Estamos nos avizinhando de um dia histórico. O dia
15/03/2015 será marcante na história do Brasil. Parece que, pela segunda vez,
os brasileiros estarão nas ruas para pedir a deposição de um presidente.
Eu, pessoalmente, estarei alheio a isso. Primeiro, porque não
tenho qualquer simpatia pelo movimento “fora Dilma”, por motivos que explicarei
abaixo. Segundo, porque haverá corrida de Fórmula 1 na madrugada, abertura da
temporada. Isto provavelmente me deixará sonolento durante todo o dia.
Mas provavelmente minha ausência não será percebida pela
maioria das pessoas.
Pressão intensa e crescente pela deposição de Dilma. Porque? |
O meu receio é que consigam interromper a seqüência de
governos do PT. Não pelo PT, em
si. E também não pelos motivos que movem toda a massa nas
ruas. Mas pelo motivo real que está sendo traçado nos tabuleiros dos bastidores
da Política.
A maioria das pessoas com quem tenho conversado e,
provavelmente, a maioria das pessoas que vai às ruas contra a Presidenta, está indo
às ruas combater a corrupção, na forma do Governo do PT. E vai mesmo. Atirará
suas pedras sobre a corrupção, convicto de que contribuirá para destruí-la. Mas
acertará uma quantidade enorme de vidraças e, por incrível que pareça, a
vidraça da corrupção pode ser a menos atingida. Ou até sequer ser arranhada.
É ingênuo pensar que o objetivo é combater a corrupção. O
objetivo real, que move uma indústria de informações na Internet e na Imprensa, é bem outro. Se fosse o
combate à corrupção, então outras esferas administrativas também estariam na
pauta para serem combatidos, além do governo federal. Se fosse o combate à
corrupção, então o governo que deu independência à Polícia Federal e à
Procuradoria-Geral da República deveria ter isto reconhecido. Se fosse o
combate à corrupção, não tratariam a corrupção seletivamente, omitindo o caso
do HSBC por exemplo.
Não é. Apesar de a turba estar indo às ruas combater a corrupção, o que as está movendo é bem diferente, sutil e, naturalmente, lhes passa despercebido. São um bando de marionetes úteis. Depois de cumprirem seu papel, serão descartados.
Não é. Apesar de a turba estar indo às ruas combater a corrupção, o que as está movendo é bem diferente, sutil e, naturalmente, lhes passa despercebido. São um bando de marionetes úteis. Depois de cumprirem seu papel, serão descartados.
O objetivo é tirar o PT do poder. Da maneira que for possível,
já que pelo voto não se logrou êxito. Impeachment, “Intervenção Militar”, ou golpe
aberto e declarado. Não importa: qualquer meio serve. E qualquer motivo é
desculpa.
Se corrupção é apenas o estopim para manobrar as massas, o
que, então, realmente motiva o movimento “Fora Dilma”? Não é fácil entender.
Alguma luz pode vir quando olhamos a História recente e
vemos que interesses o PT vem afrontando desde que chegou ao poder. De fato, o
PT decidiu investir na Petrobras, e não sucateá-la. Descobriu o Pré-Sal, e não
o cedeu nem a interesses internacionais nem a grupos privados. Não aceitou ingressar
na ALCA, preferindo fortalecer o Mercosul. Rompeu com a dependência comercial
com os Estados Unidos e a Europa, abrindo linhas de comércio com a África e a Ásia,
e particularmente os BRICS.
Além destes, o PT também andou cometendo pecados menores:
aumentou o salário mínimo aos maiores níveis desde a era Vargas, avançou
direitos de trabalhadores, como empregadas domésticas, investiu no
desenvolvimento das regiões Norte e Nordeste, eternamente esquecidas. São ações
que, por incrível que pareça, gerou ressentimento em algumas parcelas, ainda
que mínimas, da população.
Tudo isso são teorias. Não conheço nenhuma evidência de que
esses interesses estejam por trás do movimento “Fora Dilma”. Mas é mais fácil
ver manobras políticas de bastidores com atores defendendo estes papéis do que
um real empenho dos grupos políticos mais retrógrados do Brasil no combate à
corrupção.
Este é o movimento “Fora Dilma”. E o que há do outro lado? Há
um grupo bem menos volumoso, mas bem mais ruidoso, de pessoas. Composto
basicamente pelos movimentos sociais, particularmente o MST, eles irão às ruas
combater o “Fora Dilma”. Entendem que não é aceitável recuar das ações deste
governo, e entendem que as conquistas recentes podem estar em risco no caso da
deposição do PT, particularmente quando está sendo articulada pelos grupos políticos
que sempre comandaram o Brasil. Estão se apegando às suas crenças, assim como
os que combatem a “corrupção”, e irão para o enfrentamento. Que quiçá seja pacífico,
mas provavelmente não.
Causa receio este confronto iminente. Já dá para antever a
segunda, dia 16/03, cheia de fotos de Facebook,
mostrando a “violência e a intolerância dos manifestantes”. Imagens e vídeos senunciando
como eles simplesmente ignoram a Lei, desrespeitam a Democracia, etc. Detalhe:
mudará o papel de vilão, a depender de quem estiver relatando. Imagino que a
indústria de informação do “Fora Dilma” será mais eficiente. Mas não será hegemônica.
Pode ser um domingo difícil, com muitos gritos, muitos
confrontos e, talvez, muito sangue também. Vou estar em casa, sonolento mas
atento. E torcendo contra. Que não haja o confronto, e que não haja o Impeachment,
dada a motivação real que move as fileiras políticas nos bastidores.
Mas, pelo andar da carruagem, parece que não será como eu
quero.
Tempos difíceis virão.
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