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segunda-feira, 13 de maio de 2013

Devolvam "meu" Bahia


Pode parecer estranho ouvir isso aqui, de um torcedor do Vitória. 

Pode parecer gozação também. Mas não é.

De fato, fico sempre feliz com as derrotas do Bahia. Particularmente quando esta derrota é para o Leão. Melhor ainda se forem acachapantes 5 a 1 na inauguração da Fonte Nova, ou 7 a 3 na final do campeonato. Obviamente que eu e toda a torcida do Vitória estamos felizes. Futebol é uma boa diversão, e a brincadeira quando vencemos ou perdemos faz parte de tudo isso. A alegria do vencedor está no DNA do Esporte, e futebol não é diferente. A brincadeira, e o espírito esportivo devem fazer parte do espetáculo.

Torcedor do Bahia: cabeça quente é má conselheira
Mas quando se olha criticamente, apesar de todos gostarmos de vencer nossos adversários, a verdade é que um Bahia Fraco não é bom. Para o Bahia, é claro. Mas para o futebol deste estado, e do Nordeste. E, também, não é bom para o Vitória.

A rivalidade oxigena o Esporte. A disputa é quem traz o interesse dos torcedores, e dos apaixonados. Sem disputa não há rivalidade. E atualmente o momento do Bahia o deixa fora de condições de disputar qualquer coisa. O Vitória está muito melhor. Mas efetivamente não tem muito a lucrar com isso, fora do campo das brincadeiras e das gozações. Para se ser forte, o rival também quem que sê-lo.

O Bahia sofre com uma série de problemas, mas é importante ver que: se quase nada são flores, nem todos os espinhos são inquebráveis. 

Há problemas estruturais no Bahia, e estes são os mais preocupantes. Houve uma série de contratações equivocadas, jogadores que vieram e não renderam o esperado. A gestão financeira também vem deixando a desejar, já que o orçamento do Bahia, se é pequeno comparado aos clubes do Sul e Sudeste do Brasil, é gigante a se comparar com clubes do Nordeste. E, ainda assim, os resultados não chegam.

Outrossim, a gestão do departamento técnico também precisa ser revista. A equipe sempre parece pouco organizada taticamente, e tecnicamente os jogadores não rendem o que podem.

Tudo isso é ponto pacífico, mas não é tudo.

É importante ver o momento com a frieza necessária para se perceber que uma boa parte do que está acontecendo é causada por fatores transitórios. Há uma série de tensões pessoais dos jogadores entre si e entre os jogadores e a comissão técnica, bem como a diretoria. Isto causa uma série de perturbações psicológicas que efetivamente afetam o time em campo. Muitas vezes não se trata de maus jogadores, mas de jogadores que não estão conseguindo fazer o que podem. O Vitória viveu isso, em dimensões diferentes, nas últimas rodadas da Série B do ano passado quando, de primeiro lugar disparado, viu o acesso quase ser desperdiçado.

Há que se ter muita calma para separar o joio do trigo. O que é irremediavelmente ruim, e deve ser apartado, do que está ruim, que pode e deve ser recuperado.

A pior decisão é atender à sede de sangue que vem da torcida e se buscar culpados que sejam esquartejados em praça pública. Talvez o competente técnico Jorginho tenha sido vítima disso. Talvez “papai” Joel também acabe sendo vítima da mesma maneira. Não se pode acreditar que eles sejam tão ruins como este momento faz parecer.

O mesmo vale para uma série de jogadores, que tão pouco tempo atrás eram estrelas da equipe. Muitas injustiças podem ser cometidas ao se tomar decisões com o fígado, e no calor de um momento tão difícil.

Dada a sua estrutura, sua tradição e o tamanho de sua torcida, é fato que o Bahia pode superar este momento. Mas este processo de recuperação exigirá as três coisas mais difíceis para os torcedores tristes, humilhados e zangados: cabeça fria, paciência e tempo.

É necessário se ver, com frieza, que o grupo de jogadores do Bahia não é tão ruim quanto os resultados recentes fazem parecer. Os olhos apaixonados, turvados pelas derrotas, fazem as coisas parecerem piores do que são.

Ocorre que sair demitindo desvairadamente um grande grupo de jogadores, além do treinador, vai, com certeza, tornar as coisas muito piores. Estamos às vésperas do início da Série A do campeonato brasileiro. A estas alturas, dadas as condições do mercado, em que a maioria dos melhores jogadores estão contratados, e dado o orçamento do Bahia, que é minúsculo quando comparado aos maiores times do Brasil, as possibilidades de manobra estão muito mais restritas.

É necessário se entender que há muitos bons jogadores no Fazendão, e não tantos bons jogadores lá fora. O bom senso diz que devemos jogar a água da Bacia fora, mas cuidar de manter o bebê a salvo.

Não é a Ferro e Fogo que as coisas vão melhorar. Invadir o Fazendão como terroristas vândalos não ajuda em nada. Dispensar dezenas de jogadores, muitos deles titulares, muitos deles na verdade bons jogadores, não vai fazer nada melhorar. Cabeça quente não é boa conselheira; pode fazer tudo ficar ainda pior.

Como torcedor do Vitória, e pensando no bem da rivalidade, e no bem do Futebol da Bahia, que será também o bem do Vitória, me alio aos tricolores neste pedido. Um pedido que sai daqui, do lado do rival. Pois o rival é, antes de tudo, um admirador.

Façam as mudanças necessárias no Tricolor de Aço. Muita calma nesta hora, mas façam.

Devolvam “meu” Bahia.  

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