O momento atual da política brasileira vem colocando a todos nós individualmente, e às nossas mais diversas organizações sociais e sindicais, um desafio: posicionar-se ou não frente ao processo de impeachment que está em curso no Parlamento. Com a ADUSC, portanto, não poderia ser diferente. Afinal o momento chegou. Estamos chamados a nos posicionar, enquanto Sindicato ou Associação, a respeito deste momento histórico.
Parece que há um entendimento, já discutido em nível de ANDES, de que a opção é não se posicionar. Os argumentos são numerosos, mas em linhas gerais dão conta de que nem o governo anterior, protagonizado por Dilma Roussef, nem o governo atual, protagonizado por Michel Temer, merecem qualquer aplauso do Movimento Docente. O que é um fato. Parece ingenuidade esperar que algum desses atores se aliem a nós na defesa da Universidade Pública, Gratuita e Socialmente referenciada que queremos.
Com efeito, o fato de nem PT nem PMDB nem PSDB nem quaisquer destes partidos que transitam no poder serem aliados do Movimento Docente é de conhecimento até do Reino Mineral. Só que, apesar de este entendimento estar absolutamente correto, a questão não se exaure aqui. Há um importante ponto de vista e uma importante questão a ser debatida: devemos ou não devemos nos posicionar frente à alegação de que o Brasil está sofrendo um Golpe de Estado?
Não se trata de um posicionamento a favor do Movimento Docente. Mas de um posicionamento a favor do respeito aos mais de 54 milhões de votos, quer gostemos do destino deles ou não. Trata-se do respeito à legalidade, que está sendo seguidamente violada em vários aspectos. Trata-se, afinal, do respeito à própria Democracia.
A ADUSC pode se orgulhar de que jamais se furtou em debater e se posicionar em questões relevantes, ainda que alheias ao Movimento Docente. Já se aliou às causas indígenas e outras causas sociais, a movimentos sindicais de outras categorias, a questões de gênero e outras lutas contra diversos tipos de discriminação.
Porque em Sociedade não é possível viver apenas para si. E a ADUSC sempre teve maturidade para entender isso; somos uma associação docente que nunca teve o olhar restrito apenas a nós mesmos.
Ora: se não nos furtamos de ter posicionamento em nenhuma destas questões, porque nos furtaríamos agora, frente à tomada do poder central em Brasília?
A constatação de que estamos sofrendo um Golpe de Estado está largamente disseminada em diversos fóruns. Está cada vez mais claro que as motivações do impeachment não são em nada do interesse da República, e que o processo é inteiramente viciado em sua origem e em seu trâmite. Salta aos olhos que as justificativas ditas legais para a tomada de poder não possuem qualquer substância concreta.
Por este motivo é que, a cada dia, mais e mais setores e atores críticos no cenário nacional e internacional denunciam e se opõem ao Golpe de Estado no Brasil. A diferença entre 2016 e 1964 são os tanques de guerra: vivemos, hoje, tempos mais sutis.
Assim, quando qualquer um de nós, ou que seja o ANDES, propõe que não nos posicionemos frente ao Golpe de Estado, alegando que nenhum dos lados que disputam o poder favorece o Movimento Docente, é de se perguntar: e não nos posicionar fortalece o Movimento de que maneira? De que maneira fechar os olhos, e lavar as mãos, ignorando o que ocorre no Brasil agora, ajudará a Universidade? Em que isto nos tornará mais dignos da boa imagem que cultivamos diante da sociedade e dos demais movimentos sociais e sindicais?
É fácil ver que, em 1964, nem os golpistas nem o grupo de João Goulart eram aliados dos trabalhadores. Muito pelo contrário. Apesar disso, será que podem se orgulhar, hoje, aqueles que, naqueles tempos, não se opuseram? Os que lavaram as mãos?
E no futuro, a ADUSC estaria orgulhosa ou envergonhada de se omitir hoje?
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