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quarta-feira, 9 de junho de 2010

O Mito do Turismo

No calor dos debates a respeito da implantação do Complexo Intermodal, o argumento mais recorrente dos que se opõem coerentemente apontam o Turismo como a alternativa econômica principal para promover desenvolvimento sustentável na região ex-cacaueira. Aliás, o Turismo e o Cacau.

Sobre o Cacau já tive a oportunidade de discorrer (leiam aqui). Ilhéus perdeu, com as sucessivas crises da Lavoura, o posto de Celeiro Mundial da preciosa semente. Desde então os concorrentes ocuparam fatias cada vez maior do Mercado Internacional, que hoje é dominado por países da África e da Ásia. Da mesma forma, no próprio mercado nacional, o Pará já se prepara para tomar da Bahia o posto de principal estado produtor.

E o Turismo, apesar de ser uma atividade de importância indiscutível, também não demonstra fôlego para sustentar a economia da Região.

Esta indústria não tem promovido nenhum "desenvolvimento sustentável". Pelo contrário, é uma atividade com fortes aspectos sazonais e de concentração de renda.

Tradicionalmente a Indústria do Turismo se instala através de um processo bastante duro para as populações locais. Podemos definir, de maneira geral, este processo como sendo composto de “ondas” de transformação. Como segue.

A primeira “onda” vem com o interesse de pessoas em empreender atividades em uma região. Então estes grandes investidores adquirem terras dos nativos, normalmente a preço muito baixo, e começam seus empreendimentos. Tipicamente trata-se de hotéis e restaurantes, preferencialmente voltados para um público de poder aquisitivo mais alto, a fim de maximizar os lucros.

A segunda “onda” vem em seguida, pelo fato de que a região passa a ser freqüentada por pessoas de poder aquisitivo alto. Pessoas que podem pagar mais caro pelos bens básicos que necessitam. Isso eleva o preço de todos os produtos locais. Em localidades como essas, a Cesta Básica chega a ser mais de 50% mais cara do que nas capitais e principais cidades do Brasil. Afinal, como diz Fagner em sua música, “quem é rico mora na praia”.

A terceira e última “onda” vem com a total inviabilidade da permanência dos nativos na região. Como não são eles os donos dos empreendimentos, e tampouco são eles quem lucra com o Turismo que ali se instalou, sua renda não cresce na mesma proporção que o aumento dos custos proporcionados pela ocupação turística. Isto posto, aos nativos restam dois caminhos. O primeiro caminho é trabalhar nas vagas menos remuneradas que lhes são oferecidas e permanecer subempregados, ou mal-empregados, de algum empreendedor de fora. O segundo caminho é mais simples: a Porta da Rua. Os nativos vão-se embora, simplesmente expulsos de sua região pela atividade turística.

Exemplos de locais que experimentaram essas “ondas” não faltam pelo Brasil afora. Pipa, no Rio Grande do Norte, Porto de Galinhas, em Pernambuco, Jericoacoara no Ceará, Barra de São Miguel em Alagoas, Guarapari no Espírito Santo, Camboriú, em Santa Catarina. Na Bahia não é diferente: Itacaré, Morro de São Paulo, Porto Sauípe, até mesmo Porto Seguro. Em todas essas belas praias o Turismo se estabeleceu da maneira predatória que lhe tem sido peculiar. Em todos esses lugares os negócios são tocados por empreendedores de fora, e os nativos que não foram expulsos permanecem ali como meros subempregados.

O passo seguinte é fácil de prever: surgimento de bolsões de pobreza, com os conseqüentes aumentos dos índices de violência, desemprego, desorganização social, ocupação imprópria dos espaços. Verdadeira e silenciosa degradação do Homem e do Meio Ambiente.

Também é importante desmascarar o Mito do turismo como atividade que promove desenvolvimento com distribuição de renda. Os dados não sustentam esta hipótese. Segundo o IPEA, a quantidade de ocupações formais (empregos com carteira assinada) do turismo cresceu, em média, pífios 4% ao ano entre 2003 e 2006, os anos dourados de desenvolvimento econômico, anteriores à Crise Mundial. Ainda segundo o IPEA, há uma perversa relação de aproximadamente três (2,94) empregados informais para cada empregado formal no Nordeste – realidade provavelmente similar à de Ilhéus, sendo esta uma cidade Nordestina. Por empregos informais é fácil inferir do que se trata: subempregos ou empregos temporários em função da sazonalidade típica da atividade turística.

O relatório do IPEA pode ser lido aqui.

Tudo isso explica o porquê de, a cada ano, 22800 novos profissionais se formarem em cursos superiores da área de turismo pelas 570 instituições que oferecem graduação nesse campo no país, mas simplesmente não encontrarem lugar no mercado de trabalho, de acordo com o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Turismo e Hospitalidade (Contratuh), Moacyr Roberto Tesch Auersvald. (leia aqui).

Conforme explica o Presidente, a grande carência de mão-de-obra no setor não é de profissionais de nível superior, para cargos de chefia, e sim de pessoal operacional. Um hotel médio, por exemplo, tem de cinco a seis gerentes e cerca de 200 funcionários trabalhando nas funções de camareira, faxineira, recepcionista, garçom e cozinheiro. "O que o setor precisa é de gente para carregar o piano, e não de pessoas para tocá-lo", diz Auersvald. (leia aqui).

Evidentemente que o Turismo não pode ser descartado como alternativa econômica para Ilhéus. O erro não está em apostar no Turismo. Está em apostar só no Turismo.

Quanto mais atividades econômicas existirem, conforme se espera para esta Região com a instalação do Complexo Intermodal, então mais oportunidades diferentes, e independentes entre si, as pessoas encontrarão. Um mercado de trabalho mais diversificado, em que o Turismo compita contra outras atividades pela mão de obra, e vice-versa, é a melhor garantia de que haverá um verdadeiro crescimento sustentável, com inclusão e promoção social.

O Turismo não justifica que Ilhéus abra mão do Complexo. Muito pelo contrário.

Ilhéus precisa do Complexo por causa do Turismo.

Um comentário:

  1. Os ambientalitas FDP estão conseguindo, professor. Se mude de Ilhéus! Eu vou me mudar. Esta cidade é amaldiçoada pelo espírito de colônia. Sempre será explorada. Sempre será pobre.

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