Pesquisar

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Inflação e inflação.

Inflação é a palavra de ordem no atual momento da economia. Quando o índice, em 12 meses, bate (supera em 0,1%) no seu limite máximo, estabelecido pela política econômica do país, todos os alarmes disparam.


Alguns desses alarmes podem ser solenemente ignorados: é apenas a euforia de parte da imprensa e da oposição que comemora estrondosamente toda e qualquer notícia desfavorável ao governo.

Mas não se pode deixar de afinar o ouvido e perceber os acordes consoantes, concretos, fundamentados. Como a análise feita por Delfim Netto (aqui), que coloca o aumento da inflação numa ótica mais realista.

Para Delfim a equação é muito simples, considerando os fatos abaixo abaixo.

Nos últimos meses, o desemprego no Brasil vem batendo recordes de baixa, estimulando trabalhadores a pedir reajustes maiores. Diz Delfim: "A inflação atual é mundial. E há seguramente alguma pressão interna, principalmente por conta de um estresse no mercado de trabalho. Há um desarranjo interno entre oferta e procura de trabalho".

Como conseqüência, as pessoas estariam melhorando seus padrões de vida, ao mesmo tempo em que há uma mudança nos padrões de consumo. Mais gente comprando mais coisas. Pela lei da oferta e da procura, isto gera uma pressão pelo aumento de preços. Mas também está atrelado ao aumento da própria atividade econômica, cada vez mais gerando empregos e produzindo bens. Mais uma vez, nas palavras do próprio Delfim Netto, "Colocar a distribuição de renda como fator de desenvolvimento, sacrificando até o crescimento, foi intuição de um cidadão chamado Luiz Inácio Lula da Silva". E prossegue: "É um processo que os economistas detestam, pois eles têm a pretensão de querer saber mais do que o próprio consumidor".

O próprio Delfim Netto está dando a mão à palmatória, como economista, pois era ele o ministro que, nos anos 70, defendia a tese de que “primeiro é preciso fazer o bolo crescer para depois dividir”. A política do governo Lula sugere fortemente que não. Dividir o bolo trouxe mais pessoas para comê-lo, e querendo comer mais. Bom para quem faz o bolo, bom para quem o consome.

Assim, como as causas do atual processo inflacionário são oriundas da melhoria do emprego e do poder aquisitivo, ela não é, em sim, uma má notícia.

Até aí tudo bem.

Mas ocorre que a inflação não deixa de ser um pesadelo para a gestão da presidenta Dilma Roussef, porque o controle de gastos públicos e de custos operacionais das empresas pode ficar inviável, levando a uma indesejável retração do mercado. Desta forma, muitas medidas necessariamente serão tomadas para vencê-la. Neste sentido, há basicamente dois caminhos: o tradicional, que é o aumento dos juros para conter o crédito e desestimular o consumo; e o heterodoxo, que é usar o fato de o Real estar supervalorizado para estimular fortemente as importações e assim trazer um aumento na oferta de bens, de forma a controlar os preços.

O caminho escolhido pelo Governo ainda não está claro. Mas uma coisa se percebe facilmente: esta inflação não é um sintoma a mais de um modelo econômico nocivo e irresponsável, como vivemos outrora. Popularmente sabemos que que nem todo azul é igual..

E nem toda inflação também.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente aqui