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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O mundo de Wozniak

Steve Wozniak, cofundador da Apple, acredita que “0 computador se tornará o melhor amigo das pessoas”. A matéria pode ser lida aqui.

Steve aponta um futuro em que os computadores estarão tão próximos de compreender e interagir naturalmente com os humanos que o mundo das pessoas se tornará indissociável do das máquinas. Steve espera que essa proximidade seja tão alta que chegará um dia em que haverá “um tipo de computador que, quando um aluno for para a escola, ele quer ficar com aquele computador como se fosse seu melhor amigo, que sabe tudo sobre ele, seus sentimentos, crenças e filosofias, mais do que um professor humano”.

Há questões de ordem filosófica, psicológica e sociológica embutidas nesta visão que Wozniak mostra. Questões importantes, que merecem o debate e a reflexão de todos.

Mas pessoalmente tenho uma reserva particular a esta hipótese; de ordem científica. Steve propõe que os algoritmos de reconhecimento de voz e imagens sejam tão evoluídos que um computador “poderá olhar no meu rosto e dizer se estou cansado”.

De meu modesto ponto de vista ele está falando de vários desafios diferentes, e misturando tudo numa salada um tanto quanto difícil de deglutir.

Por um lado ele aponta a iminente aposentadoria (parcial) do mouse e do teclado como elemento de interação homem-máquina. Estes passos estão efetivamente sendo dados pela Indústria, e os exemplos das novas formas de interação não param de surgir.

Todavia, a sofisticação dos algoritmos necessários para desenvolvermos esta máquina “melhor amigo” depende de uma série de fatores científicos totalmente em aberto, e que nada tem a ver com os dispositivos de interface, que em última análise se ocupam apenas das tarefas de entrada e saída de dados.

Caminhando na direção dessa máquina quase humana, esbarraramos inexoravelmente no famoso teste de Turing (aqui). Um problema cuja solução permanece em aberto ao longo das décadas, mesmo quando desconsideramos as limitações de hardware. O teste consiste em verificar a hipótese de haver um programa que possa interagir (conversar) com seres humanos de forma que estes últimos não consigam determinar se estão ou não falando com uma máquina. Este problema de ordem científica e filosófica foi explorado no filme Blade Runner (aqui).

Além disso, há mais problemas à vista. Os computadores, tal como os conhecemos, são comprovadamente incapazes de resolver alguns problemas que já foram formulados, como por exemplo o Problema da Parada (aqui). Steve não considera a hipótese, muito razoável aliás, de que nos deparemos com problemas desta natureza ao caminharmos na direção desta máquina “amiga do peito”.

Finalmente, considerando as especulações a respeito do fim da Lei de Moore (aqui), é forçoso considerar que talvez não consigamos evoluir muito significativamente no tocante à capacidade de processamento das nossas máquinas doravante. Ocorre que, ao mesmo tempo, todas as pesquisas de reconhecimento de linguagem natural apontam para algoritmos que demandam grandes capacidades de processamento.

Aliás, caso o fim da Lei de Moore realmente se verifique, então o todo desenvolvimento de programas sofrerá um duro golpe, tanto do ponto de vista científico - já que muitos programas simplesmente jamais poderiam ser implementados na prática, mais o fato de que a concepção dos algoritmos passaria a ser uma tarefa muito mais complexa e lenta – quanto do ponto de vista econômico, porque a evolução sucessiva das versões dos softwares se tornaria uma tarefa deveras custosa, e isso impactaria negativamente na atratividade do desenvolvimento de programas de computador como um negócio.

Dessa forma, por mais amedrontador ou auspicioso que seja o mundo proposto por Steve Wozniak, permanecem fortes os desafios científicos, tecnológicos e econômicos que nos separa dele.

Uma longa jornada. Que talvez jamais seja realizada.

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