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terça-feira, 16 de junho de 2009

Porque eu digo SIM ao Porto Sul? (parte 1)

Essa semana recebi um e-mail de uma amiga, em que ela apontava uma série de problemas a respeito do Porto Sul. Boa parte do que ela apresentou de material ganhou minha imediata concordância. Outra boa parte me suscitou dúvidas. Uma parte final não me convenceu. Imagino que as partes montem, respectivamente, 20, 30 e 50% do material.

Mas isso vem pouco ao caso.

Eu permaneço defendendo a idéia do Porto Sul. E são duas as minhas motivações: em primeiro lugar, e me desculpem os que não gostam de ouvir isso, essa região é, e sempre foi, muito pobre, embora habitada por algumas pessoas muito ricas. Os modelos econômicos que foram experimentados aqui não geraram mais que alguns latifundiários e empresários que exploram o turismo, e uma imensidade de pessoas com pouca ou nenhuma condição de evolução social e econômica. O segundo motivo é que, apesar de acrescentar certos riscos, e demandar toda uma gama de cuidados e atenções, o projeto do Porto é uma tentativa real de romper com o modelo econômico gerador de pobreza. Como bem foi também o Pólo de Informática, cuja gestão e contratempos acabaram por, infelizmente, deixá-lo fortemente minado. Contudo, é preciso ressaltar que o desenvolvimento baseado na indústria mostra, historicamente, muito mais progressos sociais e econômicos do que os modelos baseados no setor primário. Não percamos isso de vista.

As minhas motivações são polêmicas, eu sei bem. Já levei muita “pedrada eletrônica” porque afirmei, aqui e em alguns outros lugares, que a cidade de Ilhéus é uma cidade economicamente decadente. Mas infelizmente os fatos não mudam apenas porque não gostamos dele. De fato, a monocultura baseada no Cacau, e a “Indústria do Turismo” nunca promoveram o real desenvolvimento desta região. E eu não creio que vão promover. Ilhéus está, há vários anos, com desemprego crescente (mesmo quando no Brasil inteiro se quebrava recordes de geração de emprego, em Ilhéus os números só pioravam), com a população diminuindo, sofrendo com o êxodo de pessoas que abandonam a cidade em busca de emprego. Os índices sociais de miséria, violência, abandono, prostituição e tráfico de drogas só fazem crescer.

O motivo pelo qual essa região nunca alcançou um verdadeiro desenvolvimento econômico e social é, por incrível que pareça, até simples de se entender.

No caso do Cacau, a produção é baseada no modelo da monocultura. O mesmo que tivemos no Brasil na época do café, em São Paulo, Paraná e Minas Gerais; ou do algodão, no sertão Nordestino; ou da cana de açúcar, nas partes mais orientais dos estados de Alagoas, Pernambuco e Paraíba. Em todos esses casos de monocultura, e o Cacau não foge à regra, gerou-se alguns fazendeiros e negociantes (aqui eram "exportadores") bastante abastados, cercados de lavradores (bóias-frias), estivadores e, como infelizmente sempre acontece, prostituição (e tráfico, mais recentemente) que formam uma imensa população abaixo da margem da pobreza. Ainda hoje é assim, e não há um único indício de que isso tenha a menor propensão a se transformar.

A alternativa do Turismo também não se mostrou verossímil. Em primeiro lugar porque é uma atividade que sofre fortemente com a sazonalidade: praticamente inexiste nos meses de baixa estação. Além disso, o modelo de turismo da cidade é baseado no pior e mais amador turismo que existe: o dos “moradores de verão”. Nada pessoalmente contra quem mantém uma casa por aqui para vir no verão. Tampouco contra quem prefere alugar uma casa na praia por alguns dias ou semanas. Mas do ponto de vista das pessoas da cidade de Ilhéus, qual a vantagem? Pois esse modelo de turista normalmente não freqüenta restaurantes, nem barracas de praia, nem barzinhos. Prefere consumir produtos trazidos de suas cidades, e fazem-no dentro das suas casas, alugadas ou não. Não geram empregos, não geram renda, não ajudam significativamente o município. Muitos deles (mas não todos, que se diga bem) ainda emporcalham as praias e as ruas, consomem do comércio clandestino, incentivam a prostituição (de crianças inclusive) e o tráfico de drogas. Verdadeiros parasitas.

Claro que não devemos abrir mão do turismo, nem da cultura do Cacau. Estes dois, inclusive, estão histórica e culturalmente interligados. Tem lá o seu valor, e não estando toda a região refém desse modelo, vale até a pena mantê-los. Mas precisamos entender um fato muito simples: por melhor que eles possam ser – e definitivamente podemos melhorá-los muito – eles simplesmente jamais serão bons o bastante.

Daí que propostas como o Porto Sul me parecem bem vindas, porque diversificam a produção econômica, aumentando as oportunidades de emprego e renda, que poderão ser obtidos direta e indiretamente. Além de trazer toda uma infra-estrutura para a região, o que acaba sendo um patrimônio estrategicamente importante no futuro.

Em breve eu ponho a segunda parte desse pequeno monólogo, onde eu discuto o porquê de o Porto Sul estar eivado de uma série de riscos potenciais, que demandam nosso mais intenso cuidado, mas continua sendo, para mim, uma excelente alternativa para o desenvolvimento econômico da região.

2 comentários:

  1. Prezado Degas,
    Parabéns pelo empenho no debate. Cá entre nós, há tempos que assumi a política de (pelo menos geralmente) não responder a comentários anônimos. Quem não tem coragem de assinar seu nome não merece (a não ser que tenha motivos justos para se econder) o esforço para ser respondido.

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  2. Boa noite Degas, venha aproveitar o espaço e divulgar o FORUM PORTO SUL BAHIA.

    Estão todos convidados a participar, debater e criar novos tópicos contribuindo para o esclarecimento de todos.

    Acesse: www.portosulbahia.com.br

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