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terça-feira, 23 de junho de 2009

A doença de Jorge

Muitas pessoas dependiam de Jorge. Sua esposa, infelizmente, tinha problemas de saúde e não podia trabalhar. Seus filhos, ainda muito jovens, estavam em idade pré-escolar. Tinha uma sogra inválida. Tinha um cachorro. Tinha um gato. Tinha até um papagaio velho que nunca aprendera a falar.

Todos dependiam dos parcos reais que Jorge trazia prá casa no final de cada mês. Forte e muito disposto ao trabalho, Jorge jamais deixou de comparecer com o sustento de todos.

Mas um dia Jorge acordou com febre. A sua família não quis acreditar que ele estivesse doente. Insistiram que não era nada, que passaria, e ele foi trabalhar.

No outro dia Jorge acordou com dor de cabeça. Seus dependentes olharam uns para os outros e decidiram que não era possível que Jorge estivesse doente. Isso seria muito ruim para todos. Talvez o fim. Não podia ser verdade, pois Jorge sempre fora um homem tão saudável! E insistiram com ele, e Jorge foi trabalhar.

Mas a aurora seguinte encontrou Jorge com dores no peito, falta de ar, febre, dores por todo o corpo. Jorge não podia mais trabalhar, porque já não conseguia sequer erguer-se da cama. Jorge estava irremediavelmente doente. Sua família teve que aceitar isso, finalmente.

Chamado às pressas, porém, o médico nada pôde fazer. Jorge havia contraído uma bactéria muito grave. Estava com todos os órgãos comprometidos. Não tinha mais jeito. O antibiótico precisava ser dado no primeiro ou no segundo dia, quando todos ainda queriam negar a doença de Jorge. Agora era tarde demais.

Jorge morreu. Todos os seus ficaram desamparados.

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Tem um outro Jorge doente. O "nosso" Jorge. São Jorge dos Ilhéus, que mais uma vez mostrou os sinais de sua infecção: saldo negativo de 420 empregos nos primeiros cinco meses deste ano. A indústria foi o setor que mais demitiu, cortando 246 empregos, seguida dos serviços com perda de 201 e o comércio com 81 (leia aqui), dados divulgados nesta segunda-feira pelo Ministério do Trabalho e Emprego. O nosso Jorge tá tão doente que nem pode comemorar seu aniversário (leia aqui).

Nosso Jorge tem um pouco mais de sorte, porque sua infecção está diagnosticada, e o remédio que pode curá-lo está disponível. Só depende de nós, que somos seus dependentes.

Porém, nós precisamos aceitar a dura realidade de que nosso Jorge está doente. Por mais doloroso que isso possa ser. É necessário entender que ele precisa de remédio, mesmo com todos os efeitos colaterais. Se continuarmos negando isso por mais tempo pode ser tarde demais para o nosso Jorge. Como foi para o outro.

Jorge precisa do antibiótico que detenha sua infecção econômica, e precisa dele imediatamente.

Porque nosso Jorge está morrendo rápido.

Qualquer um pode ver isso.

3 comentários:

  1. Meu querido Degas,
    Suspeito que o nosso Jorge, poderá até ficar rico (o que não acredito), mas certamente o dinheiro que ganhar não será suficiente para salvá-lo... Ele vai morrer! Resuscitará ou Reencarnará (depende da sua crença religiosa), jamais será como antes, totalmente saudável, pois tinha pouco, mas era FELIZ!

    Maria do Socorro Mendonça

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  2. Ah Socorro! Por favor, né?

    Ilhéus está morrendo porque sua economia está morrendo! Não queremos que Ilhéus fique rico. Queremos que Ilhéus sobreviva! E se não mudarmos a medicação o paciente morre!

    Precisamos agir antes que vire uma cidade fantasma.

    Claudio.

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  3. Não tem como explicar as pessoas vendo a economia da cidade falindo e ainda acharem que não precisamos fazer nada.

    Como nem sempre tá ruim prá todo mundo, e tem algumas pessoas que ainda estãzo se dando bem, por causa da miséria de muitos, aí fica fácil de explicar.

    Pra essas pessoa ta tudo bom, e a cidade que se lixe.

    Uma pena.

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