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terça-feira, 29 de junho de 2010

A Crise de Seu Maneco

Essa história veio de um bom papo, com um bom amigo, meu irmãozinho Dínis lá de Picuí/PB.

Vamos imaginar que Seu Maneco tem um Boteco. Maneco é para rimar, e Boteco é para familiarizar a todos com o ramo de atividades de seu Maneco.

O negócio de Seu Maneco é simples de entender: um Boteco é o lugar onde se vende cachaça aos bebuns.

Uma dose de cachaça custa 1 real lá no Boteco do Maneco. Mas ocorre que nem todos os clientes estão convenientemente prevenidos quando se lhes acomete a Sede. Daí que Seu Maneco tem um caderninho, onde ele registra as dívidas de sua clientela. Por via das dúvidas, Seu Maneco cobra 1 real e 50 centavos de cada dose que ele pendura no caderninho. Isto posto, o valor total que há no Caderninho é de 600 reais, embora se refira a 400 doses de Destilado.

Aí uma cidadã, chamemo-na de Bianca, pois em Francês banco é feminino, e aí ainda conseguiríamos seguir rimando, aparece no Boteco do Maneco. Bianca é bastante esperta, e vê logo que ali no Caderninho há um “Ativo não Realizado”.

Paciente, Bianca explica a seu Maneco que há um risco inerente aos Ativos não Realizados, já que a adimplência dos alcoólatras não é grande coisa, e consegue que Seu Maneco venda seu caderninho a ela por 500 reais.

De posse do Caderninho, a primeira coisa que ela faz é mudar o nome dele. Não é muito vantajoso se negociar o “Caderno do Boteco do Maneco”. Uma nova capa, e ele agora se chama FERRO: Fundo Estratégico de Recebíveis Rotativos Operacionais. E aí Bianca mete esse FERRO no Mercado, com uma conveniente margem de lucro.

Bianca divide o FERRO em 300 cotas de 2 reais e oferece às pessoas. Acaba faturando 600 reais, pelo caderninho que lhe custou 500.

Depois que muitas pessoas levam suas cotas de FERRO a 2 reais, e ainda continuam procurando, acontece de alguém topar vender a sua. Mas apenas por 2 reais e 50 centavos.

Sabendo que estão negociando as cotas de FERRO a 2 reais e 50 centavos, as pessoas percebem que o valor de FERRO está subindo, e passam a desejar mais esse ativo. E em breve as pessoas começam a levar uma cota de FERRO por 3, 4, 5, 7, 10 reais.

O tempo passa, todos ficam felizes, porque compram por um valor e vendem por valor superior.

A roda vai girando, e a crença de que levar FERRO é um ótimo investimento aumenta. Já se leva FERRO por mais de 100 reais a cota. O Caderninho de Seu Maneco se transformou em um fundo coletivo – mantido por muitas pessoas – de valor aproximadamente igual a 40 mil reais. Negócio da China, não?

Sim. Até o dia em que alguém se apercebe de que FERRO não passa de um caderninho de assinaturas de bebuns. Soa um alarme, e então todo mundo quer vender suas cotas de FERRO, já que ninguém quer confiar seu investimento em promessa de cachaceiro. Oferecem a cota por 90, 80, 60 reais, torcendo para que alguém compre. A descida do valor é inexorável.

Uma cota de Ferro pode chegar a menos de 1 real rapidinho.

Em seguida os demais investimentos que Bianca oferece são todos postos sob suspeita, já que foi ela quem meteu FERRO em todo mundo. Assim, os preços dos demais investimentos de Bianca começam a cair também.

Ocorre que muitos dos investimentos oferecidos por Bianca estão nas mãos de colegas que também vendem pacotes semelhantes. Dessa forma, a desconfiança se espalha para todo lado. Todo mundo quer vender tudo. Isso é o que se chama de “pânico dos mercados”.

E assim se instala uma crise financeira internacional: tudo culpa de Seu Maneco.

Um comentário:

  1. Genial professor! Se trocarmos o caderno de bêbados por hipotecas que não serão pagas teremos a crise real que o mundo viu.

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