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segunda-feira, 8 de abril de 2013

Carta ao Governador


Carta ao Governador do Estado da Bahia.

Jacques Wagner
Caro governador. Muito tenho ouvido de correligionários e comentaristas da imprensa formal (jornais, rádio e televisão) e informal (internet, blogs, redes sociais) sobre vosso "republicanismo".

Não tenho a exata noção do sentido que tais autores empregam ao termo "República" e seus derivados. Todavia, pessoalmente entendo que, “republicanamente”, vossa senhoria foi escolhido por nós, baianos, para cuidar de nossas coisas; da res (coisa) pública. Sois, portanto, um empregado de toda a Bahia, a nobilíssimo serviço dos baianos. Nós, o povo, vos escolhemos para isso. Somos, por assim dizer, vossos patrões.



Assim, caro Governador, mui “republicana”, e mui humildemente também, gostaria de considerar algumas coisas sobre vosso mandato. São decisões, ou falta delas, que, como empregado que sois, vêm deixando vossos patrões, os baianos, um tanto insatisfeitos.
A lista é imensa. Todavia algumas pequenas coisas saltam aos olhos deste vosso patrão aqui, um simples morador da região sul da Bahia, aquela que tantos votos vos concedeu nas duas eleições consagradoras que tivestes.

1. Porque, senhor governador, ainda não concedestes o reajuste do salário do funcionalismo, cuja data era para primeiro de janeiro?

Prosseguindo, sem nenhuma ofensa ou falta de cortesia, penso ainda que nós, patrões, gostaríamos fossem melhor tratados os professores, empregados de tanta ou mais importância que a vossa para este Estado. Assim, vos cabe responder mais duas perguntas.

2. Apesar de todas as lutas, vossa senhoria ainda não pagou os 22,22% dos professores, devidos desde 2012. Além disso, crudelíssimo como nenhum baiano, patrão vosso, aprovaria, determinastes o corte de seus salários e, suprema maldade, de seus planos de saúde durante a greve. Que republicanismo é esse? Republicanos dialogam, não torturam, não é verdade?

3. Não custa lembrar: assim como de vós, também dos professores somos patrões. E a estes temos muita consideração, pela missão que lhes confiamos e pelas responsabilidades que lhes cobramos. Assim, desculpe insistir no assunto, mas preciso perguntar: porque vossa senhoria não cumpre o acordo com os professores do ensino superior, feito em 2011, à custa de uma greve também tratada de forma extremamente cruel?

Vou além, se me perdoa a insolência republicana. Como morador do sul da Bahia, esta região seguidamente esquecida pelos governadores em sucessão, ainda gostaria de fazer mais algumas perguntas.

4. Cadê a Ponte Ilhéus-Pontal, tantas vezes prometida e reprometida?

5. Cadê a duplicação Ilhéus-Itabuna, que seria para 2010, depois 2011, depois 2012, e depois 2013?

6. Cadê o Porto Sul?

7. Cadê o Aeroporto Internacional de Ilhéus?

Desculpe se qualquer pergunta dessas vos ofende, não é esta a intenção. Mas é necessário prosseguir. Outra insatisfação, como empregador, é com a forma como vens tratando o patrimônio, que é nosso, e que confiamos a vossos cuidados. Talvez seja falta de diálogo, pois tenho percebido que isto não parece ser o ponto forte de vossa administração. Independentemente, algumas coisas saltam aos olhos. E, assim, mais perguntas vos devo fazer.

8. As escolas estão sem condições de comprar material, governador. Como ficam as aulas? E os professores? E os estudantes?

9. As universidades estão sem pagar fornecedores; sabia, Governador? Suas atividades estão cada vez mais inviabilizadas. Será que elas vão ter que parar mesmo de funcionar?

10. Os hospitais do estado estão todos sucateados. Pessoalmente tenho visto o Clériston Andrade, em Feira de Santana, o Hospital de Base em Itabuna, e o Hospital Regional em Ilhéus. Sei que vossa senhoria não gostaria de ser atendido em nenhum equipamento de saúde tão precário. Ocorre que nós também não  gostamos, sabia?

11. Policiais, que são empregados nossos tanto quanto vós sois, e de importância talvez superior, estão a trabalho trajando coletes à prova de balas feitos de areia. De areia, Governador. Vossa senhoria já teve a oportunidade de enfrentar face a face o crime, e criminosos violentos? Já teve o prazer de fazer isso sem a devida proteção?

12. Além disso, também não há gasolina para as viaturas.

Fosse um empregado doméstico que cuidasse de vossa casa com tal falta de zelo, mereceria continuar responsável pelos serviços? Mas há uma última parte, talvez a mais importante, que merece vossa atenção mais especial, e da qual a queixa é a mais dura.

13. O sertão da Bahia padece em seca, governador. Uma tal que não se vê há mais de 60 anos. Apesar disso, se não fossem os programas do governo FEDERAL estariam todos lá morrendo de fome e de sede. Sabia que vós sois, também, empregado dos baianos do sertão?

Teria mais, governador. Muito mais. Todavia, imposição física, espaço e tempo são curtos. Vou ficando por aqui, portanto.

Republicanamente,

Um baiano.

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