Jomarcelo Fernandes dos Santos foi condenado. Jomarcelo pegou um ano e alguns meses de detenção por homicídio culposo.
Porque, segundo o Tribunal Militar que o julgou, Jomarcelo foi negligente como controlador de vôo e colocou em rota de colisão o jato Embraer Legacy e o avião Boeing 737 que cumpria o vôo 1907 da Gol, partido de Manaus com destino a Brasília.
Eu acho muito didático ilustrar esse acidente fazendo uma metáfora como se fosse uma colisão entre automóveis. Podemos entender tudo como se fossem dois veículos que bateram de frente. Um acidente terrível.
Obviamente há culpa no agente de trânsito, nosso controlador Jomarcelo, que não advertiu um veículo de que ele estava na contramão. De fato, o Embraer Legacy estava em altitude incorreta e não há nenhum registro de que ele tenha sido efetivamente alertado a esse respeito.
Ocorre que há, nos aviões, um sistema de rádio especial que identifica a rota das aeronaves e, se necessário, permite que as aeronaves atuem automaticamente para evitar colisões. Chama-se Transponder.
O Transponder é configurado com um único número para cada aeronave em um dado espaço aéreo. Com ele, e com o auxílio do radar, pode-se saber a localização e a altitude de todas as aeronaves ao alcance. Isso permite que os controladores instruam os pilotos para cruzar os ares em segurança.
E o Transponder vai além: a onda de rádio que emite pode ser percebida por outras aeronaves na mesma rota e isso dispara um alarme de colisão iminente. Nesse caso os pilotos podem tomar medidas evasivas. Ou, o mais comum, as aeronaves fazem isso autonomamente: os sistemas de piloto automático determinam mudanças de altitude de forma que se cruzem em segurança.
Tendo ainda em vista a analogia com o tráfego rodoviário, imaginemos uma rodovia à noite. O Transponder são os faróis. Dá para ver, de longe, pelos faróis, que há um veículo vindo em direção contrária. Os motoristas, então, tomam as providências necessárias para que os veículos se cruzem em segurança.
O maior pesadelo de qualquer motorista é encontrar um veículo na contramão, de noite, com os faróis desligados. O acidente, nesse caso, seria praticamente inevitável.
E o Legacy estava com o Transponder desligado.
De volta ao Jomarcelo, assim como a um guarda de trânsito, cabia a ele alertar o motorista de que ele estava na contra-mão e, principalmente, que ele estava com o “farol” desligado. Falhou, inegavelmente.
Mas como esquecer do motorista que estava deliberadamente na contramão, e que ainda trafegava com o “farol” desligado? Como justificar tamanha imprudência? Como não condenar dois pilotos que simplesmente atravessavam o espaço aéreo sem acionar o Transponder e sem, portanto, serem identificáveis tanto pelos sistemas de radar quando pelos sistemas das demais aeronaves?
Pessoalmente acho estranho que os senhores Joseph Lepore e Jan Paladino ainda tenham suas licenças de pilotos válidas. Fosse um acidente rodoviário e eles provavelmente teriam incorrido em falta gravíssima e teriam sua habilitação cassada. Não é fácil entender que nada tenha acontecido contra os dois pilotos. O resultado, tristemente, podemos relembrar na reportagem abaixo.
Apenas Jomarcelo Fernandes dos Santos foi condenado. Nessa pantomima toda coube a ele o papel mais difícil.
De bode expiatório.
É uma lástima, professor Degas. Se fossem dois "bananas" daqui do Brasil que fizesse isso nos USA eles estariam em Guantanamo sendo torturados.
ResponderExcluirFrancisco Pessoa.