Claudio Lembo
Original aqui.
Só os ingênuos ou os maus intencionados não entendem o que está ocorrendo nas cidades brasileiras e, particularmente, em São Paulo, onde, nestes últimos anos, em política, tudo começou.
Está nas ruas uma nova geração. Ela não participou dos acontecimentos marcantes do passado. A redemocratização. As diretas já. O impeachment de Collor.
Deseja participar. Fazer ouvir sua voz. A mera democracia representativa, aquela que permite eleições de dois em dois anos, já não convence. É mero espetáculo vivido por terceiros, os políticos.
Os jovens – e mesmo os adultos – querem ser ouvidos. Cansaram-se das exposições, sempre iguais, dos políticos tradicionais. Os partidos, encontrados às dúzias no mercado, já não representam a mais ninguém.
Manifestação em Brasília |
São meras agremiações presididas por “donos de legendas” que pensam mais em si mesmos e menos na sociedade. As instituições que surgiram após 1988, ano da promulgação da Constituição, são meramente formais.
Neste vazio, repleto de interesses pessoais e egoísticos, ninguém se sente representado. Todos se consideram meros contribuintes sem a contraprestação de serviços públicos.
Os governantes – particularmente após a implantação da reeleição – só pensam no futuro mandato. Gastam verbas incomensuráveis em demonstrar grandes eventos.
Estes, porém, não apresentam a magnitude exibida nas propagandas televisivas. Na realidade, são meras quimeras para enganar ingênuos. No começo deu certo.
Mas, o povo, que é sábio, aprendeu. Hoje todos estão fartos de ver propaganda oficial direta ou subliminar. Já percebe a verdade. Joga a mentira no lixo, sem direito a reciclagem.
O fenômeno não é meramente brasileiro. Por todas as partes se elevam vozes indignadas contra o cinismo dos políticos e dos plutocratas. Aliados, ou não, estes dominaram os espaços da cidadania. Não querem que esta se manifeste espontaneamente.
Os norte-americanos invadiram Wall Street, em Nova York. Os espanhóis a Praça do Sol em Madrid. Os gregos as ruas centrais de Atenas. Os egípcios na Praça Tahir no Cairo. E, nos dias atuais, os turcos são agredidos em Istambul, na Praça Taksin.
Em todos estes casos, que não esgotam a lista de presença popular, os jovens mantiveram-se acampados, de acordo com os seus costumes e hábitos.
Por aqui é diferente, a passeata faz parte de nossas tradições. Nos movimentos cívicos sempre se verificou o deslocamento dos manifestantes.
Ora, o governante que não tem noção deste dado – ou não quer ter – começa errando. Permita à comunidade se deslocar pelas ruas. Desvie o trânsito de veículos. Não dê pretexto para conflitos.
É falsa a premissa de que a passeata impede a livre circulação de veículos e pessoas. É só reorientar os eixos do tráfego e tudo continuará normal. Só os autoritários não percebem esta verdade palmar.
É preciso compreender o momento social que se vive. A sociedade está farta das atuais formas de participação. Esgotaram-se os subterfúgios para manter o povo inebriado.
Desejaram substanciais mudanças nas estruturas sociais. Conseguiram. Só que as exigências – em razão da melhor educação – tornaram-se maiores. Estas não podem se obstadas por ações de contenção violentas.
A revolta, em determinado momento, será geral. Todos se considerarão vítimas. Menos os de má índole e defensores da situação existente. Mudam-se as maneiras de participação ou os conflitos serão permanentes.
Os governantes precisam, nesta situação, tomar cuidado com suas palavras. A defesa do confronto ou da violência nos levará ao caos. A indignação é geral. Só nos palácios há falsa paz propagada pelos áulicos.
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