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sábado, 21 de janeiro de 2012

O dilema da Universidade

Há algum tempo tenho ouvido de colegas professores universitários uma queixa crescente a respeito da qualidade da formação que é oferecida aos estudantes de ensino médio que aportam à Universidade. As experiências e os relatos dão conta de que estes estudantes chegam à universidade sem deterem elementos fundamentais e indispensáveis da formação fundamental como dominar os princípios básicos da Língua Portuguesa, produzir ou ler um texto com encadeamento lógico trivial, entender conceitos de matemática básica. São tantas as lacunas que se poderia perder muitos parágrafos e muito tempo relatando. Em Ciência da Computação isto ganha aspectos particularmente dramáticos devido à própria natureza desta Ciência, que envereda por aspectos específicos do Raciocínio Lógico, da Linguagem e da Matemática.

Neste sentido, independente de seu valor social, é forçoso reconhecer que as políticas de cotas, sejam elas quais forem, não contribuem positivamente em nada neste cenário. Na tentativa de reparar injustiças históricas, as cotas buscam levar à Universidade todo um grupo de pessoas que, por um motivo ou por outro, estiveram injustamente sempre à margem da Escola. Ou pelo menos da boa Escola. Ocorre, portanto, as pessoas que aportam à Universidade pelas cotas trazem, muitas vezes, uma formação deficiente no ensino médio. Ao gerar oportunidades para uma pequena parte dessas pessoas entrar na Universidade, as cotas podem ter promovido algum ganho social. Todavia, ao mesmo tempo, também ajudaram a diminuir a quantidade de holofotes iluminando o problema onde ele realmente nasce: o Ensino Fundamental e o Ensino Médio.

A Universidade precisa se Reinventar


Não é sem razão, portanto, que os professores universitários reclamam, e cada vez mais, e cada vez mais alto, a respeito da formação trazida pelos estudantes que entram no ensino superior. Está se vendo que uma quantidade cada vez maior do tempo e dos recursos que a Universidade dispõe para a formação superior está sendo usada para corrigir a formação deficiente que vem dos ensinos fundamental e médio. Em muitos casos não há nem o que corrigir, tudo precisa ser efetivamente construído. Este é um sintoma de que o ensino superior está sendo contaminado pela deficiência do ensino médio. A Universidade está tendo que arcar com um problema que, a princípio, ela não criou. Isto lhe traz prejuízos, diminuindo sua capacidade de atender seus objetivos junto à Sociedade.

Todavia, não é correto se eximir deste cenário. A Universidade, quer queira quer não, com culpa ou sem culpa, é efetivamente parte do problema. Mais ainda, é verdade que parte da responsabilidade pelo estado das coisas cabe especificamente ao Ensino Superior, já que é dali que saem os professores do ensino fundamental e médio.

Há, além disso, mais três aspectos que deixam claro que a Universidade não pode se furtar a lidar com o fato de que é parte do problema.

Em primeiro lugar há o fato de que os estudantes que chegam à Universidade, independente de sua formação no ensino fundamental e médio, constroem, juntamente aos professores e funcionários, a Universidade em si. Logo, se a esta não cuida daqueles, efetivamente não está cuidando de si mesma.

O segundo aspecto é que a Universidade não detém força política suficiente para atuar decisivamente na melhoria da formação básica dos ensinos fundamental e médio. Ela, a Universidade, pode e deve reclamar. Que exerça seu legítimo direito de espernear. Que lance luz no problema. Que faça isso tudo, entretanto, sabendo que apenas isso não possui energia suficiente para mover as engrenagens que resolverá o problema.

Finalmente, a Universidade precisa entender que, dados os dois pontos anteriores, cabe ela uma escolha que parece muito simples. Ou trabalha da melhor maneira possível com os recursos (estudantes inclusive) que estão disponíveis ou segue inexoravelmente o rumo da extinção.

A Universidade também é uma vítima do descaso histórico com o ensino fundamental e médio, e é lídice consorte em qualquer processo de reparação dessas perdas históricas. Pagará, e pagará caro. Pode e deve reclamar disso. Infelizmente, porém, fazem-lhe ouvidos moucos as instituições que realmente podem atuar decisivamente no problema. Fica, então, numa verdadeira sinuca de bico. Ou a Universidade se reinventa e aprende a lidar com esta nova realidade ou acabará sendo engolida por ela.

Um comentário:

  1. Estou nesse segmento da Educação Básica, na Área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias.

    Apesar da ênfase na Linguagem Corporal, observo que meus alunos possuem enormes dificuldades na expressão oral e escrita.

    Eles leem muito pouco. Por isso, não conhecem o próprio idioma.

    Na Internet, utilizam-se da linguagem com abreviações e grafias incorretas em textos pobres e sem nexo.

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