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terça-feira, 15 de junho de 2010

A Copa da Defesa

Esta Copa do Mundo está realmente muito feia.

Não ousaria dizer que o nível das equipes é fraco. Não acho que seja esse o caso. O Brasil, a Espanha e a Alemanha não são, definitivamente, equipes fracas.

Na mesma linha, equipes como a Argentina, Holanda, Inglaterra, e Itália também merecem o devido respeito. Não é um futebol ruim o desta Copa do Mundo.

É um futebol feio. Pelo menos no sentido da plasticidade, da vistosidade das partidas.

As equipes parecem excessivamente preocupadas em não tomar gol. Os treinadores, aparentemente, entendem que um gol é muito valioso. O gol do adversário, bem entendido. Portanto, não se deve correr o risco de permitir essa vantagem.

Há exceções. Equipes que buscam fazer placares mais favoráveis como a Alemanha, que conseguiu um escore elástico (para as atuais circunstâncias) contra a fraquíssima Austrália.

O Brasil também deve ser uma seleção que faz mais gols, a se ver o retrospecto da seleção, com mais de 100 gols marcados nos últimos 3 anos, com direito a goleadas sonoras sobre a Itália, a Argentina e Portugal.

A própria Argentina, por filosofia, e pelo talento de seus jogadores (pessoalmente eu acho que Los Hermanos possuem o melhor elenco da copa), além da Espanha. Somente dessas seleções se pode esperar muitos gols. Das demais só é razoável esperar o que temos visto até agora: 1x0 e 0x0. Em ocasiões felizes, um ou outro 2x0. E será só isso.

Esse fenômeno aconteceu também nas copas de 1986, onde apenas o Brasil, a Dinamarca e Maradona eram exceções, e 1990 onde apenas a Alemanha conseguia mostrar alguma eficiência ofensiva.

Em 1994 uma nova regra incentivou os treinadores a ir em busca da vitória, e consequentemente do gol: três pontos para o vencedor. Além disso, a proibição do recuo da bola com o pé para o goleiro forçou as equipes a saírem para o jogo com mais freqüência. Isso explica o porquê de nas copas de 1998, 2002 e 2006 o Gol ter sido uma companhia feliz e mais freqüente nas partidas.

Mas em 2010 os treinadores aparentemente voltaram a valorizar muito o gol do adversário. Isso torna as equipes mais fechadas, o espetáculo menos possível.

Há uma beleza sutil na eficiência que se alcança ao se buscar esse caminho. E é respeitoso que os treinadores façam o que estiver ao seu alcance para vencer, já que a Vitória é o verdadeiro Corolário do Esporte. Só que o espetáculo deixará um tanto a desejar.

Todavia, para nós, brasileiros, isso pode ser bom. O Brasil parece bem preparado para esse momento: se nosso setor ofensivo não parece particularmente talentoso, a quantidade de gols que nossa seleção canarinho marcou ao longo de sua preparação demonstra que o ataque definitivamente funciona. E a defesa é muito forte, o que diminui as perspectivas dos atacantes adversários.

Pode ser que não aconteça. Há sempre muitos entraves difíceis numa Copa do Mundo. Para piorar, desde 1982 não pegamos uma chave tão difícil. Naquela Copa, lembro bem, enfrentamos a fraquíssima Nova Zelândia. Mas a Escócia era um adversário bastante difícil. E a perigosíssima União Soviética, com o infernal Dasaev no Gol, quase não foi batida pelo fabuloso time de Telê Santana.

Agora temos uma Coréia do Norte que teoricamente não assusta. Mas Costa do Marfim e Portugal serão, seguramente, adversários muito competentes e traiçoeiros.

Trabalho duro pela frente.

Entretanto, a mim me parece que o Brasil está bem preparado para as atuais circunstâncias. Dunga possui uma filosofia de trabalho que é muito sintonizada com o paradigma desta Copa do Mundo, onde não tomar gols é o objetivo principal a ser perseguido. Se nada de anormal ocorrer, quem souber rezar melhor nessa cartilha vence o torneio.

A não ser que o Talento, esse delicioso canalha do imponderável, resolva aparecer para inverter a lógica e subverter as previsões, como Maradona fez em1986.

Tomara que não. Porque nessa Copa, ao contrário do que estamos acostumados, o Talento parece mais propenso a aparecer no campo de lá.

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