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sábado, 12 de outubro de 2013

A balbúrdia democratizante das redes sociais


Luis Nassif





Original aqui.

Antes de ontem, em São Paulo, houve um evento de lançamento do novo site do “Carta Maior”.

Trata-se de um portal assumidamente de esquerda, que congrega pensadores brasileiros e internacionais, unidos em torno das mesmas ideias e da Internet. Havia desde intelectuais latino-americanos até o espanhol Ignácio Ramonet, fundador do prestigiado Le Monde Diplomatique.

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A saga do Carta Maior repete-se em outras iniciativas da Internet. Em meio ao caos que domina o meio, aos ataques destrambelhados de esquerda e direita, à nova não-etiqueta – de um pessoal capaz de cometer, pela Internet, grosserias que jamais cometeriam presencialmente – começam a se moldar as referências, um pequeno arquipélago de blogs e sites independentes, capazes de fazer o contraponto.

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É uma construção algo complexa, devido à diluição das vozes.

No velho modelo de jornal, um percentual maior de leitores lê Esportes, talvez os cadernos culturais e o Cidade – o caderno inicial com reportagens locais e, especialmente, policiais. Um contingente menor lê economia, política nacional e política internacional.



Só que essa leitura, menor porém mais qualificada, acabava disfarçada pelo modelo da velha mídia, no qual todos compravam o jornal inteiro para ler apenas partes dele.

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No velho modelo, havia inicialmente uma divisão nítida entre os chamados tablóides (os jornais sensacionalistas), a imprensa de opinião e o jornalismo regional.

Embora de menor alcance, a imprensa escrita de opinião acabava pautando toda a cadeia da mídia, a imprensa regional, o jornalismo radiofônico e televisivo.

A partir de meados dos anos 90, a busca incessante de audiência acabou rompendo muitas barreiras que separavam o jornalismo de opinião do sensacionalismo barato dos tabloides. Mesmo assim, mantiveram os chamados artigos e colunistas de fundo, ajudando a disciplinar os conceitos junto ao público remanescente de formadores de opinião, que continuaram seguindo os jornais.

Com isso, o discurso político permaneceu bastante restritivo, externando a opinião de grupos restritos, em geral do eixo Rio-São Paulo.

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A Internet surge para romper esse bloqueio. Ainda é uma realidade caótica, mas já dividida em camadas hierárquicas – do público menos intelectualizado, que se move por slogans, aos formadores de opinião, que se articulam em torno de conceitos.

São esses blogs e sites que ajudarão no trabalho civilizatório da rede, de disciplinar os ímpetos ativistas dos militantes, organizando o debate em torno de conceitos.

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A Carta Maior cumpre essa função. No outro lado do espectro político, o site  do Instituto Millenium tenta articular ideias e conceitos mais à direita. A maioria absoluta de seus colaboradores se criou à sombra do jornalismo tradicional.

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Gradativamente, surgem outros pontos de referência, que se articulam com os blogs de combate (aqueles que buscam fazer barulho em torno de cada assunto, por mais insignificante que seja), destes com seus seguidores, se espraiando pelo Facebook e pelo Twitter.

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Está-se na infância das redes sociais e existe muita balbúrdia. Mas é essa balbúrdia que permite ampliar a democracia.

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