Marcos Coimbra
Original aqui.
Nada como olhar em torno e considerar a cultura política de outros países. É um hábito salutar, que nos ajuda a entender o que somos e em que podemos melhorar nossa democracia.
Tomemos os Estados Unidos, cujo edifício institucional serviu de inspiração para a república que implantamos em 1889. Nossa primeira Constituicão pós-monárquica queria que fôssemos iguais.
Por coincidência, fazemos eleições quase simultâneas. Toda vez que escolhemos prefeitos e vereadores, eles votam para presidente. Aqui, este ano, no dia 7 de outubro; lá, em 6 de novembro.
Isso permite observar a cultura política dos dois países enquanto vão às urnas, o momento mais significativo da democracia.
Entre algumas coisas parecidas e muitas diferentes, existe um aspecto em que estamos ficando mais dissemelhantes com o passar do tempo. Algo que pode não ser positivo.
A cada eleição, a linguagem da política americana fica mais confrontacional. A nossa, menos.
A retórica das últimas campanhas presidenciais que fizeram foi adquirindo tom progressivamente mais crítico. Nesta, ultrapasssou os parâmetros. É a mais ácida de todos os tempos.
Com os dois principais candidatos em quase empate – ainda que Obama mantenha pequena dianteira nas pesquisas – o eleitorado norte-americano está sendo bombardeado por um volume de propaganda negativa sem precedentes. É um querendo destruir o outro.
Os republicanos acusam o atual presidente de tudo que podem. Os democratas respondem com ataques incessantes contra Mitt Romney.
Questionam-se por motivos administrativos, políticos, ideológicos e pessoais. Expõem sem meias palavras tudo que sabem de negativo do outro.
Como o passado eleitoral de muitos estados sugere que votarão de forma previsível, as campanhas dirigem seus esforços para os poucos onde as preferências do eleitorado podem mudar até o dia da eleição. São os “swing states”, onde os dois partidos efetivamente disputam, pois nenhum tem maioria segura. Em 2008, foram oito e por ter vencido em cinco, Obama se elegeu.
Nesta eleição, calcula-se que as duas campanhas gastarão cerca de 2 bilhões de dólares comprando tempo de televisão nesses oito estados. Tudo para falar mal do outro.
Aqui, ao contrário, de uns anos para cá, nossa cultura começou a considerar feio que os candidatos entrem em confronto. A definir qualquer crítica como “baixaria”.
Dificil dizer de onde surgiu a ideia. Certamente, não de nossa tradição política, na qual sempre se esperou que os adversários se respeitassem, mas não que deixassem de expor com clareza - e, se necessário, com contundência -, suas discordâncias.
O manual dos marqueteiros brasileiros – escrito pelo maior de todos, Duda Mendonça – reza que “Quem bate, perde!”. E têm razão de pensar assim, pois, como mostram as pesquisas, chega a 70% a proporção dos que acham que um candidato não deve criticar os outros.
Mas ganhamos alguma coisa com a assepsia de campanhas que apenas repetem coisas óbvias? O lenga-lenga de que o candidato vai cuidar com desvelo da saúde, da segurança e da educação?
Em que é melhor a candidatura que elide a polêmica ideológica? Que privilegia a forma televisiva em detrimento do conteúdo político?
Embora se expressem através do estereótipo, no fundo, os eleitores não se incomodam com a crítica. As campanhas é que precisam reencontrar a forma de fazê-la.
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