Carta ao Governador do Estado da Bahia.
Jacques Wagner |
Caro governador. Muito tenho ouvido de
correligionários e comentaristas da imprensa formal (jornais, rádio
e televisão) e informal (internet, blogs, redes sociais) sobre vosso
"republicanismo".
Não tenho a exata noção do sentido que tais
autores empregam ao termo "República" e seus derivados.
Todavia, pessoalmente entendo que, “republicanamente”, vossa
senhoria foi escolhido por nós, baianos, para cuidar de nossas
coisas; da res (coisa) pública. Sois, portanto, um
empregado de toda a Bahia, a nobilíssimo serviço dos baianos. Nós,
o povo, vos escolhemos para isso. Somos, por assim dizer, vossos
patrões.
Assim, caro Governador, mui “republicana”, e
mui humildemente também, gostaria de considerar algumas coisas sobre
vosso mandato. São decisões, ou falta delas, que, como empregado
que sois, vêm deixando vossos patrões, os baianos, um tanto
insatisfeitos.
A lista é imensa. Todavia algumas pequenas coisas
saltam aos olhos deste vosso patrão aqui, um simples morador da
região sul da Bahia, aquela que tantos votos vos concedeu nas duas
eleições consagradoras que tivestes.
1. Porque, senhor governador, ainda não
concedestes o reajuste do salário do funcionalismo, cuja data era
para primeiro de janeiro?
Prosseguindo, sem nenhuma ofensa ou falta de cortesia, penso ainda que nós, patrões,
gostaríamos fossem melhor tratados os professores, empregados de
tanta ou mais importância que a vossa para este Estado. Assim, vos cabe responder mais duas perguntas.
2. Apesar de todas as lutas, vossa senhoria ainda
não pagou os 22,22% dos professores, devidos desde 2012. Além disso,
crudelíssimo como nenhum baiano, patrão vosso, aprovaria,
determinastes o corte de seus salários e, suprema maldade, de seus
planos de saúde durante a greve. Que republicanismo é esse?
Republicanos dialogam, não torturam, não é verdade?
3. Não custa lembrar: assim como de vós, também
dos professores somos patrões. E a estes temos muita consideração,
pela missão que lhes confiamos e pelas responsabilidades que lhes
cobramos. Assim, desculpe insistir no assunto, mas preciso perguntar:
porque vossa senhoria não cumpre o acordo com os professores do
ensino superior, feito em 2011, à custa de uma greve também tratada
de forma extremamente cruel?
Vou além, se me perdoa a insolência republicana.
Como morador do sul da Bahia, esta região seguidamente esquecida
pelos governadores em sucessão, ainda gostaria de fazer mais algumas
perguntas.
4. Cadê a Ponte Ilhéus-Pontal, tantas vezes
prometida e reprometida?
5. Cadê a duplicação Ilhéus-Itabuna, que seria
para 2010, depois 2011, depois 2012, e depois 2013?
6. Cadê o Porto Sul?
7. Cadê o Aeroporto Internacional de Ilhéus?
Desculpe se qualquer pergunta dessas vos ofende, não é esta a intenção. Mas é necessário prosseguir. Outra insatisfação, como empregador, é com a
forma como vens tratando o patrimônio, que é nosso, e que confiamos
a vossos cuidados. Talvez seja falta de diálogo, pois tenho
percebido que isto não parece ser o ponto forte de vossa
administração. Independentemente, algumas coisas saltam aos olhos. E, assim, mais perguntas vos devo fazer.
8. As escolas estão sem condições de comprar
material, governador. Como ficam as aulas? E os professores? E os estudantes?
9. As universidades estão sem pagar fornecedores;
sabia, Governador? Suas atividades estão cada vez mais
inviabilizadas. Será que elas vão ter que parar mesmo de funcionar?
10. Os hospitais do estado estão todos
sucateados. Pessoalmente tenho visto o Clériston Andrade, em Feira
de Santana, o Hospital de Base em Itabuna, e o Hospital Regional em
Ilhéus. Sei que vossa senhoria não gostaria de ser atendido em
nenhum equipamento de saúde tão precário. Ocorre que nós também
não gostamos, sabia?
11. Policiais, que são empregados nossos tanto
quanto vós sois, e de importância talvez superior, estão a
trabalho trajando coletes à prova de balas feitos de areia. De areia, Governador. Vossa
senhoria já teve a oportunidade de enfrentar face a face o crime, e criminosos violentos? Já teve o prazer de fazer isso sem a devida proteção?
12. Além disso, também não há gasolina para as
viaturas.
Fosse um empregado doméstico que cuidasse de
vossa casa com tal falta de zelo, mereceria continuar responsável
pelos serviços? Mas há uma última parte, talvez a mais importante, que
merece vossa atenção mais especial, e da qual a queixa é a mais
dura.
13. O sertão da Bahia padece em seca, governador.
Uma tal que não se vê há mais de 60 anos. Apesar disso, se não
fossem os programas do governo FEDERAL estariam todos lá morrendo de
fome e de sede. Sabia que vós sois, também, empregado dos baianos
do sertão?
Teria mais, governador. Muito mais. Todavia, imposição física, espaço e tempo são curtos. Vou ficando por aqui, portanto.
Republicanamente,
Um baiano.
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