Naquele tempo se
supunha que a Terra era plana. Não é difícil se imaginar o porquê:
a Terra parecia plana como uma mesa sob qualquer ponto de vista. A
observação que se fazia a respeito dava conta de uma grande
superfície chata, onde se distribuíam pessoas, cidades, animais,
plantas, estradas e tudo o mais. Qualquer hipótese de que não fosse
assim, chata, parecia inverossímil; não se coadunava aos fatos.
Haviam, porém, os que
suspeitavam do contrário; talvez a Terra fosse, afinal, redonda.
Talvez “em baixo”e “em cima” fossem apenas condições
relativas à posição do observador no Planeta. Todavia, se todos os fatos e
observações sugeriam o contrário, como fazer para sustentar esta
frágil hipótese?
Eratóstenes viveu no
Egito entre os anos 276 e 194 antes de cristo. Ele era
bibliotecário-chefe na Biblioteca de Alexandria. E lá, um dia,
Eratóstenes se deparou com um relato: uma vara fincada em Siena ao
meio-dia do solstício de verão não produzia nenhuma sombra. Esta
informação parecia inútil, a princípio. Eratóstenes fez, porém,
um experimento: mediu o comprimento da sombra de uma vareta ao
meio-dia do solstício. Em Siena e em Alexandria. O relógio era
unificado entre todas as cidades daquela região.
Eratóstenes observou
que a varinha de Siena não produzia, de fato, qualquer sombra.
Todavia, a que estava em Alexandria sim. E isso era um fato que
absolutamente negava a hipótese de que a terra fosse plana. Pois se
assim fosse, as varinhas deveriam sempre, independente de sua
localização, produzir a mesma quantidade de sombra em relação ao
seu tamanho.
A figura abaixo mostra
o que deveria ser observado caso a Terra fosse realmente plana: as
sombras das duas varinhas deveriam ser iguais. Mas não eram.
Como deveriam ser as sombras se a Terra fosse plana |
Eratóstenes provou com
seu experimento que só havia uma explicação possível para as
diferenças entre as sombras: a Terra, apesar de parecer plana,
simplesmente não poderia ser assim. A Geometria garantia que não. A superfície da Terra, na verdade, precisava necessariamente ser curva.Só
isso justificaria os resultados das observações de Eratóstenes.
Sombras diferentes: a Terra precisa ser curva |
Evidentemente as
observações de Eratóstenes surpreenderam. E assustaram muitas
pessoas. Mas ele foi além. Eratóstenes sabia que a distância entre
Alexandria e Siena (veja o mapa abaixo) era de 500 estádios
(aproximadamente 800 Km).
Mapa do Egito antigo: Alexandria e Siena |
Considerando o tamanho
da sombra e cálculos trigonométricos simples, Eratóstenes calculou
que o ângulo dos raios solares em Alexandria era de aproximadamente
7o e 12'. Usando a semelhança de triângulos da geometria
euclidiana, Eratóstenes viu que este ângulo era exatamente a
diferença de inclinação de Siena e Alexandria em relação ao
centro da Terra.
A distância e o ângulo de inclinação: medindo a circunferência do Planeta |
Então Eratóstenes faz
uma conta simples: se 7o e 12' de ângulo equivalem a 800
km (500 estádios), 360o equivalerão a... 40.000 km! Este deveria,
portanto ser o diâmetro da Terra.
Para se ter uma ideia,
o valor atualmente aceito, é de 39.490 km. Um erro de pouco mais de
500 km. Totalmente aceitável se considerarmos que ele não podia
medir ângulos e distâncias com a precisão que se dispõe hoje.
Metodologicamente, a
análise de Eratóstenes é perfeita. Desde então os instrumentos de
medição se tornaram incrivelmente mais precisos e os resultados
incrivelmente mais exatos que os dele. Mas a abordagem é
rigorosamente a mesma.
Genial.
A geometria é disciplina é espetacular e fascinante
ResponderExcluir