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quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Sobrenatural de Almeida e a Bala de Prata do PT


O Gênio Nelson Rodrigues criou um personagem que ficou famoso ao ser invocado quando gols improváveis, resultados impensáveis ou zebras surpreendentes acometiam os resultados do Futebol: Sobrenatural de Almeida.

Sobrenatural de Almeida aparecia sempre de surpresa, e misturava tudo. Tornava partidas ganhas em perdidas, dava títulos a equipes menores, invertia a lógica.

Pois bem: Sobrenatural de Almeida veio às eleições de 2014. O pleito parecia muito bem decidido, com a velha polarização entre PT e PSDB, acabando com a quarta vitória seguida daquele sobre este.

Parecia.

Sobrenatural de Almeida derrubou um avião, matando tragicamente um dos candidatos. De relevância razoável, diga-se de passagem, mas a quem se legava um papel coadjuvante. E isso embaralhou as coisas. Colocou uma peça nova no tabuleiro: Marina Silva. Com este advento, tudo ficou muito mais difícil para o PT e para o PSDB.

Marina, que 4 anos atrás era referida como a “terceira via”, agora não se posa mais assim. Ela vem turbinada pela votação das eleições passadas, mais o próprio cenário político. Não é mais a “terceira”. Alguém será passado para trás.

Aécio, Dilma e Marina: as coisas mudaram

É como se, num grande prêmio de Fórmula 1, um concorrente, ao parar nos boxes, pudesse trocar um modesto Force Índia por uma possante Mercedes. Vem com muito mais ação, galgando posições. Este é o PSB com Marina.

A primeira vítima de Marina deve ser o PSDB, alijado do segundo turno. As primeiras pesquisas já apontam a candidata à frente do tucano, e isto enquanto boa parte do eleitorado sequer se deu conta da presença dela no pleito.


Mas quem guia um Mercedes não precisa se contentar com pouco. Marina tem excelentes possibilidades de virar o jogo, ultrapassando Dilma nas últimas voltas do segundo turno. Isto tende a acontecer por conta da rivalidade PT x PSDB, que levará os eleitores de Aécio a despejar seus votos em Marina na fase final da disputa eleitoral.

Marina vem com tudo. PT e PSDB sabem disso. É hora de queimar os cartuchos que eventualmente ainda tenham.

Para os tucanos, porém, pouco há para fazer. Mesmo antes de Sobrenatural de Almeida agir, o candidato do PSDB já empacava nas pesquisas de opinião. É um caso grave: simplesmente não há potência para disputar com o PSB turbinado por Marina. Será ultrapassado nas próximas voltas, ainda que tente jogar duro, tirando o adversário da pista. Não logrará êxito.

Não obstante, como competidor, certamente vai tentar. Aliás, PT e PSDB jogarão o mais duro possível contra Marina; isto, aliás, faz parte do jogo. Os ataques – muitos deles em forma de críticas justas – já começaram na Internet. Em breve estarão também nos comícios, e no horário eleitoral da TV.
Nada disso, porém, servirá para o PSDB: ele simplesmente não tem o que fazer contra Marina. Ela deve ultrapassa-lo, e deve ir para a disputa contra o PT.

Vem, aliás, para as últimas voltas, com muito mais potência, diminuindo drasticamente a diferença para Dilma: Marina não aparece envolvida em escândalos, não tem o desgaste de ser governo, traz o discurso palatável do meio ambiente, mostra uma imagem pudica, que agrada o eleitor cristão conservador, particularmente os evangélicos.

É muito para o PT, que a essas alturas segue com desgastes acentuados no final da corrida.

Mas, ao contrário do PSDB, ao PT resta ainda um último cartucho. É um sopro de potência extra, que pode permitir a Dilma resistir na frente por algumas voltas, quiçá até o final da corrida. É o horário gratuito de TV, em que ela possui muito mais tempo do que os demais, e a presença de Lula a seu lado.

Lula é a Bala de Prata de Dilma. O último tiro. Que, se acertar, decide tudo. Colar a candidata na imagem ainda muito bem avaliada do ex-presidente é a grande jogada que, a estas alturas, resta ao PT. Não é muito, mas pode dar certo.

Ocorre, porém, que este efeito-Lula é limitado. No tempo  - ele também começará a ser desgastado pelas demais campanhas - e no espaço, já que ele está longe de ser uma unanimidade nacional.

Assim, o apoio de Lula a Dilma pode ser decisivo, mas é finito. Portanto, ela precisa usa-lo para vencer, e quanto mais rápido melhor. Se puder abreviar a corrida em algumas voltas, vencendo no primeiro turno, as coisas ficam mais seguras. No segundo turno tudo ficaria mais complicado: os eleitores de Aécio são imunes ao efeito-Lula. Votarão em Marina.

Sobrenatural de Almeida deve estar, lá de cima, rindo ás pampas com Nélson, seu criador. O ardil deu certo. O resultado, que parecia inteiramente tranqüilo, agora com certeza será apertado e incerto. Não se sabe quem vencerá.

Mas a decisão será numa manobra de última volta.

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