Por Guilherme Scalzilli
Original aqui.
Enfim ocorreu a hecatombe da seleção brasileira de futebol, longamente gestada nas entranhas putrefeitas da cartolagem. Era questão de tempo: um dia o pragmatismo tosco, a arrogância e a mediocridade chegariam a uma combinação explosiva que a sorte, a arbitragem e o talento individual seriam incapazes de neutralizar.
Faltava o desequilíbrio emocional para inflamar esse caldo melífluo. O patriotismo histérico dos jogadores já não parecia alvissareiro, principalmente em meio à tola “obrigação” de vencer o título. A vitimização de Neymar e a falta de comando da comissão técnica terminaram de ruir a frágil estabilidade do elenco.
A crônica esportiva agora fala em “mudar tudo”, em “revolucionar” a administração futebolística do país, em “bom senso”. Mas são palavras ocas. Ninguém aponta soluções práticas ou medidas pontuais e viáveis que de fato ajudem a reformular o sistema. Há apenas discursos genéricos e propostas paliativas que seguem os interesses dos grandes times e dos veículos de comunicação, os maiores apoiadores de José Maria Marin.
Mudanças reais no futebol brasileiro só viriam com a distribuição igualitária de verbas televisivas, limitações do poder das emissoras, restrições ao assédio de jovens atletas, regulamentação da atividade dos empresários, projetos nacionais de apoio a aspirantes, fortalecimento dos times interioranos, profissionalização da arbitragem, moralização dos tribunais desportivos, mecanismos de controle das gestões da CBF e dos clubes.
Todas essas mudanças passam por um papel mais ativo do Estado. Nascem de uma decisão política de tratar o esporte como área de interesse público, e não um feudo particular de castas inatingíveis que funciona por regras próprias.
O medinho da imprensa ao enfrentar o assunto não tem nada a ver com as ameaças da FIFA, que jamais arriscará a desmoralização de punir um pentacampeão mundial, sede da mais festejada Copa da história. O fantasma do intervencionismo estatal oculta a tentativa de manter os privilégios do esquema vexatório. Da mídia não virá qualquer iniciativa moralizadora do futebol brasileiro.
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