Pode parecer estranho
ouvir isso aqui, de um torcedor do Vitória.
Pode parecer gozação também. Mas não é.
De fato, fico sempre
feliz com as derrotas do Bahia. Particularmente quando esta derrota é
para o Leão. Melhor ainda se forem acachapantes 5 a 1 na inauguração
da Fonte Nova, ou 7 a 3 na final do campeonato. Obviamente que eu e
toda a torcida do Vitória estamos felizes. Futebol é uma boa
diversão, e a brincadeira quando vencemos ou perdemos faz parte de
tudo isso. A alegria do vencedor está no DNA do Esporte, e futebol
não é diferente. A brincadeira, e o espírito esportivo devem fazer
parte do espetáculo.
Torcedor do Bahia: cabeça quente é má conselheira |
Mas quando se olha
criticamente, apesar de todos gostarmos de vencer nossos adversários,
a verdade é que um Bahia Fraco não é bom. Para o Bahia, é claro.
Mas para o futebol deste estado, e do Nordeste. E, também, não é
bom para o Vitória.
A rivalidade oxigena o
Esporte. A disputa é quem traz o interesse dos torcedores, e dos
apaixonados. Sem disputa não há rivalidade. E atualmente o momento
do Bahia o deixa fora de condições de disputar qualquer coisa. O
Vitória está muito melhor. Mas efetivamente não tem muito a lucrar
com isso, fora do campo das brincadeiras e das gozações. Para se
ser forte, o rival também quem que sê-lo.
O Bahia sofre com uma
série de problemas, mas é importante ver que: se quase nada são
flores, nem todos os espinhos são inquebráveis.
Há problemas
estruturais no Bahia, e estes são os mais preocupantes. Houve uma
série de contratações equivocadas, jogadores que vieram e não
renderam o esperado. A gestão financeira também vem deixando a
desejar, já que o orçamento do Bahia, se é pequeno comparado aos
clubes do Sul e Sudeste do Brasil, é gigante a se comparar com
clubes do Nordeste. E, ainda assim, os resultados não chegam.
Outrossim, a gestão do
departamento técnico também precisa ser revista. A equipe sempre
parece pouco organizada taticamente, e tecnicamente os jogadores não
rendem o que podem.
Tudo isso é ponto
pacífico, mas não é tudo.
É importante ver o
momento com a frieza necessária para se perceber que uma boa parte
do que está acontecendo é causada por fatores transitórios. Há uma
série de tensões pessoais dos jogadores entre si e entre os
jogadores e a comissão técnica, bem como a diretoria. Isto causa uma série
de perturbações psicológicas que efetivamente afetam o time em
campo. Muitas vezes não se trata de maus jogadores, mas de jogadores
que não estão conseguindo fazer o que podem. O Vitória viveu isso,
em dimensões diferentes, nas últimas rodadas da Série B do ano
passado quando, de primeiro lugar disparado, viu o acesso quase ser
desperdiçado.
Há que se ter muita
calma para separar o joio do trigo. O que é irremediavelmente ruim, e deve ser
apartado, do que está ruim, que pode e deve ser recuperado.
A pior decisão é
atender à sede de sangue que vem da torcida e se buscar culpados que
sejam esquartejados em praça pública. Talvez o competente técnico
Jorginho tenha sido vítima disso. Talvez “papai” Joel também
acabe sendo vítima da mesma maneira. Não se pode acreditar que eles
sejam tão ruins como este momento faz parecer.
O mesmo vale para uma
série de jogadores, que tão pouco tempo atrás eram estrelas da
equipe. Muitas injustiças podem ser cometidas ao se tomar decisões
com o fígado, e no calor de um momento tão difícil.
Dada a sua estrutura,
sua tradição e o tamanho de sua torcida, é fato que o Bahia pode
superar este momento. Mas este processo de recuperação exigirá as
três coisas mais difíceis para os torcedores tristes, humilhados e zangados: cabeça
fria, paciência e tempo.
É necessário se ver,
com frieza, que o grupo de jogadores do Bahia não é tão ruim
quanto os resultados recentes fazem parecer. Os olhos apaixonados,
turvados pelas derrotas, fazem as coisas parecerem piores do que são.
Ocorre que sair
demitindo desvairadamente um grande grupo de jogadores, além do
treinador, vai, com certeza, tornar as coisas muito piores. Estamos
às vésperas do início da Série A do campeonato brasileiro. A
estas alturas, dadas as condições do mercado, em que a maioria dos
melhores jogadores estão contratados, e dado o orçamento do Bahia,
que é minúsculo quando comparado aos maiores times do Brasil, as
possibilidades de manobra estão muito mais restritas.
É necessário se
entender que há muitos bons jogadores no Fazendão, e não tantos bons jogadores lá fora. O bom senso diz que devemos jogar a água da
Bacia fora, mas cuidar de manter o bebê a salvo.
Não é a Ferro e Fogo
que as coisas vão melhorar. Invadir o Fazendão como terroristas
vândalos não ajuda em nada. Dispensar dezenas de jogadores, muitos
deles titulares, muitos deles na verdade bons jogadores, não vai fazer nada melhorar.
Cabeça quente não é boa conselheira; pode fazer tudo ficar ainda
pior.
Como torcedor do
Vitória, e pensando no bem da rivalidade, e no bem do Futebol da
Bahia, que será também o bem do Vitória, me alio aos tricolores
neste pedido. Um pedido que sai daqui, do lado do rival. Pois o rival
é, antes de tudo, um admirador.
Façam as mudanças
necessárias no Tricolor de Aço. Muita calma nesta hora, mas façam.
Devolvam “meu”
Bahia.
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