Rodrigo Borges
de Carta Capital
Original aqui.
Alex foi o cara do último domingo. Com o Campeonato Brasileiro definido para o Cruzeiro e classificação do G4 resolvida no sábado, restou para o dia nobre do futebol a disputa contra a Série B e a justa reverência a Alex. Bahia e Vitória caíram, o Palmeiras ficou e o craque do Coritiba foi homenageado. A TV falou seu nome incansável e merecidamente.
Mas faltou falar – ou falou-se pouco – de Richarlyson.
Richarlyson não foi um craque. Não foi um fora de série. Foi, na verdade, um jogador comum. Mas merece homenagens por ter sido digno e valente. Pelo homem conseguiu ser – em um ambiente que é avesso ao diferente. Em um esporte que gosta de lançar olhares preconceituosos.
Em junho de 2007, uma nota na coluna Zapping, do jornal Agora S.Paulo, transformou para sempre a vida do volante/lateral. Fabíola Reipert, então titular do espaço, afirmou que um jogador de um grande clube paulistano estava disposto a assumir sua homossexualidade em entrevista ao Fantástico. A entrevista jamais aconteceu, nunca se soube se a nota era real.
Mas dois dias depois da publicação da nota, José Cyrillo Júnior, então diretor do Palmeiras, disse à TV Record, ao ser perguntado sobre a informação do Agora, que o atleta em questão era Richarlyson. O São Paulo, clube que o jogador defendia, ameaçou processar o dirigente.
Richarlyson rindo
Richarlyson, que já era “escalado” para piadas preconceituosas, passou a ser alvo de ódio por parte organizada da torcida tricolor, que se recusava a gritar seu nome quando a escalação aparecia no placar. Foi atacado e ironizado por torcedores rivais e viu sua vida virar alvo de fofoca e brincadeiras – bem, depende do que seu estômago tolera como brincadeira. Se você já buscou o nome do ex-jogador no Google sabe do que está sendo dito aqui. Chegou a apresentar uma namorada, que posou para a Playboy, virou subcelebridade e, quando terminou o relacionamento, três meses depois deu entrevista dizendo que os dois nunca fizeram sexo.
Mas Richarlyson não rifou sua dignidade. E no momento em que tantos sucumbiriam, cresceu. Foi tricampeão brasileiro pelo São Paulo de 2006 a 2008 e figura importante nas conquistas de 2007 e 2008, justamente quando estava no centro da polêmica nascida a partir de uma nota de uma coluna de fofoca de um jornal. Em 2007, ganhou a Bola de Prata, tradicional prêmio da Placar, e entrou na seleção do Campeonato Brasileiro. Em 2008, chegou a defender a seleção brasileira. Sem jamais perder a personalidade. Nunca deixou de se vestir de forma extravagante ou de arrumar o cabelo da forma que gostava.
O jovem aposentado – tem 31 anos – foi um trabalhador, jornalistas que estavam no dia a dia do São Paulo nos tempos em que lá jogou falam dele com respeito, como alguém avesso a panelas ou confusões. Depois do Tricolor, com menor evidência, passou por Atlético – campeão da Libertadores – e Vitória. Queria eu que tivesse defendido meu time. Revoltado com a qualidade da arbitragem no Brasil, decidiu parar.
Alex, merecidamente, recebeu homenagens. Uma pena que sua despedida tenha ofuscado o adeus de Richarlyson. Não era um craque, mas o futebol brasileiro perdeu uma fatia importante de dignidade no último domingo.
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