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terça-feira, 2 de novembro de 2010

Fratura exposta

Há uma infinidade de motivos para que o Brasil comemore o resultados das urnas.


Um, em particular, não é exatamente motivo de festa. Mas é um esqueleto que finalmente pula para fora do armário.


O Brasil mostrou todo o seu preconceito. Como discute a professora Prof. Tania Bacelar de Araujo, da UFPE: "A ampla vantagem da candidata Dilma Rousseff (...) no Nordeste reacende o preconceito de parte de nossas elites e da grande mídia face às camadas mais pobres da sociedade brasileira e em especial face ao voto dos nordestinos. Como se a população mais pobre não fosse capaz de compreender a vida política e nela atuar em favor de seus interesses e em defesa de seus direitos".


De fato, trata-se o voto dessas pessoas todas com uma certa indulgência. Como se fosse um mal necessário. Do ponto de vista dessa análise, os Nortistas e Nordestinos não são pessoas que estão depositando sua confiança em um projeto que efetivamente deslocou o eixo principal de desenvolvimento do Brasil para regiões outras que o Sudeste (um amigo defende que Lula rompeu com o SDD: "São Paulo Driven Development" - Desenvolvimento Orientado por São Paulo) e, conseqüentemente, dando a regiões como o Norte e o Nordeste a oportunidade de, em décadas, finalmente experimentar algum tipo de desenvolvimento efetivo.


Há o argumento óbvio e repetido, de que o Bolsa-Família é que permitiu ao governo federal uma efetiva "compra de votos branca" nessas eleições. Ocorre que, infelizmente, os dados não sustentam tal hipótese: Dilma obteve mais de 60% dos votos do Nordeste. E não são 60% das pessoas daqui beneficiárias de programas sociais. Simples assim.


Ocorre que, infelizmente para alguns analistas de plantão, o que ficou em contraste nessas eleições foi o país que vivemos nos anos 90 (entre 1994 e 2002), marcado pelo investimento regionalizado (Sudeste, principalmente) e por pouca sensibilidade às carências sociais do país.


Os eleitores compararam isso com o Brasil do século 21 (entre 2003 e 2010), onde o interesse da administração federal se voltou em parte para os programas sociais, é verdade, mas também para um grande projeto de integração nacional, apostando no crescimento da produção e consumo de massa. Isso foi muito bom para a economia e para o desenvolvimento social do Brasil. E, é verdade, em particular para as regiões Norte e Nordeste.


Esta é uma hipótese que se sustenta, e nos permite entender o porquê de 60% dos votos daqui terem ido para a candidata do projeto atual.


Todavia o fato é que para os "analistas", bem como para boa parte da grande mídia, e, principalmente, para os políticos da oposição, há e haverá sempre um fato que permanece: só votou no projeto do atual governo a camada "mais pobre e menos esclarecida da população". Os votos vieram de pessoas que não escolhem por motivações pragmáticas e pela percepção que possuem quando comparam os dois projetos, já que em tese seriam incapazes de tal exercício. Seriam apenas pessoas que votam em resposta à recompensa imediata, a refeição provida pelo Bolsa-Família. Cérebros não evoluídos, que atuariam meramente como os cães do famoso experimento de Pavlov.


Uma visão que expõe a ferida aberta e infeccionada de todo o preconceito que sempre existiu, e que agora aparentemente nem se esconde mais. A pele se rompeu. Não está escoriada, tampouco é uma simples contusão.


É Fratura Exposta.

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