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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

É fácil escolher agora

Segundo Turno.

Dava para prever, e eu mesmo comentei sobre isso (aqui) frente à pressão da Mídia, cujo poder vem sendo gradativamente minado, mas ainda não foi totalmente vencido. Provavelmente jamais o será.

Também por conta de certa soberba por parte da direção de campanha de Dilma Roussef, que subestimou a força dos adversários, os de dentro e os de fora do jogo, bem como a capacidade de seus “aloprados” meterem os pés pelas mãos.

Mas pessoalmente sinto que a maior fraqueza, ou falta de força, que o PT mostrou nessas eleições foi sua militância. Hoje a militância não é sombra do que foi outrora.

Em nome da governabilidade o PT fez uma série de alianças com grupos muito pouco afinados com a então história do partido, a se ver o PP, onde se abriga Paulo Maluf, ser hoje aliado do governo Lula. A governabilidade também fez o PT ir além, de encontro a um tanto de suas próprias lutas: reforma da previdência tirando direitos dos trabalhadores, intervenção da executiva nacional nas executivas regionais, privatização de rodovias e aeroportos, etc. Não é mais o mesmo PT. Bônus: a governabilidade. Ônus: não tem mais a mesma militância.

E esta fez falta ontem.

A disputa fica mais uma vez entre o PT e seus aliados, alguns dos quais merecem desconfiança geral, versus PSDB e seus aliados, muitos dos quais merecem desconfiança geral. É a disputa entre dois projetos, ambos já experimentados no Brasil. Pessoalmente não gosto muito do projeto do PT, que deveria ser mais ousado, avançar mais. Mas efetivamente gosto menos ainda do projeto do PSDB.

Apesar dos avanços com o Plano Real, bem como algumas mini-reformas necessárias, a gestão PSDB/PFL (hoje DEM) ficou restrita a isso. Não houve nenhum avanço para o Brasil que pulou da 8ª para a 14ª posição no ranking das economias globais durante os anos de gestão tucana.

Época das privatizações mal explicadas e mal conduzidas. Época da PetrobraX, uma tentativa quase infantil de descaracterizar uma marca para posterior venda, aquela que hoje é a segunda maior petrolífera do mundo, potencialmente. Época do salário mínimo de 70 dólares, que mal dava para uma cesta básica. Época em que o Brasil era tão respeitado que um Ministro de Estado tirou os sapatos para ser revistado ao entrar nos Estados Unidos. Época de desemprego rondando os 10%, às vezes 15%. Época de crescimento abaixo de 3%. Época dos juros de até 48%. Época do Apagão, e de nenhum investimento em rodovia, energia ou qualquer tipo de infra-estrutura. Época de programas sociais pífios e sem alcance. Época de Universidades Federais sucateadas. Época sem aumentos para o funcionalismo. Época do Estado sem concursos, sem investimentos. Época em que o Estado Brasileiro praticamente inexistia.

Confrontar isso com a gestão do PT é fácil, e o resultado é uma sonora diferença da água para o vinho. É ver o salário mínimo passando de 200 dólares, comprando quase três cestas básicas. É a economia avançando, com o Brasil ocupando cada vez mais destaque e respeito internacional. São programas sociais fundamentais (com os quais tenho discordâncias, mas sem que lhes diminua a importância) para a elevação do nível de renda da população. São investimentos em infra-estrutura: rodovia, ferrovia, portos, aeroportos, energia, comunicações, etc. em patamares jamais alcançados antes. É o Brasil que, pela primeira vez, começa a deixar de ser o “País do Futuro”, como sempre se ouviu. Apesar de todos os percalços, hoje temos cada vez mais um Brasil do Presente. Dos estudantes, dos trabalhadores, dos professores, dos agricultores. Um Brasil que não se envergonha de assumir que precisa de políticas sociais para a população carente, mas que se orgulha dos resultados destas políticas.

Claro que há problemas de corrupção. De malversação do erário. Este, entre muitos, é mais um dos males que a gestão do PT não atacou, e evidentemente isso deve ser denunciado e cobrado.

Mas ou muito me falha a memória ou o escândalo do SIVAM, aconteceu na gestão do PSDB/PFL. Também a CPI dos Bancos, que foi legitimamente engavetada pelo então Procurador da República, não é lá uma página que deixe orgulhosos os tucanos. E há mais, muito mais: as denúncias de propinas para a privatização, os supostos 200 mil reais por deputados para aprovar a emenda da reeleição, as ligações entre Luiz Carlos Mendonça de Barros, então ministro das Comunicações, e André Lara Resende, então presidente do BNDES, articulando o apoio da Previ para beneficiar o consórcio do banco Opportunity na privatização das Telecomunicações, a desvalorização do Real, já que para FHC se reeleger em 1998, o seu governo manteve a quase paridade entre o real e o dólar até passar o pleito. Tudo isso para que, depois, se descobrisse o nome de vários bancos que lucraram muito com a mudança cambial, enquanto a economia do Brasil ficava literalmente na bancarrota.

A lista é imensa, e pode ser conferida pelos que não tenham boa memória, ou não eram atentos à política naqueles anos. (leia aqui).

Questionar o apoio do governo do PT ao presidente da Venezuela, Equador, Bolívia, Honduras, todos democraticamente eleitos é possível? Sim. Mas é estranho quando as críticas partem dos mesmos que se aliaram a elementos verdadeiramente sombrios da História recente da América do Sul, como Fujimori, Menem e Cia. a fim de descaracterizar o Mercosul em total subserviência aos interesses dos Estados Unidos e da Europa.

Há uma lista enorme de motivos, pode-se até os continuar elencando. Fato porém é que, nesse segundo turno, no que pese o fato de nenhum dos dois candidatos ser pessoalmente o de minha preferência, há uma clara diferença entre um projeto que não é o ideal, mas traz avanços, e outro projeto que sempre se revelou lamentavelmente abaixo das expectativas e das possibilidades do Brasil.

É fácil escolher agora.

6 comentários:

  1. Ótimo texto, sintetiza muita bem o que penso.

    A candidatura de Marina foi válida (apesar de não ter votado na candidata), mas infelizmente só serviu para adiar o resultado das eleições.

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  2. Não sei, mas essa perda de força do PT vem mais dos Jovens, eles simpatizaram muito com a palavra 'sustentabilidade' (muitos deles sem nem saber o que é direito). Já outros votaram como protesto (sem saber o que protestavam).

    Gostaria muito de ler um post seu sobre esta questão. Se possível. Abraços.

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  3. Dilma e a corja do PT já era. Adeus safadeza! O petista enrustido que esta em voce está aparecendo não é, professor?

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  4. Olá!
    Vi o link para seu blog na página de recados de um amigo e gostei muito do seu post.
    Te peço autorização para repassar suas palavras, para que mais pessoas possam ter a oportunidade de rememorar fatos tão importantes da história do nosso país.
    Grata desde já,

    Geizy.

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