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terça-feira, 29 de junho de 2010

A Crise de Seu Maneco

Essa história veio de um bom papo, com um bom amigo, meu irmãozinho Dínis lá de Picuí/PB.

Vamos imaginar que Seu Maneco tem um Boteco. Maneco é para rimar, e Boteco é para familiarizar a todos com o ramo de atividades de seu Maneco.

O negócio de Seu Maneco é simples de entender: um Boteco é o lugar onde se vende cachaça aos bebuns.

Uma dose de cachaça custa 1 real lá no Boteco do Maneco. Mas ocorre que nem todos os clientes estão convenientemente prevenidos quando se lhes acomete a Sede. Daí que Seu Maneco tem um caderninho, onde ele registra as dívidas de sua clientela. Por via das dúvidas, Seu Maneco cobra 1 real e 50 centavos de cada dose que ele pendura no caderninho. Isto posto, o valor total que há no Caderninho é de 600 reais, embora se refira a 400 doses de Destilado.

Aí uma cidadã, chamemo-na de Bianca, pois em Francês banco é feminino, e aí ainda conseguiríamos seguir rimando, aparece no Boteco do Maneco. Bianca é bastante esperta, e vê logo que ali no Caderninho há um “Ativo não Realizado”.

Paciente, Bianca explica a seu Maneco que há um risco inerente aos Ativos não Realizados, já que a adimplência dos alcoólatras não é grande coisa, e consegue que Seu Maneco venda seu caderninho a ela por 500 reais.

De posse do Caderninho, a primeira coisa que ela faz é mudar o nome dele. Não é muito vantajoso se negociar o “Caderno do Boteco do Maneco”. Uma nova capa, e ele agora se chama FERRO: Fundo Estratégico de Recebíveis Rotativos Operacionais. E aí Bianca mete esse FERRO no Mercado, com uma conveniente margem de lucro.

Bianca divide o FERRO em 300 cotas de 2 reais e oferece às pessoas. Acaba faturando 600 reais, pelo caderninho que lhe custou 500.

Depois que muitas pessoas levam suas cotas de FERRO a 2 reais, e ainda continuam procurando, acontece de alguém topar vender a sua. Mas apenas por 2 reais e 50 centavos.

Sabendo que estão negociando as cotas de FERRO a 2 reais e 50 centavos, as pessoas percebem que o valor de FERRO está subindo, e passam a desejar mais esse ativo. E em breve as pessoas começam a levar uma cota de FERRO por 3, 4, 5, 7, 10 reais.

O tempo passa, todos ficam felizes, porque compram por um valor e vendem por valor superior.

A roda vai girando, e a crença de que levar FERRO é um ótimo investimento aumenta. Já se leva FERRO por mais de 100 reais a cota. O Caderninho de Seu Maneco se transformou em um fundo coletivo – mantido por muitas pessoas – de valor aproximadamente igual a 40 mil reais. Negócio da China, não?

Sim. Até o dia em que alguém se apercebe de que FERRO não passa de um caderninho de assinaturas de bebuns. Soa um alarme, e então todo mundo quer vender suas cotas de FERRO, já que ninguém quer confiar seu investimento em promessa de cachaceiro. Oferecem a cota por 90, 80, 60 reais, torcendo para que alguém compre. A descida do valor é inexorável.

Uma cota de Ferro pode chegar a menos de 1 real rapidinho.

Em seguida os demais investimentos que Bianca oferece são todos postos sob suspeita, já que foi ela quem meteu FERRO em todo mundo. Assim, os preços dos demais investimentos de Bianca começam a cair também.

Ocorre que muitos dos investimentos oferecidos por Bianca estão nas mãos de colegas que também vendem pacotes semelhantes. Dessa forma, a desconfiança se espalha para todo lado. Todo mundo quer vender tudo. Isso é o que se chama de “pânico dos mercados”.

E assim se instala uma crise financeira internacional: tudo culpa de Seu Maneco.

domingo, 27 de junho de 2010

A Politicalha "atravanca" a Copa 2014

Segundo Juca Kfouri, o motivo pelo qual São Paulo (o Morumbi) foi excluído da Copa 2014 foi puramente político (leia aqui).

Dá-se conta de que Ricardo Teixeira está se vingando do Senador Álvaro Dias (PSDB/PR) porque este teria sido o mentor e presidente da CPI do Futebol, em que aquele saiu com nada menos do que 13 indiciamentos.

Juca ainda aponta que a Arena da Baixada, em Curitiba, também será excluída, pelo mesmo motivo.

É a imensa força da política sobre tudo.

A força destrutiva da política. Aliás, da politicalha, como alerta Rui Barbosa (leia aqui), para que não a confundamos com politicagem.

Se isso é uma amostra da gestão para a Copa do Mundo do Brasil, então acho que devemos começar a temer pelo pior. Pois o pior não é a Copa ser um fracasso de organização, já que o mundo não espera mesmo que nós façamos nada primoroso.

O pior é manchar a organização do torneio com a marca indelével da corrupção e do jogo de interesses. Isso não faz uma Copa do Mundo desorganizada. Isso pode destruir a Copa do Mundo.

É a politicalha "atravancando" a Copa de 2014.

sábado, 26 de junho de 2010

Flavio Gomes: Tudo vale à Pena

Texto interessante sobre Fórmula 1, Regulamentos, Ultrapassagens.

A gente quer ver ultrapassagens, mas não quer que elas deixem de ser alguma coisa especial. Quem esquece das manobras de Villeneuve e Arnoux em Jarama, 1979? E Mansell X Senna em Jerez, 1886? E Piquet X Senna em Hungaroring no mesmo ano? E Senna X Prost (e vice versa) no Japão e em Portugal 1988? E Mansell X Senna em Barcelona, 1990? E Hakkinen X Schumacher em Spa, 2000?

O Original vem do Site Grande Prêmio, e pode ser lido aqui.

Tudo vale à Pena
Flavio Gomes

"E tome pacotão na F1. Pirelli de volta depois de 20 anos, proibição dos dutos frontais acionados por dentro do cockpit, adoção de asa traseira móvel, mas que só pode ser usada quando o piloto estiver menos de 1s atrás de quem quer ultrapassar, retorno do KERS, aumento do peso mínimo, volta da regra dos 107% para eliminar os mais lentos do grid...

Como sempre digo, pode-se acusar a F1 de tudo, menos de não tentar. Os dispositivos 'pró-ultrapassagens' são uma tentativa. O KERS era caro, mas já é algo que existe na indústria automobilística. Que se coloque de novo nos carros e pronto — embora o duto que a McLaren inventou seja algo bem mais engenhoso e barato; só que, para carro de rua, não serve para nada. O KERS é ecologicamente correto. É um dispositivo que aproveita energia desperdiçada. A isso se chama 'sustentabilidade' e é bonito de falar. Essas asas móveis, tudo bem. O que não é legal é deixar para agentes externos, os comissários e os sistemas eletrônicos de cronometragem, a 'autorização' de uso.

Mas é preciso dizer que inventar muita coisa para facilitar as ultrapassagens não é exatamente aquilo de que a F1 precisa agora. O fim do reabastecimento e a ousadia na escolha dos pneus para as corridas têm proporcionado boas provas neste ano. E, além do mais, ultrapassagem nunca foi algo tão abundante na categoria. Eu costumo comparar a F1 ao futebol, traçando um paralelo inteligentíssimo com a Indy e o basquete.

Na Indy, há ultrapassagens pacas. Nos ovais, então, é uma festa do caqui. Mas elas são tantas que ninguém se lembra de nenhuma em especial. É como no basquete, cuja pontuação é generosa, quase centenária. São dezenas e dezenas de cestas, é difícil registrar alguma na retina ou nos neurônios.

Já a F1 é como o futebol. A ultrapassagem é o gol. Difícil, construída com sangue, suor e lágrimas. Estudada, planejada, executada à perfeição. Futebol tem poucos gols, basquete tem muitas cestas. F1 tem poucas ultrapassagens, a Indy tem de cacetada. A gente se lembra de gols. E de grandes ultrapassagens na F1.

O importante é que as corridas sejam boas, bem disputadas, por pilotos de grande qualidade e com equipes de bom nível. Tem sido assim nesta temporada. Já escrevi outro dia que o lote de pilotos de 2010 é, talvez, o mais interessante desde os anos 90, com Hamilton, Button, Schumacher, Alonso, Kubica, Massa, Vettel, Rosberg, o tardio Webber, e mais uma turminha promissora dos times menores como Sutil, Buemi e Alguersuari.

E não se pode nunca desprezar o papel dos circuitos. As melhores provas têm acontecido, nos últimos anos, em pistas antigas, de 'personalidade', como se diz: Monza, Montreal, Interlagos, Suzuka, Spa. E também graças à chuva, que nestes tempos de clima enlouquecido é cada vez mais uma figura freqüente nos finais de semana de GP.

Em todo caso, os dirigentes vêm mexendo no regulamento todos os anos para melhorar as coisas, seja no técnico, seja no esportivo. A nova pontuação, por exemplo, deixou o Mundial mais aberto e generoso com quem luta para vencer. O próximo passo será modificar a natureza dos motores e o tamanho das rodas. Podem esperar para breve a volta dos motores turbo com menor cilindrada, mais econômicos e eficientes, a adoção de combustíveis alternativos e mudança nos pneus, hoje muito borrachudos e distantes daquilo que se usa na indústria.

Nada contra. Tudo vale a pena quando a alma não é pequena, dizia o poeta."

segunda-feira, 21 de junho de 2010

São João na Roça

Esse ano vou passar São João na Roça. Estarei com parentes e amigos, minha doce Rosa. Divertirei-me muito com minha Princesa, à beira da Fogueira.

Serão dias de ausência. O que eu poderia deixar?

Como presente uma pequena seleção do melhor do Forró e da Sanfona.

Um desejo muito sincero a todo Mundo: FELIZ SÃO JOÃO!

Olha pro Céu meu Amor - Gil, Marinês, Dominguinhos



Paraíba Masculina - Gonzagão



É Proibido Cochilar



Neném - Trio Nordestino



Tareco e Mariola - Flávio José



Sebastiana - Jackson do Pandeiro

Jackson fazia a métrica se curvar ao ritmo. É o domínio do espaço-tempo, como almejam os físicos de todo o planeta. Simplesmente ímpar!



Deixe a Tanga Voar - Gonzagão



Escadaria - Zé Calixto, o Rei dos 8 Baixos

Isso não é apenas uma música. É vestibular prá sanfoneiro.



Feira de Mangaio - Sivuca

Aqui não é mais o vestibular. É a avaliação do título de Pós Graduação em Forró, doutorado em Sanfona!

sábado, 19 de junho de 2010

Os Verdes não são mais Vermelhos

Blog é previsto para ser um lugar onde escrevemos como se num diário.

Pois bem. Aqui vai uma reflexão muito pessoal, e uma crítica ácida, mas muito pessoal também.

Que não seja tomada como propaganda eleitoral. Não é. Mas é propaganda partidária.

Propaganda negativa, infelizmente.

Nos anos 90 eu era partidário do Partido Verde. Quase me filiei. Apoiei Gabeira e Sirkis para presidente, e sempre estive aliado da causa ambiental - que entendia ser melhor defendida por aquele Partido.

Naturalmente que reservava-me o direito de discordar das direções do Partido, mas entendia que o interesse sempre foi o mais limpo: preservação da Natureza e a conseqüente preservação do Homem.

Isso tocava meu coração marxista. Eu sabia que a direção natural do PV, que infelizmente não amealhava votos o suficiente para se destacar, era apoiar as coligações de esquerda.

Daí que segui enamorado do Partido até muito recentemente.

Pois o PV posicionou-se em crítica ao governo Lula. O que eu achei muito coerente e válido. A crítica é um elemento imprescindivel numa democracia, e as que eram feitas pelo PV iam ao lado de minhas convicções.

Mas então as coisas começaram a se deteriorar.

Hoje o PV é um aliado do PSDB e do DEM (ex PFL). Leia aqui.

O PV criticar o governo Lula é bom. Mas o PV se posicionar à Direita, aliando-se aos grupos que administraram esse país à base de privatizações, sucateamento do estado, subserviência econômica internacional, criminalização de movimentos sociais, isso é simpesmente cuspir na própria História.

Desde então que não tenho mais a mesma simpatia pelo PV. Nem mesmo a ida da ex-ministra Marina Silva para o partido conseguiu minimamente resgatar a identidade real do partido que militava pelas causas sociais e ambientais.

O PV deu as costas ao Homem, às lutas sociais, aos anseios populares. Provavelmente dará ao Meio Ambiente também.

Por isso que eu não sou mais simpatizante do PV.

Os Verdes não são mais Vermelhos.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago

Foi-se o Mestre.

Mas não restaram as Trevas, já que ficou o Ensaio Sobre a Cegueira.

E não lamentemos sua ida, coisa d'As Intermitências da Morte.

"Se tens um coração de ferro, bom proveito!
O meu fizeram de carne e sangra todo dia!"
José Saramago

quinta-feira, 17 de junho de 2010

A Razão dos Ambientalistas

O grupo dos que são contrários ao Complexo Intermodal não consegue mostrar um motivo que seja minimamente razoável, pelo menos para mim, a fim de justificar o cancelamento do Projeto.

Aliás, para mim apenas não. A opinião pública da região já deixou claro que considera o Complexo um empreendimento importante, entre outras coisas porque o modelo econômico que rege Ilhéus e região é absolutamente perverso. Não há como se justificar o desejo de manter a economia da região baseada no Cacau e no Turismo. Não há como ser contrário à diversificação.

Mas há questionamentos que, apesar de não justificar o cancelamento do projeto, precisam ser convenientemente respondidos, explicados e debatidos. Por exemplo, num texto publicado no Blog do Gusmão (leia aqui), o Professor Rui Rocha - que defende a não instalação do Complexo - faz alguns questionamentos bastante razoáveis.

Não se pode ser maniqueísta numa questão como esta. Assim como não consigo entender porque para alguns a única solução seria não instalar o Complexo, também me foge o motivo pelo qual as pessoas temem em questionar.

Por exemplo eu, candidamente, gostaria de saber: quando será construído o novo Aeroporto?

O Governador já prometeu esse aeroporto inúmeras vezes, em inúmeras ocasiões diferentes. Mas ainda não se viu nada de concreto nessa direção. Já houve até audiências públicas para o Porto e para a Ferrovia. Porque nada se vê até agora a respeito do Aeroporto?

Ao mesmo tempo em que o novo aeroporto de Ilhéus não sai do papel - aliás, nem no papel entra - o aeroporto de Vitória da Conquista começa a ganhar corpo, e já está em vias de ser licitado (leia aqui).

É razoável que estranhemos a diferença da velocidade com que os dois aeroportos caminham em direção de se tornar realidade. É razoável cobrar uma explicação.

Afinal, perguntar não ofende.

terça-feira, 15 de junho de 2010

A Copa da Defesa

Esta Copa do Mundo está realmente muito feia.

Não ousaria dizer que o nível das equipes é fraco. Não acho que seja esse o caso. O Brasil, a Espanha e a Alemanha não são, definitivamente, equipes fracas.

Na mesma linha, equipes como a Argentina, Holanda, Inglaterra, e Itália também merecem o devido respeito. Não é um futebol ruim o desta Copa do Mundo.

É um futebol feio. Pelo menos no sentido da plasticidade, da vistosidade das partidas.

As equipes parecem excessivamente preocupadas em não tomar gol. Os treinadores, aparentemente, entendem que um gol é muito valioso. O gol do adversário, bem entendido. Portanto, não se deve correr o risco de permitir essa vantagem.

Há exceções. Equipes que buscam fazer placares mais favoráveis como a Alemanha, que conseguiu um escore elástico (para as atuais circunstâncias) contra a fraquíssima Austrália.

O Brasil também deve ser uma seleção que faz mais gols, a se ver o retrospecto da seleção, com mais de 100 gols marcados nos últimos 3 anos, com direito a goleadas sonoras sobre a Itália, a Argentina e Portugal.

A própria Argentina, por filosofia, e pelo talento de seus jogadores (pessoalmente eu acho que Los Hermanos possuem o melhor elenco da copa), além da Espanha. Somente dessas seleções se pode esperar muitos gols. Das demais só é razoável esperar o que temos visto até agora: 1x0 e 0x0. Em ocasiões felizes, um ou outro 2x0. E será só isso.

Esse fenômeno aconteceu também nas copas de 1986, onde apenas o Brasil, a Dinamarca e Maradona eram exceções, e 1990 onde apenas a Alemanha conseguia mostrar alguma eficiência ofensiva.

Em 1994 uma nova regra incentivou os treinadores a ir em busca da vitória, e consequentemente do gol: três pontos para o vencedor. Além disso, a proibição do recuo da bola com o pé para o goleiro forçou as equipes a saírem para o jogo com mais freqüência. Isso explica o porquê de nas copas de 1998, 2002 e 2006 o Gol ter sido uma companhia feliz e mais freqüente nas partidas.

Mas em 2010 os treinadores aparentemente voltaram a valorizar muito o gol do adversário. Isso torna as equipes mais fechadas, o espetáculo menos possível.

Há uma beleza sutil na eficiência que se alcança ao se buscar esse caminho. E é respeitoso que os treinadores façam o que estiver ao seu alcance para vencer, já que a Vitória é o verdadeiro Corolário do Esporte. Só que o espetáculo deixará um tanto a desejar.

Todavia, para nós, brasileiros, isso pode ser bom. O Brasil parece bem preparado para esse momento: se nosso setor ofensivo não parece particularmente talentoso, a quantidade de gols que nossa seleção canarinho marcou ao longo de sua preparação demonstra que o ataque definitivamente funciona. E a defesa é muito forte, o que diminui as perspectivas dos atacantes adversários.

Pode ser que não aconteça. Há sempre muitos entraves difíceis numa Copa do Mundo. Para piorar, desde 1982 não pegamos uma chave tão difícil. Naquela Copa, lembro bem, enfrentamos a fraquíssima Nova Zelândia. Mas a Escócia era um adversário bastante difícil. E a perigosíssima União Soviética, com o infernal Dasaev no Gol, quase não foi batida pelo fabuloso time de Telê Santana.

Agora temos uma Coréia do Norte que teoricamente não assusta. Mas Costa do Marfim e Portugal serão, seguramente, adversários muito competentes e traiçoeiros.

Trabalho duro pela frente.

Entretanto, a mim me parece que o Brasil está bem preparado para as atuais circunstâncias. Dunga possui uma filosofia de trabalho que é muito sintonizada com o paradigma desta Copa do Mundo, onde não tomar gols é o objetivo principal a ser perseguido. Se nada de anormal ocorrer, quem souber rezar melhor nessa cartilha vence o torneio.

A não ser que o Talento, esse delicioso canalha do imponderável, resolva aparecer para inverter a lógica e subverter as previsões, como Maradona fez em1986.

Tomara que não. Porque nessa Copa, ao contrário do que estamos acostumados, o Talento parece mais propenso a aparecer no campo de lá.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Uma postagem feliz

Essa postagem repetida abaixo é antiga. Julho de 2009. Mas é uma das que eu mais gosto de ter feito. Um alerta. Uma boa compilação de dados. Uma esperança.

O Ocaso de Uma Cidade


Retratos de um modelo econômico falido (Yves Marchand e Romain Meffre)


Uma reflexão baseada em documentação histórica e jornalística, imprescindível às pessoas de Ilhéus nesses dias difíceis: o que resta de uma cidade outrora rica depois de um processo de decadência economica? Onde pode acabar? Aos mais preocupados, recomenda-se calma. Não é o caso, pelo menos ainda, nem de Ilhéus nem de nenhuma cidade da Bahia ou do Brasil, embora Ilhéus vá voltar ao texto alguns parágrafos abaixo.

A cidade em questão é Detroit, nos Estados Unidos. Outrora conhecida como a “Capital do Automóvel”, o que é Detroit hoje?

Algumas informações.

Detroit é a área metropolitana mais degradada dos EUA. Uma volta por bairros residenciais no centro lembra muito Nova Orleans depois do Katrina - sendo que Detroit não foi varrida por um furacão. Há casas abandonadas por toda parte, e muitas foram ocupadas por viciados em crack. Segundo cálculos da prefeitura, são cerca de 44 mil casas vazias. Muitas foram depenadas por ladrões que vendem os destroços nos ferros-velhos.”. A matéria ainda relata que a prefeitura de Detroit hoje não tem dinheiro sequer para demolir as casas abandonadas. (leia aqui).

A taxa de pobreza, 28,5%, é a mais alta do país.” (leia aqui).

Nas duas últimas décadas perdeu 32% de sua população. A indústria automobilística encolheu tanto, em sua área, que a prefeitura ficou sem arrecadação de impostos suficiente para administrar os problemas que restaram. O número de assassinatos cresceu de 33 por 100 000 habitantes em 1970 para 59 por 100 000 em 1991. Detroit não conseguiu atrair novas empresas.” (leia aqui).

Em março foram 663.000 empregos a menos em quinze meses consecutivos.”. (leia aqui)

O caso de Detroit é impressionante. Já se fala no termo “Detroitificação” para se referir à degradação urbana (leia aqui).

A pergunta que se faz é: como uma das cidades mais ricas do mundo acabou chegando à situação atual, com os piores indicadores econômicos e sociais dos Estados Unidos?

Há mais algumas informações que ajudam a entender.

"Os sinais de fracasso do modelo econômico já estavam ali, mas ninguém queria ver.” (Leia aqui).

A situação de Detroit já vinha declinando há tempos, mas se agravou desde o ano passado. O primeiro grande golpe veio nos anos 70, com as crises do petróleo. As pessoas começaram a comprar mais carros japoneses, que estavam com uma qualidade melhor - antes tinham má fama - e gastavam menos combustível. Em 1980, veio outra recessão, que de novo derrubou a indústria.” (leia aqui).

Então o resumo da história recente de Detroit da conta de que se tratava de uma cidade muito rica, que baseava sua economia na indústria automobilística. Depois se começou a perceber sinais claros de que as coisas não estavam mais acontecendo como desejável: população decrescente, aumento do desemprego, piora dos indicadores de violência, fechamento de empresas, etc. Os sintomas estavam ali, muito claros. Bastava uma decisão estratégica, mudando os rumos da cidade. Detroit não precisava encontrar um ocaso tão triste.

Um pequeno mosaico com parte de um trabalho fotográfico dos franceses Yves Marchand e Romain Meffre que ilustra a decadência de Detroit pode ser visto acima. Ali retrata-se respectivamente uma casa, que já foi bonita, totalmente abandonada, um Teatro que há anos não tem mais como receber espetáculos, os restos de prédios onde outrora funcionaram empresas e escritórios e o saguão de um grande hotel que não funciona mais desde que os hóspedes pararam de aparecer. Tudo em ruínas, mas mostrando tudo o que aquela cidade já foi um dia. Hoje simplesmente não há como o poder público e os cidadãos que restaram garantir o mínimo funcionamento da estrutura urbana. É o retrato da “detroitificação”. Pode-se ver mais fotos aqui.

O fato concreto, porém, é que o processo que destruiu a “Capital do Automóvel” guarda semelhanças com o que se vê hoje na “Capital do Cacau”. Mas também guarda, felizmente, importantes diferenças.

Ilhéus também está apresentando, como aconteceu em Detroit, os sinais de sua decadência econômica: fechamento de empresas, aumento do desemprego, êxodo populacional, piora da violência e da miséria, incapacidade de investimento do poder público em função da queda da arrecadação.

Talvez estes sejam sinais preocupantes, sintomas percebidos nos primeiros anos do processo que pode leva-la à “detroitificação”. A pior parte é que esse processo não demora muito a ser concluído: basta ver que a riquíssima cidade americana levou menos de 30 anos para liquidar toda a sua imensa infra-estrutura econômica e social.

Mas é importante que se deixe claro: Ilhéus não é Detroit. Porque ao contrário da cidade americana, em que “Os sinais de fracasso do modelo econômico já estavam ali, mas ninguém queria ver” em Ilhéus há inúmeros alarmes disparando, pessoas e organismos alertando para o problema. Além disso, ao contrário do que aconteceu em Detroit, Ilhéus possui uma alternativa ao modelo econômico que se esgota. O Complexo Intermodal, em que pese todos os riscos que precisam ser evitados, considerados e compensados, efetivamente é uma chance concreta reverter esse processo. Isso parece estar ficando cada vez mais claro para governos, empresas e cidadãos. O caminho está traçado, e quiçá será trilhado.

Ilhéus não se “detroitificará”.

Vai estar sempre bem na foto.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Série Aberturas: The A Team

"Em 1972 um grupo de soldados foi condenado numa corte marcial por um crime que não cometeram. Esses homens escaparam de uma prisão de segurança máxima".

"Hoje atuam à margem do governo como mercenários".

"Se você tiver um problema, se ninguém mais puder ajudar e se você os puder encontrar, então talvez você consiga contratar o 'Time A'".

Em português ficou "Esquadrão Classe A". Passava no SBT. Sextas à noite. Uma das minhas companhias de adolescente.

Agora estão lançando um filme. E eu fico ansioso para assistir. Tomara que não seja como a SWAT. Este foi uma decepção.

Se for, então já sei o que fazer: chamar o "A-Team".

quarta-feira, 9 de junho de 2010

O Mito do Turismo

No calor dos debates a respeito da implantação do Complexo Intermodal, o argumento mais recorrente dos que se opõem coerentemente apontam o Turismo como a alternativa econômica principal para promover desenvolvimento sustentável na região ex-cacaueira. Aliás, o Turismo e o Cacau.

Sobre o Cacau já tive a oportunidade de discorrer (leiam aqui). Ilhéus perdeu, com as sucessivas crises da Lavoura, o posto de Celeiro Mundial da preciosa semente. Desde então os concorrentes ocuparam fatias cada vez maior do Mercado Internacional, que hoje é dominado por países da África e da Ásia. Da mesma forma, no próprio mercado nacional, o Pará já se prepara para tomar da Bahia o posto de principal estado produtor.

E o Turismo, apesar de ser uma atividade de importância indiscutível, também não demonstra fôlego para sustentar a economia da Região.

Esta indústria não tem promovido nenhum "desenvolvimento sustentável". Pelo contrário, é uma atividade com fortes aspectos sazonais e de concentração de renda.

Tradicionalmente a Indústria do Turismo se instala através de um processo bastante duro para as populações locais. Podemos definir, de maneira geral, este processo como sendo composto de “ondas” de transformação. Como segue.

A primeira “onda” vem com o interesse de pessoas em empreender atividades em uma região. Então estes grandes investidores adquirem terras dos nativos, normalmente a preço muito baixo, e começam seus empreendimentos. Tipicamente trata-se de hotéis e restaurantes, preferencialmente voltados para um público de poder aquisitivo mais alto, a fim de maximizar os lucros.

A segunda “onda” vem em seguida, pelo fato de que a região passa a ser freqüentada por pessoas de poder aquisitivo alto. Pessoas que podem pagar mais caro pelos bens básicos que necessitam. Isso eleva o preço de todos os produtos locais. Em localidades como essas, a Cesta Básica chega a ser mais de 50% mais cara do que nas capitais e principais cidades do Brasil. Afinal, como diz Fagner em sua música, “quem é rico mora na praia”.

A terceira e última “onda” vem com a total inviabilidade da permanência dos nativos na região. Como não são eles os donos dos empreendimentos, e tampouco são eles quem lucra com o Turismo que ali se instalou, sua renda não cresce na mesma proporção que o aumento dos custos proporcionados pela ocupação turística. Isto posto, aos nativos restam dois caminhos. O primeiro caminho é trabalhar nas vagas menos remuneradas que lhes são oferecidas e permanecer subempregados, ou mal-empregados, de algum empreendedor de fora. O segundo caminho é mais simples: a Porta da Rua. Os nativos vão-se embora, simplesmente expulsos de sua região pela atividade turística.

Exemplos de locais que experimentaram essas “ondas” não faltam pelo Brasil afora. Pipa, no Rio Grande do Norte, Porto de Galinhas, em Pernambuco, Jericoacoara no Ceará, Barra de São Miguel em Alagoas, Guarapari no Espírito Santo, Camboriú, em Santa Catarina. Na Bahia não é diferente: Itacaré, Morro de São Paulo, Porto Sauípe, até mesmo Porto Seguro. Em todas essas belas praias o Turismo se estabeleceu da maneira predatória que lhe tem sido peculiar. Em todos esses lugares os negócios são tocados por empreendedores de fora, e os nativos que não foram expulsos permanecem ali como meros subempregados.

O passo seguinte é fácil de prever: surgimento de bolsões de pobreza, com os conseqüentes aumentos dos índices de violência, desemprego, desorganização social, ocupação imprópria dos espaços. Verdadeira e silenciosa degradação do Homem e do Meio Ambiente.

Também é importante desmascarar o Mito do turismo como atividade que promove desenvolvimento com distribuição de renda. Os dados não sustentam esta hipótese. Segundo o IPEA, a quantidade de ocupações formais (empregos com carteira assinada) do turismo cresceu, em média, pífios 4% ao ano entre 2003 e 2006, os anos dourados de desenvolvimento econômico, anteriores à Crise Mundial. Ainda segundo o IPEA, há uma perversa relação de aproximadamente três (2,94) empregados informais para cada empregado formal no Nordeste – realidade provavelmente similar à de Ilhéus, sendo esta uma cidade Nordestina. Por empregos informais é fácil inferir do que se trata: subempregos ou empregos temporários em função da sazonalidade típica da atividade turística.

O relatório do IPEA pode ser lido aqui.

Tudo isso explica o porquê de, a cada ano, 22800 novos profissionais se formarem em cursos superiores da área de turismo pelas 570 instituições que oferecem graduação nesse campo no país, mas simplesmente não encontrarem lugar no mercado de trabalho, de acordo com o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Turismo e Hospitalidade (Contratuh), Moacyr Roberto Tesch Auersvald. (leia aqui).

Conforme explica o Presidente, a grande carência de mão-de-obra no setor não é de profissionais de nível superior, para cargos de chefia, e sim de pessoal operacional. Um hotel médio, por exemplo, tem de cinco a seis gerentes e cerca de 200 funcionários trabalhando nas funções de camareira, faxineira, recepcionista, garçom e cozinheiro. "O que o setor precisa é de gente para carregar o piano, e não de pessoas para tocá-lo", diz Auersvald. (leia aqui).

Evidentemente que o Turismo não pode ser descartado como alternativa econômica para Ilhéus. O erro não está em apostar no Turismo. Está em apostar só no Turismo.

Quanto mais atividades econômicas existirem, conforme se espera para esta Região com a instalação do Complexo Intermodal, então mais oportunidades diferentes, e independentes entre si, as pessoas encontrarão. Um mercado de trabalho mais diversificado, em que o Turismo compita contra outras atividades pela mão de obra, e vice-versa, é a melhor garantia de que haverá um verdadeiro crescimento sustentável, com inclusão e promoção social.

O Turismo não justifica que Ilhéus abra mão do Complexo. Muito pelo contrário.

Ilhéus precisa do Complexo por causa do Turismo.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Quino

Quino é um excelente cartunista. Argentino de nascimento, sempre conseguiu fazer suas tiras, charges e cartoons transporem os limites de seu país, de sua cultura, de seu próprio continente. Pois a genialidade não conhece fronteiras - ainda bem.

Aqui uma série de trabalhos que um amigo me enviou, convidando a uma reflexão sobre o novo século, os novos hábitos e, principalmente, os novos valores.

Eu, como Pai, tenho uma preocupação imensa com isso. A cada dia maior.













quarta-feira, 2 de junho de 2010

ANDREnalina

André não tem maiores compromissos, senão "zoar" como ele mesmo diz.

Não é genial. Mas é bom que chega. E para proporcionar uma reflexão a respeito do aumento que os parlamentares estão prestes a proporcionar aos seu funcionários, serve bem.

Ah! E quem é de Ilhéus, ou mora na cidade, vai ficar particularmente comovido com o trecho que começa em 3 minutos e 25 segundos.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Cold Turkey

Drogas são mesmo um grande mal das sociedades modernas. Escravizam, literalmente, os dependentes, e tornam reféns amigos e familiares.

Mas não se pode tratar todas da mesma forma. Há drogas mais e menos virulentas, com conseqüências mais ou meno graves sobre os dependentes. Álcool é um problema. Crack é um problema maior.

Um jovem viciado em Heroína descreveu, poeticamente e no pesado ritmo do Rock, o seu desespero pessoal para se livrar da dependência da heroína. O processo é longo e doloroso, e foi até batizado: "Cold Turkey". Algo como "O frio da Turquia", em tradução livre.

Li isto no blog do Nassif (aqui).

Seu nome? John Lennon.




A letra, com uma tradução pessoal, segue abaixo.


Cold Turkey
John Lennon


Temperature’s rising
(A temperatura sobe)
Fever is high
(A febre é alta)
Can’t see no future
(Não vejo nenhum futuro)
Can’t see no sky
(Não vejo nenhum céu)
My feet are so heavy
(Meus pés estão tão pesados)
So is my head
(Minha cabeça também)
I wish I was a baby
(Eu queria ser um bebê)
I wish I was dead
(Eu queria estar morto)
Cold turkey has got me on the run
("Cold turkey" não me deixou escapar)
My body is aching
(Meu corpo está doendo)
Goose-pimple bone
(Pústulas nos ossos)
Can’t see no body
(Não vejo nenhum corpo)
Leave me alone
(Deixem-me em paz)
My eyes are wide open
(Meus olhos estão muito abertos)
Can’t get to sleep
(Não consigo dormir)
One thing I’m sure of
(Estou certo de que)
I’m in at the deep freeze
(Estou no fundo de um congelador)
Cold turkey has got me on the run
("Cold turkey" não me deixou escapar)
Cold turkey has got me on the run
("Cold turkey" não me deixou escapar)
Thirty-six hours
(Trinta e seis horas)
Rolling in pain
(Rolando de dor)
Praying to someone
(Rezando para alguém)
Free me again
(Devolver minha liberdade)
Oh I’ll be a good boy
(Oh, eu serei um bom garoto)
Please make me well
(Por favor façam-me ficar bom)
I promise you anything
(Eu prometo qualquer coisa)
Get me out of this hell
(Tirem-me deste inferno)
Cold turkey has got me on the run
("Cold turkey" não me deixou escapar)
Oh, oh, oh, oh