O cenário político que se desenha para o Brasil é um tanto incômodo: numa democracia, o pior que pode haver é a falta de oposição.
A iminente derrocada de José Serra em São Paulo vai trazer, ao PSDB, mais danos do que a princípio se analisa. É a pá de cal numa oposição que jamais, desde que Lula assumiu a presidência em 2002, conseguiu encontrar um discurso coerente.
A difícil situação do PSDB |
Desde a “Carta ao Povo Brasileiro” em 2002, o PT sinaliza uma forte “guinada ao centro”, abandonando sua história de partido socialista. Seus estrategistas perceberam que o discurso esquerdista dificultava aproximações políticas com outros partidos e acabava sendo fortemente combatido por diversos setores da sociedade – imprensa principalmente – de forma que as aspirações do partido não passavam dos 25% a 30% de votos válidos.
Esta mudança em direção ao centro não foi avaliada corretamente pelos adversários na época. Mas permitiu a Lula vencer as eleições e vestir duas camisas: por um lado era o presidente do povo, e implementou uma forte política de inclusão social e de favorecimento das classes mais baixas mas, por outro lado, ao criar todo um mercado consumidor a partir desses emergentes, era a administração ao gosto das empresas e dos bancos, pois permitiu à economia do país alcançar resultados que não se via há décadas. Assim, sem perder substancialmente sua penetração junto aos setores mais à esquerda, o PT também invade, a partir de 2003, e progressivamente, o espaço teoricamente destinado às oposições, particularmente o PSDB e o DEM (antigo PFL).
Assim, eleição após eleição, o grupo do presidente Fernando Henrique Cardoso e de José Serra foi se enfraquecendo. Hoje há quem vaticine o fim do DEM e uma profunda reformulação do PSDB, que precisa encontrar algum espaço para sobreviver. O PT assiste a esse dilema de barata tonta sentado em berço esplêndido, acomodado sobre uma popularidade ineditamente alta da presidente Dilma Roussef e do Presidente Lula, além de níveis de aprovação estratosféricos do governo. Conseguem hoje pairar acima de todas as disputas, democraticamente legítimas, e até mesmo saem sem se chamuscar de todo o episódio do “mensalão”. Mais que tudo, o PT mostra musculatura para novos embates. E, ao olhar para o PSDB e o DEM, vê sua oposição cada vez mais fraca e inerte. Chutar cachorro morto.
Ou não. Porque esta guinada pode ter aberto um pequeno espaço, não onde PSDB e DEM agonizam, mas do outro lado, à esquerda. Ali há pequenas, e boas, novidades saindo do forno. O candidato do PSOL em Ilhéus teve mais de 20% dos votos. E não foi um fato isolado: hoje o PSOL já elege prefeitos (talvez o de uma capital, Belém do Pará) e vereadores. Já possui alguns parlamentares em sua bancada e mostra uma tímida, mas inegável, tendência de crescimento.
A oposição esquerdista ao PT ainda é pequena, mas é onde muitas contradições das administrações de Lula e Dilma encontram críticas irrespondíveis, particularmente de movimentos sociais, trabalhistas e ambientais.
O PT conseguiu implementar uma agenda com muitos pontos que, doravante, para qualquer presidente vindouro, são irreversíveis. Nenhum presidente eleito cometerá o suicídio político de tentar desfazer programas sociais como o Bolsa Família, o ProUni, as Cotas Raciais, a valorização do salário mínimo. É a camisa do “Presidente do Povo”. E, como críticos contumazes nos momentos embrionários destes projetos, o PSDB e o DEM definitivamente não ficam bem nela.
Mas no espectro da política brasileira há quem a vista. Talvez melhor que o PT.
Pode ficar bem na foto.
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