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quarta-feira, 28 de maio de 2014

O Nobel e o totalitarismo científico

Do Blog Informação Incorrecta

Original aqui.

Ciência?
Assunto complicado: perguntem a Randy Wayne Schekman, o biólogo celular estadunidense.

Foi laureado com o Nobel da Medicina em 2013, trabalha na Universidade da Califórnia em Berkeley, é membro da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unido. Recebeu uma enormidade de prémios e reconhecimentos.

Schekman: a ciência está nas mãos de uma casta fechada e não independente

Mas Schekman não está satisfeito, e o problema é mesmo isso: a Ciência.
Num recente artigo do jornal britânico The Guardian, afirmou:

    "A ciência está em risco; já não é de confiança porque está na mão duma casta fechada e não independente."

Sem dúvida, uma denúncia forte e corajosa contra o status quo e o conformismo vigente na chamada "comunidade científica", tanto mais que estas declarações foram feitas por Schekman no mesmo dia em que recebeu o Prémio Nobel: não só o momento mais importante da sua carreira como pesquisador, mas também a altura de máxima visibilidade.

As observações de Schekman tinham sido precedidas (um par de dias) por aquelas de Peter Higgs, o cientista que se tornou famoso pela descoberta do bóson de Higgs: Higgs, sempre das colunas do Guardian, tinha denunciado o sistema das publicações científicas.
E Schekman concorda, pois compara as principais revistas científicas internacionais, como Nature, Cell e Science, a verdadeiros "tiranos":

    Publicam com base no appeal mediático dum estudo, e não por causa da sua relevância científica real. E, dado o prestígio, os pesquisadores estão dispostos a fazer qualquer coisa, até mesmo modificar os resultados dos seus trabalhos, para obter uma publicação. A tentação de ver o trabalho publicado nas revistas empurra esses pesquisadores a ajustar os resultados, para torná-los mais atraentes e "na moda". Tudo isso, claro, à custa de descobertas menos "na moda", mas talvez mais importantes e cruciais para o progresso.

Além disso, o biólogo também critica as editoras, que preferem pensar no lucro em vez do que no valor intrínseco dum trabalho. Antes o dinheiro, depois a ciência .

E como respondem as revistas? Em Italia, por exemplo, as declarações de Schekman foram publicadas por alguns diários, como Il Corriere della Sera: mas nas revistas "científicas" (Focus, Scienze, Query, etc.) nem um alinha. O silêncio.

Na verdade, tudo isso não admira: a chamada "ciência oficial" tem sido baseado inteiramente nos dogmas e na autoridade, o que nada a ver com a muito elogiada "liberdade de investigação".
A pesquisa livre, de facto, é dificultada, pois pode pôr em causa as "verdades absolutas " que a comunidade científica defende.

Na nossa sociedade,  a fé nos dogmas científicos substitui a superstição: é considerado implícito o facto da ciência nunca estar errada, ser sempre imparcial, e que afinal tudo pode ser feito em nome dela. Como também observa Schekman, a "ciência" de hoje baseia-se, mais do que nunca, no lucro e nas visões ideológicas, não na procura do progresso e da melhoria do ser humano e do meio ambiente.

Como a História ensina, a ciência não está sempre do certo, apesar dos nossos convencimentos.
Se a Ciência tem fomentado o progresso e a melhoria das nossas condições de vida (isso não pode ser negado), conforme descrito nos meios de comunicação ou nos livros escolares, também é verdade que nem sempre as acções dela foram positivas.

Exemplos não faltam: basta pensar na criação da bomba atómica, nas armas nucleares tanto em voga
na Guerra Fria; nos métodos muito pouco "humanitários" como a eugenia (ainda proposto pela defesa e uma boa parte da comunidade científica mundial ); na vivissecção; nos projectos sobre o controle das mentes dos anos 50 e 60.

Métodos que ainda são propostos e defendidos pela própria comunidade científica (o uso da eugenia propostos pelos "transumanistas" ou a infame vivissecção), na indiferença e no cinismo perante todas as formas de ética e empatia; e os dissidentes ainda são rotulados como "reaccionários" ou "inimigos do progresso".

A visão neo-positivista da sociedade, que baseia-se no chamado "cientificismo" dominante  e que criou tantos prejuízos no final do século XIX e XX (ao ponto de ser relativamente abandonada após o fim da II Guerra Mundial) regressou e hoje em dia goza duma forte credibilidade e aceitação por parte da comunidade científica mundial.

Esta visão é baseada num um papel totalizante e totalitário atribuído à ciência, considerada a única garantia real para o funcionamento e o progresso da sociedade, e que transcende o papel atribuído à ética, considerada como um limite para os delírios do poder cientifico.

Como dizia um dos maiores cientistas modernos, Nikola Tesla:

    "A ciência não é senão uma perversão de si mesma , a menos que tenha como objectivo final a melhoria da humanidade."

Hoje a Ciência tem mais poder do que nunca e, como confirma Schekman:

    "As revistas científicas têm o poder de mudar o destino dum pesquisador e duma pesquisa, influenciando as escolhas de governos e instituições."

A Ciência, com as suas declarações, os seus dogmas, é uma autoridade capaz de influenciar as escolhas dos governos e das instituições, e se ela for manipulada por aqueles que guiam as principais revistas científicas, é automaticamente verdade que as declarações sobre temas sensíveis podem ser orientadas de acordo com a conveniências de governos ou das próprias instituições. É um círculo fechado e vicioso, no qual ambas as partes determinam e/ou apoiam os desejos da outra.

É uma ligação doentia: as declarações de Schekman fazem logo pensar nos temas mais escaldantes, como o aquecimento global, a gripe do vírus H1N1, a eugenia e todas as implicações malthusiana sobre a evolução.
O problema não é a Ciência em si, como conceito e como meio de progresso: o problema é a Ciência hoje.
Lado positivo: as palavras de Schekman, as palavras de Higgs, cedo cairão no esquecimento e tudo continuará como sempre. Alegremente, com imutada confiança.

Ipse dixit.

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