícil imaginar tal cerimônia, pense no que lhe venha à cabeça ao ouvir falar em vodú. Agora, num último delirio imagine oito milhoes de haitianos com agulhas nas mãos espetando bonecos. Pense em quem representariam os bonecos que eles amaldiçoam. Sentiu alguma espetada?

Eu senti. Eu sinto muito. Sinto culpa e quase um arrependimento por ter votado em Lula, por ter apoiado Dilma. Eu que sempre acreditei e ainda acredito na sensibilidade do nosso ex -presidente metalúrgico. Aí me lembro, meio desconfiado, do brilhante chanceler que foi Celso Amorim e fico buscando respostas, me indagando em silêncio. Até que me dá vontade de gritar.

Acho que hoje deve ser um dia de profundo silêncio no Haiti, um silêncio de dor, de desconsolo e, espero, de uma ponta de esperança. A solidariedade é mãe da esperança. Poderia, com certeza, dizer que o mundo deu uma lição de solidariedade no Haiti, mas eu ousaria dizer que foi o Haiti quem nos deu uma lição, pois com sua tragédia nos fez abrir os olhos e o coração. Olhar para eles foi olhar para dentro de nós mesmos e descobrir que a pior das tragédias é nossa própria miséria espiritual. Os haitianos ensinaram sobretudo a si mesmos o que é solidariedade. Não foi preciso aulas ou campanhas diante do desespero, a solidariedade se deu espontaneamente. Depois que a terra tremeu, quem salvava os haitianos dos escombros eram seus próprios compatriotas. A ajuda internacional não era suficiente e muitos órgãos internacionais se preocuparam inicialmente com as vítimas estrangeiras.

Ver seu país sacudido, revirado, seus entes queridos mortos ou feridos, gente vagando pelas ruas sem saber onde ir, o que fazer, o que comer. Essa gente ainda precisa aprender o que é solidariedade? O Haiti precisa de esperança e para isso a solidariedade tem que ser mãe e não madrasta. Enquanto as tropas militares e as multinacionais estiverem atuando com toda força e explorando o país com tantos interesses alheios, vai ser difícil construir uma nação. Uma boa mãe tem que ensinar o filho a andar. O Haiti precisa caminhar sozinho e não com muletas eternas. Só quando a esperança conhecer a soberania poderiam nascer netos da solidariedade, que chamaríamos liberdade e auto-determinaçao.

Mas a solidariedade parece que está envelhecendo no Haiti e tenho medo que fique para titia. O que estão fazendo com nossa solidariedade? Será que não está sendo “lucrativo” para algumas Ongs a tragédia haitiana? Juro que não sei, estou apenas perguntando. E a missão da ONU (Minustah) como pode ajudar esse país? A Minustah é uma “missão de paz” que vai completar sete anos em 2011. Até entendo a necessidade de intervenção internacional em momentos de crise, mas passaram-se cinco anos, de 2004 a 2009, e as tropas não conseguiram resultados realmente significativos para os problemas do país. E segue até hoje sem previsão para acabar. Para piorar, em 2010 veio o terremoto, agora veio a cólera.

Em meio a uma epidemia da doença houveram eleições no país e logo virá a decisão final no segundo turno. As acusações de fraude são muitas, a dificuldade em cadastrar os votantes é um entre tantos outros problemas. E o pior é que parece o povo haitiano não se sente representado e não acredita realmente nos candidatos que se apresentaram. E que difícil reconstruir um país envolto numa situação tão crítica na ausência de grandes líderes! Tampouco haviam líderes quando veio o terremoto, a atuação do presidente René Preval foi pífia. Mas o povo fez o possível e fez a diferença. Não seria hora de pensar numa reconstrução do Haiti vinda de baixo, de sua gente, suas crenças, tradições e saberes?

Fiquei tao orgulhoso de ser brasileiro ao saber que a o MST e a Via Campesina trouxeram ao Brasil em setembro do ano passado mais de 70 jovens haitianos que fazem um intercâmbio com a duração de ano, sendo capacitados sobre produção agrícola para poderem contribuir com esses conhecimentos quando voltarem a seus países. Não se constrói futuro só com esmolas, nem com doações, temos que pensar além. Claro que há urgências, estamos falando de vidas perdidas diariamente por faltas de condições básicas de saúde e higiene. E nisso se destacam a atuação solidária de organizações como Médicos Sem Fronteiras e dos mais de 800 médicos cubanos enviados pelo governo ao país. Li um artigo dizendo que Cuba humilhava o mundo ao enviar esses médicos, por pura solidariedade. Sinto-me humilhado. Podem dizer que o regime cubano envelheceu mas a solidariedade que ele exporta é jovem e fértil.

Queria ver médicos, engenheiros, bombeiros e outros profissionais levando a bandeira e a solidariedade de meu país aos irmãos haitianos. Mas nas fotos só vejo brasileiros fardados, de capacetes azuis e metralhadoras nas mãos. Espero não ser o único cujo conceito de solidariedade, não combina com essa imagem.

Hoje é um dia especial e hoje eu preferia ser cubano. Queria refletir com serenidade e pensar em meus irmãos haitianos, acreditar que com nossa solidariedade se pode fazer nascer esperança. Mas eu sou brasileiro. E hoje me dói muito. Hoje me dói mais que ontem porque é um dia especial. Talvez amanhã doa um pouco menos. Mas não vai passar. Queria fazer um minuto de silêncio, mas novamente tenho vontade de gritar. Pense no Haiti. Grite pelo Haiti.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Arte Moderna

Heitor Villa-Lobos (Bachianas, Aria 4) + Cândido Portinari (Série Retirantes).

Uma belíssima compilação de Victor Rodrigues.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Sobrenome de campeão.

Bruno Senna está praticamente fora da Fórmula 1. Pode acontecer uma reviravolta, mas a situação do brasileiro é complicada (leiam aqui).



Ocorre com ele a mesma "maldição" que aconteceu com o jovem Piquet, o filho. E já havia acontecido com Christian Fittipaldi. Todos herdeiros dos sobrenomes mais "nobres" do automobilismo brasileiro.

É que a vida de um herdeiro não é fácil mesmo. Porque o sobrenome abre muitas portas - o dinheiro que o antecessor eventualmente tenha amealhado ao longo da carreira também - mas ao sentar num cockpit de um time de Fórmula 1 a conversa muda radicalmente.

Primeiro porque nas categorias anteriores a quantidade de recursos financeiros e técnicos necessária para se ter um carro competitivo é facilmente coberta pelos contatos e pelo patrimônio da família. Piquet Jr. por exemplo, correu em uma equipe montada pelo Pai até a derradeira porta antes da Fórmula 1, a Gp2. Era um time muito bem estruturado, financeira e tecnicamente, para os padrões da categoria. E, principalmente, uma equipe que tinha em Piquet o principal piloto do time.

O segundo motivo é que a qualidade que é requerida de um piloto de Fórmula 1 para ser um vencedor está ordens de grandeza à frente do que é requerido nas demais categorias. Os vencedores na Fórmula 3, GP3, GP2, Fórmula 2, etc. não necessariamente são bons o suficiente para a Fórmula 1. Aliás, normalmente não são. Perguntem a Senna, o Bruno, como foi difícil andar atrás do então desconhecido Karun Chandhock. Confirmem com Christian Fittipaldi como foi encarar e superar por pouco Gianni Morbidelli. E perguntem ao mais infeliz de todos eles, Piquet Jr., as desventuras que se sofre ao dividir a equipe com Fernando Alonso. Sobre isso Felipe Massa também pode falar.

O terceiro motivo é o mais cruel de todos: a comparação. Quando Christian, o mais bem sucedido dos três, sentou-se ao cockpit da Minardi, e depois da Arrows (depois Footwork), o que todos viram não era um mero estreante. Mas um "Fittipaldi". O mesmo se deu com Piquet, e com Senna. As cobranças da imprensa e do público não são exatamente as que se exige de um estreante. Cobra-se dos jovens que supram nossa orfandade. Queremos outro Fittipaldi, outro Piquet, outro Senna. O sobrenome, até aqui um ativo muito valioso, torna-se então uma grande maldição.

Daí que Bruno Senna parece estar fora. Vai procurar outra coisa para fazer, longe da Fórmula 1. Porque estar com o nome Senna nas últimas posições não é suficiente. Competir, como fez o Bruno, de forma apenas mediana, também não. Nada contra o piloto, que pouco mostrou, mas também pouca chance teve de mostrar qualquer qualidade. É que Bruno Senna, assim como Nélson Piquet Jr. e Christian Fittipaldi, carregam uma herança muito difícil.

Sobrenome de campeão.