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terça-feira, 18 de junho de 2013

Nas Ruas

Eis que os jovens do Brasil foram às ruas novamente. E foram decididos. Enfrentaram tudo e todos. Não arrefeceram nem mesmo frente à sempre covarde repressão do Poder.

Mas algo desta vez aconteceu diferente. Ao contrário de outros momentos em que os jovens partiram para mudar os caminhos do Brasil, como no período do impeachement do presidente Collor, dessa vez todos no mundo da política foram pegos de surpresa. Naquele tempo havia a oposição que se articulava com a juventude. Desta vez os jovens se levantaram sozinhos. Sem aviso, sem sinais. Apenas se ergueram e vieram para a Luta.

Este movimento que se prolifera rápido pelo país inteiro jogou pelos ares todo o tabuleiro do xadrez político brasileiro. Governo e oposição vêem, estupefatos, as peças se rearranjarem drasticamente modificadas, sem seguir qualquer regra. O tabuleiro agora é outro, as peças totalmente rearranjadas, e o jogo, aparentemente, continua.

As manifestações mudaram o jogo político
Há muito em jogo. Há muito o que temer. Os oponentes, como esperado neste caso, estão inteiramente atordoados. Não há quem seja capaz de entender se este novo cenário lhe é favorável ou desfavorável. Na verdade, o jogo pode, para o bem ou para o mal, estar na iminência de um xeque-mate.

O PT precisa se preocupar muito, pois é razoável esperar que os protestos comecem a cobrar do partido e de suas gestões à frente da presidência as falhas e as ineficiências, os acordos políticos espúrios, os problemas de orçamento e faturamento, atrasos em execuções de obras. O PSDB, por sua vez, não se vê mais à vontade que seu rival; com a abertura do debate, e com as contradições e as mazelas de suas gestões sendo espalhadas e repetidas, o partido, que míngua a cada eleição, pode acabar sendo definitivamente sepultado. O PMDB (que teve seu site hackeado), o PSB, o DEM e praticamente todos os partidos tradicionais tem efetivamente o que temer. Podem perder muito. Podem não sobreviver. Até mesmo a mídia tradicional, as grandes redes de TV e os jornalões, estão assustados. Mesmo eles podem acabar sendo expostos em praça pública, vendo décadas de imprensa tendenciosa ou mesmo mentirosa sendo despida e execrada por todos. Algo que, aliás, já se vê timidamente. A Rede Globo foi alvo de protestos.

Desta forma, no status quo do jogo político, todos tem muito a perder. Mas ao mesmo tempo, todos tem, potencialmente, a possibilidade de tirar grande vantagem deste momento inesperado. O problema é saber o que fazer e como. Um passo em falso e tudo pode ser deitado fora. O cenário ainda não está totalmente compreendido por nenhum dos jogadores, e isso tomará tempo.

Por esse motivo, até aqui, os movimentos políticos são extremamente cuidadosos. A presidenta fala o óbvio: que se deve "ouvir a voz das ruas". O governador de São Paulo recuou do discurso que caracterizava o movimento como atos de vandalismo e da truculência policial. Prefeitos de todo o país titubeiam com decisões sobre tarifas públicas, particularmente de transporte. Deputados deverão rever deliberações e decisões estapafúrdias como a tramitação da emenda constitucional que limita o poder de investigação do Ministério Público.

Todavia, a parte mais interessante deste momento, que destoa de grandes levantes populares anteriores na história recente do Brasil, é que desta vez todos os políticos estão, pelo menos momentaneamente, acuados. Pela primeira vez eles foram todos, sem exceção, pegos de surpresa. Não sabem como agir, e temem as consequências do momento. A imagem das pessoas cercando o Congresso Nacional por todos os lados - por cima, inclusive - é emblemática. Políticos confinados pelas pessoas de seu país. Democracia é, afinal, o exercício da vontade das pessoas, à qual os políticos devem se dobrar.

E os políticos, pelo menos por enquanto, se dobram. Como nenhum deles sabe exatamente o que está acontecendo, nem as consequências do que se vê, o prudente é não se arriscar. Todos os que podem se ocultar neste momento - prerrogativa que prefeitos, governadores e a presidenta não tem - o fazem quase que despudoradamente. Nenhum político, de nenhum partido, se arriscará em público agora. Há muito a perder.

E nesta Peça, o próximo Ato está por vir. Ele pode mover os manifestantes para um ou para outro lado, e tanto o governo quanto a oposição sabem que podem capitalizar uma vitória decisiva com isso. A Imprensa, aliás, já trabalha nesta direção, mudando o tom com que trata os manifestantes.

Mas os manifestantes podem ainda acabar se movendo para uma ação iconoclasta, destruindo impiedosamente todos os símbolos desta velha política. Ou tudo pode simplesmente se esvair, perdendo aos poucos o fôlego e a legitimidade. É impossível se prever agora qual será o cenário no futuro. Mas muitas coisas, ao que parecem, jamais serão de novo do jeito que já foram um dia.

Quem viver, verá.

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