Luís Nassif
Original aqui.
Uma nova pequena amostra sobre os erros da centralização de decisões nas mãos da presidente da República.
Dilma centraliza todas as decisões |
O governo federal é o que em administração se chama de organização complexa, tendo de administrar um país com mil demandas, estruturas de poder, modelos gerenciais estratificados, representação política anacrônica, dezenas de ministérios trabalhando de forma compartimentalizada, navegando em temas dos mais díspares, da infra-estrutura às políticas sociais.
Por isso mesmo, é humanamente possível administrar de forma centralizada. Nem Jack Welch conseguiria.
A gestão correta consiste na presidente definir uma estrutura hierárquica, dividindo essa realidade complexa em grupos temáticos e colocando para gerenciá-los pessoas de alto nível e de confiança total do presidente.
Depois, tratar cada problema que surge de forma definitiva. Identificado o problema, monta-se uma comissão constituída de todos os agentes envolvidos com o tema, e define-se uma linha de ação definitiva e permanente - para o problema ser definitivamente tirado do chek-list de preocupações governamentais.
A atuação da presidente limita-se à parte nobre da empreitada: definir os rumos e cobrar resultados. E dar autonomia para sua equipe trabalhar.
O erro central de Dilma tem sido centralizar todos os temas nas suas mãos. Ocupada em querer administrar tudo, não sobrou tempo para definir as regras.
Quando o problema torna-se premente, Dilma entra na jogada e começa a trabalhar a solução. No dia seguinte surge um novo problema e o anterior é abandonado, para ressurgir tempos depois, como fantasmas nunca exorcizados.
Esse estilo de chamar tudo a si, além de extremamente desgastante, gerou um corpo ministerial absolutamente acomodado. Ninguém enxerga o problema como dele, mas da presidente.
Dia desses conversava com um repórter brasiliense. Ele me disse que, ao contrário do que a opinião pública imagina, os ministros mais ativos são os políticos com personalidade própria, sem se deixar intimidar pela mera presença da presidente. O de Minas e Energia está trabalhando para consertar os erros das mudanças do setor elétrico; o de Transportes está se virando.
Já a cota pessoal é totalmente acomodada - com notáveis exceções, como Mirian Belchior, do Planejamento, e Tereza Campello, do Desenvolvimento Social e, agora, Aluizio Mercadante, da Casa Civil. Em áreas críticas, como a Fazenda e a Justiça, não há a menor proatividade.
Em outros Ministérios menores, não há sequer cobrançaa.
O caso da Copa é típico. Há pelo menos dois anos, o Ministro dos Esportes Aldo Rabello e a Secretária de Comunicação Social já deveriam ter definido uma estratégia de esclarecimento contra as lendas criadas no período.
Contei aqui de um Brasilianas sobre o tema, no qual o Secretário Executivo do Ministério dos Esportes calou dois críticos radicais da Copa com argumentos e dados consistentes.
No entanto, indague-se de Aldo a razão de nunca ter conduzido uma campanha de esclarecimento. Dirá que os marqueteiros de Dilma não deixaram, para que a população não associasse os problemas da Copa à imagem da Presidente. Disse isso a jornalistas sem apresentar um pingo de constrangimento.
Os marqueteiros dirão que o problema é de Aldo, que poderá passar o bastão para a Secom, que dirá que caberia ao Ministério dos Esportes, que finalmente alegará que nada fez por não ter sido autorizado pela presidente.
Há dois anos já se sabia que a Copa seria o tema do ano para a desconstrução do governo. Nada se fez aguardando a presidente. Agora, a presidente dá uma entrevista que, por ser da presidente é repercutida em todos os jornais, brandindo argumentos racionais que irão bater em lendas já estratificadas na opinião pública.
É apenas um exemplo de como a vezo da centralização leva os governos a dedicar todas suas energias a apagar fogo e a correr atrás do prejuízo.
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