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sábado, 26 de junho de 2010

Flavio Gomes: Tudo vale à Pena

Texto interessante sobre Fórmula 1, Regulamentos, Ultrapassagens.

A gente quer ver ultrapassagens, mas não quer que elas deixem de ser alguma coisa especial. Quem esquece das manobras de Villeneuve e Arnoux em Jarama, 1979? E Mansell X Senna em Jerez, 1886? E Piquet X Senna em Hungaroring no mesmo ano? E Senna X Prost (e vice versa) no Japão e em Portugal 1988? E Mansell X Senna em Barcelona, 1990? E Hakkinen X Schumacher em Spa, 2000?

O Original vem do Site Grande Prêmio, e pode ser lido aqui.

Tudo vale à Pena
Flavio Gomes

"E tome pacotão na F1. Pirelli de volta depois de 20 anos, proibição dos dutos frontais acionados por dentro do cockpit, adoção de asa traseira móvel, mas que só pode ser usada quando o piloto estiver menos de 1s atrás de quem quer ultrapassar, retorno do KERS, aumento do peso mínimo, volta da regra dos 107% para eliminar os mais lentos do grid...

Como sempre digo, pode-se acusar a F1 de tudo, menos de não tentar. Os dispositivos 'pró-ultrapassagens' são uma tentativa. O KERS era caro, mas já é algo que existe na indústria automobilística. Que se coloque de novo nos carros e pronto — embora o duto que a McLaren inventou seja algo bem mais engenhoso e barato; só que, para carro de rua, não serve para nada. O KERS é ecologicamente correto. É um dispositivo que aproveita energia desperdiçada. A isso se chama 'sustentabilidade' e é bonito de falar. Essas asas móveis, tudo bem. O que não é legal é deixar para agentes externos, os comissários e os sistemas eletrônicos de cronometragem, a 'autorização' de uso.

Mas é preciso dizer que inventar muita coisa para facilitar as ultrapassagens não é exatamente aquilo de que a F1 precisa agora. O fim do reabastecimento e a ousadia na escolha dos pneus para as corridas têm proporcionado boas provas neste ano. E, além do mais, ultrapassagem nunca foi algo tão abundante na categoria. Eu costumo comparar a F1 ao futebol, traçando um paralelo inteligentíssimo com a Indy e o basquete.

Na Indy, há ultrapassagens pacas. Nos ovais, então, é uma festa do caqui. Mas elas são tantas que ninguém se lembra de nenhuma em especial. É como no basquete, cuja pontuação é generosa, quase centenária. São dezenas e dezenas de cestas, é difícil registrar alguma na retina ou nos neurônios.

Já a F1 é como o futebol. A ultrapassagem é o gol. Difícil, construída com sangue, suor e lágrimas. Estudada, planejada, executada à perfeição. Futebol tem poucos gols, basquete tem muitas cestas. F1 tem poucas ultrapassagens, a Indy tem de cacetada. A gente se lembra de gols. E de grandes ultrapassagens na F1.

O importante é que as corridas sejam boas, bem disputadas, por pilotos de grande qualidade e com equipes de bom nível. Tem sido assim nesta temporada. Já escrevi outro dia que o lote de pilotos de 2010 é, talvez, o mais interessante desde os anos 90, com Hamilton, Button, Schumacher, Alonso, Kubica, Massa, Vettel, Rosberg, o tardio Webber, e mais uma turminha promissora dos times menores como Sutil, Buemi e Alguersuari.

E não se pode nunca desprezar o papel dos circuitos. As melhores provas têm acontecido, nos últimos anos, em pistas antigas, de 'personalidade', como se diz: Monza, Montreal, Interlagos, Suzuka, Spa. E também graças à chuva, que nestes tempos de clima enlouquecido é cada vez mais uma figura freqüente nos finais de semana de GP.

Em todo caso, os dirigentes vêm mexendo no regulamento todos os anos para melhorar as coisas, seja no técnico, seja no esportivo. A nova pontuação, por exemplo, deixou o Mundial mais aberto e generoso com quem luta para vencer. O próximo passo será modificar a natureza dos motores e o tamanho das rodas. Podem esperar para breve a volta dos motores turbo com menor cilindrada, mais econômicos e eficientes, a adoção de combustíveis alternativos e mudança nos pneus, hoje muito borrachudos e distantes daquilo que se usa na indústria.

Nada contra. Tudo vale a pena quando a alma não é pequena, dizia o poeta."

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