O Começo do Fim?

Logo que vim morar em Ilhéus, te conheci, pracinha da URBIS. Na época, confesso, não gostei nada de ti. É que teu aspecto era terrível: um matagal sem nenhum cuidado, onde as pessoas inescrupulosamente depositavam a pior parte de sua fisiologia, espalhando um odor insuportável.

Também notei que tu andavas sempre muito mal acompanhada, e próximo de ti, até usando de tua proteção, se notava criminosos de toda sorte. Você testemunhou, calada, tanta coisa: tráfico, prostituição, assaltos. Quase diariamente. Sempre impunemente.

Não era agradável tua companhia.Tampouco era a dos que sempre apareciam junto a ti.

Anos depois, já em 2009, te reencontrei pracinha. Rejuvenescida!

Tu remoçaste muitos anos! Agora tua aparência é tão atraente, tua companhia tão agradável! Que belo trabalho do Poder Público e dos Moradores do Bairro!

Hoje, ao redor de ti, se vê famílias, crianças, comerciantes. Ouve-se as pessoas conversando, a infância brincando. E se come, e se bebe, e se diverte. Você está linda. As horas contigo, querida Pracinha da URBIS, passam que nem se sente.

Mas cuidado! Hoje já notei que tu voltaste a se deixar acompanhar por influências sombrias. Hoje já não senti tanto prazer em passar horas contigo.

Não ouvi mais a infância brincar, embora ela lá estivesse.

É que alguém, abusando de tua hospitalidade, decidiu empurrar nos ouvidos de todos a sua música. Um Bundão com o Fundo Aberto, como bem explica Renato Fechine.

E não se pôde mais conversar, e não se pôde mais relaxar, e não se pôde mais ficar em paz. Eu e outros desistimos e fomos embora. E a Pracinha ficou lá. Menos alegre, menos atraente, menos de todos.

Te queremos, pracinha. De novo. Linda. Com as pessoas, com as crianças, com a alegria,  a paz, o sossego. Não te aproxime das pessoas erradas. Não te esquece de teu passado, e de tudo o que tu passaste para ser bela e atraente como hoje.

Há quem deseje tomar para si o que de melhor há em ti: o ser de todos. Cuidado, isso pode ser só o começo.

Do fim.

Da Praça.