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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Audiência

Amanhã é o dia da audiência pública em Ilhéus, para debate e argumentação sobre a construção da Ferrovia Oeste-Leste.

Eu acho que esta é uma ótima oportunidade para que os argumentos sejam mostrados. Os verdadeiros argumentos. Pois há mais coisas em jogo, no projeto, que infelizmente não serão postos à mesa.

Há interesses de grandes empresas, tanto as construtoras quanto as exportadoras, que tem interesses financeiros reais e imediatos no empreendimento. Não interesses coletivos, apenas interesses individuais. Legítimos. Mas inconfessáveis em debates desta natureza.

Há também interesses econômicos de proprietários de terras e alguns empresários do ramo turístico, que verão seus negócios serem prejudicados com a passagem da Ferrovia e a posterior construção do Porto e do Aeroporto. São interesses legítimos, mas igualmente inconfessáveis, dadas as circunstâncias.

Todos se esconderão. Ou atrás do argumento do desenvolvimento econômico, ou atrás do argumento da preservação do meio-ambiente.

Que são os únicos argumentos realmente válidos nesta discussão. E é nesse ponto que, em meu modesto entender, cometem um erro de estratégia os que levantam a bandeira do meio-ambiente.

Porque é muito fácil mostrar que a construção e operação da Ferrovia gerarão impactos ambientais. Mas ocorre que todo e qualquer empreendimento promovido por seres humanos gera impacto ambiental. O argumento, portanto, não só é desgastado pelo uso repetitivo, como também é ilógico: a única maneira de os seres humanos não causarem impacto ambiental é não promoverem nenhuma ação. O que é totalmente sem sentido.

Logo, posto que o impacto ambiental é inevitável, tanto neste quanto em qualquer outro tipo de empreendimento, a discussão precisa se focar em dois pontos: minimização e compensação.

E neste sentido a discussão se torna difícil para os defensores do meio-ambiente. Porque é certo que todas as tecnologias que minimizem os danos ambientais podem ser empregadas na construção da Ferrovia. E é certo também que ações compensatórias, de proteção e recuperação de áreas degradadas, serão tomadas. Isto sim, precisa ser garantido e fiscalizado pelos governos e pela própria sociedade.

Assim, fica vazio o argumento da preservação ambiental. E é por este motivo que esconder-se atrás dele não parece ser uma decisão muito sábia do ponto de vista estratégico.

Por outro lado, o argumento do desenvolvimento econômico ganha força com uma simples observação a respeito dos índices de desenvolvimento humano, desemprego, violência, pobreza e renda média dos trabalhadores do Sul da Bahia. A Região ex-cacaueira empobrece rápida e inexoravelmente. Não há nenhuma outra alternativa ao binômio turismo-cacau, que há décadas vem mostrando que são incapazes de promover qualquer tipo de desenvolvimento duradouro e sustentável, exceto o empreendimento do Complexo Intermodal.

Esconder-se atrás desse argumento é, do ponto de vista estratégico, muito mais seguro. As evidências estão aí, os fatos falam por si mesmos, não há como negar: o Complexo Intermodal, no qual a Ferrovia está integrada é a única alternativa viável e concreta que se apresenta.

Não obstante, independente de haverem interesses escondidos tanto atrás da preservação ambiental quanto do desenvolvimento econômico, é muito salutar que a audiência esteja pautada pelo debate entre essas duas correntes. Por dois motivos.

Primeiro, porque há pessoas que estão legitimamente preocupadas com a preservação ambiental. Assim como há os que apostam no desenvolvimento econômico a ser promovido pelos empreendimentos ora em debate. Estes serão debatedores francos.

Segundo porque, do ponto de vista da comunidade, estes são os argumentos que interessam: mais do que quem está defendendo o que, e por qual motivo, interessa às pessoas de Ilhéus e região saber qual o impacto ambiental que o projeto efetivamente gerará (alguns discursos alardeiam como se fosse o fim da biosfera), como este impacto será minimizado e compensado. Além disso, quanto desenvolvimento econômico será promovido, e de que forma isso será repartido, gerando riqueza e distribuição de renda.

Que venha a audiência, então. E que venham os debatedores, mesmo com interesses escondidos, e que tragam todos os seus argumentos. Mas apenas os argumentos.

É a Razão, e não os ânimos exaltados, que promovem o bom debate.

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