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domingo, 24 de abril de 2011

A vida de quem produz Cacau


Família trabalhando na matéria-prima dos ovos de Páscoa que eles mesmos não têm

Quando se defende a produção de Cacau no Sul da Bahia, há que se ter a exata medida do que se está defendendo. E a favor de quem se está jogando.

Ou contra quem.



Porque uma coisa é a visão de alguns acadêmicos, lá de dentro de seus gabinetes com ar-condicionado, estudiosos do mundo perfeito, onde as famílias que produzem Cacau vivem em comunhão plena com a natureza, e todos são muito felizes lá na roça, produzindo a matéria-prima do chocolate.

Os da cidade também estão felizes comendo seu chocolate, e suas consciências tranqüilas pois quem os produziu vive na plena opulência.

Seria bom se fosse assim. Então Ilhéus ainda seria uma cidade em que as pessoas vivem com excelente qualidade de vida, sem dificuldades sociais, econômicas administrativas. Então poderíamos aceitar a proposta de alguns em manter a economia da cidade segundo o modelo atual.

Então o mundo seria perfeito.

Mas não é.

O lado de lá, o da roça, é o da pobreza, da falta de infra-estrutura, da falta de oportunidades. O lado que sem sempre se vê, cá da cidade de São Jorge. Lá, as pessoas vivem sub-empregadas, ou desempregadas, sem acesso a quase nenhum dos bens básicos de consumo. Porque o fato é que a lavoura não provê qualidade de vida para os que nela trabalham.

Acontece que há muito mais pessoas tentando viver nas roças de Cacau do Sul da Bahia do que a produção delas pode dar conta. E a equação é muito simples: dividido sob a ótica desigual do capitalismo, a remuneração acaba sendo simplesmente aviltante para a maioria.

Natualmente, os da classe trabalhadora.

Aqui, os defensores deste modelo econômico estão festejando a Páscoa. Mesa farta, seus filhos felizes brincando de procurar os ovos chocolate.

Lá, onde a matéria-prima da alegria de suas crianças é produzida, a realidade é bem diferente.

Como destaca a reportagem de A Tarde, que se reproduz abaixo. O link original pode ser acessado aqui.

"Chocolate na Páscoa é sonho distante das roças de cacau do interior baiano

A Bahia é o maior produtor de cacau do Brasil, principal matéria-prima do chocolate e fornecedor das grandes fábricas nacionais e internacionais do setor. É da região sul do Estado, conhecida como Costa do Cacau, que a matéria-prima do chocolate é produzida e abastece a Páscoa do País.

Neste período, o consumo do chocolate triplica. É uma oportunidade para trabalhadores ganharem dinheiro extra com a produção de ovos caseiros e para as grandes marcas faturarem.

'Faço ovos caseiros há quatro anos. Tiro um dinheiro a mais e compenso o gasto extra do final de ano e do Carnaval', conta a produtora Regiane Borges. Ela diz que aprendeu a fazer ovos de chocolate em um programa de TV. 'Comecei fazendo poucos e a vender para colegas de escola, hoje recebo encomendas de até 500 ovos. A produção só não é maior por falta de tempo', comemora ela.

Inacessível - Enquanto o cacau baiano é servido nas mesas do País, crianças que vivem nas fazendas sonham com o ovo de Páscoa, que nem sempre chega. 'Tenho cinco filhos, trabalho em roça de cacau há 20 anos. Às vezes tenho dinheiro para comprar, mas o ovo de Páscoa é muito caro. Aprendi a fazer mel de cacau, polpa, geleia, mas chocolate ainda não', diz o trabalhador rural Erivaldo Nascimento, 44 anos.

Ele conta que o patrão vende para as fábricas, mas se quiser comer chocolate, precisa comprar no supermercado. 'Mas como são muitos filhos, não tenho como comprar para todos', completa.

Na Fazenda Nova Esperança, em Ibicaraí, vivem quatro famílias de trabalhadores rurais. Apesar do contato diário com o fruto, algumas crianças de lá nunca ganharam um ovo de Páscoa. 'Aqui, o luxo é deixar os meninos estudarem e a gente trabalha duro. Nós plantamos para comer, e o resto a gente compra na feira, mas chocolate é muito caro', argumenta Valdimária Santos, 33 anos, mãe de 3 filhos.

Nadson Santos, 10 anos, filho mais novo de Valdimária, espera o ovo de Páscoa que só ganha na escola. 'As professoras compram os ovos no supermercado e dão para nós. Não é muito grande, mas é gostoso', confessa Nadson.

A pequena Vivian Santos, 5 anos, ganhou seu primeiro ovo de Páscoa este ano. 'Foi a professora da escola quem me deu. Foi muito pequenininho, veio num papel colorido. Eu como cacau aqui, mas gosto mais do chocolate'.

Enquanto no comércio os ovos chamam a atenção do público infantil, nas roças é o fruto nas barcaças que faz a alegria das crianças. 'A Vivian não pode ver o cacau na barcaça que ela enche a mão e se tirar do pé ela chupa o cacau inteirinho. Quem não tem como comer chocolate, come cacau', brinca Valdemária."

3 comentários:

  1. No seu lugar, eu não liberaria comentários ofensivos. Uma coisa é a liberdade de expressão, outra é a falta de educação e de respeito.

    Quanto ao tema, acho que hoje a manutenção da lavou cacaueira só é importante para proteger as matas. O sistema de "cabruca", de um certo modo, preserva as árvores maiores e mais altas. Nada mais que isso.

    Nasci e vivi debaixo de uma barcaça e sentindo o odor acre dos cochos de fermentação de amendôas de cacau, até os 7 anos. Conheço muito bem o sofrimento dos que lidavam com o cacau naquela época. Hoje, pode ser ainda pior!

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  2. Sugiro que você adote o recurso da "moderação" no seu Blog. Assim, antes publicar os comentários você poderá ler. Isso vai evitar "trolls patos" como esse aí de cima.

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  3. O Comentário infeliz já foi excluído. Não o fiz antes porque estive sem acesso por algyuns dias. Aos leitores minhas sinceras desculpas.

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