Pesquisar

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Punir o Espetáculo

Depois de um mês sem Fórmula 1, estava um belo domingo. Fernando Alonso, o gênio da atualidade, dentro de seu carro limitado, preparava-se para mais uma corrida. Acompanhando a câmera On Board abaixo é quase possível ouvir seus pensamentos.

"Largada é um momento tenso. Preciso ser rápido, ter bons reflexos, mas também ter muito cuidado."

Segundos depois...

"Ôpa! Aquele ali à esquerda com certeza queimou a largada. Vai ser punido. Melhor. Um a menos... aliás, dois, já que Kobayashi largou mal, e eu já passei ele."

Mais um tempinho...

"Até aqui tudo bem: com a punição do afobadinho que queimou a largada, vou fazer a curva virtualmente em terceiro lugar, o que não é um mau começo. Até aqui tudo bem. Esta corrida promete ser um presente dos céus".

Mas dos céus viria outra coisa: um carro preto. E de repente tudo acaba.


O carro de Romain Grosjean literalmente aterrissa sobre a Ferrari de Fernando. Para o espanhol, a corrida acaba dali a menos de um segundo. Junto com ela, a iminência de bater o récorde de provas seguidas na zona de pontuação, algo que se leva quase dois anos de muita paciência e competência para conseguir. Vai permanecer com Schumacher. Êta, Schumacher!

Pior ainda para Alonso, uma vantagem expressiva sobre os adversários, em um campeonato que o carro Ferrari não ajuda muito, se vê substancialmente diminuída.

Mas o público se deleita. Nelson Piquet já esclarecia que, apesar de não desejar ver ninguém se machucar, as pessoas gostam dos acidentes nas corridas de automóvel. Fazem parte do Show.

Para Alonso, com certeza foi uma extrema injustiça. E uma extrema irresponsabilidade de Romain Grosjean, que manobrou sua Lotus perigosamente para a direita, empurrando Lewis Hamilton para a grama. Como se vê no vídeo abaixo, o inglês não pôde controlar seu Mclarem, que acabou tocando no próprio Grosjean e, daí em diante, numa reação em cadeia, envolveram-se um total de seis pilotos.



Grosjean acabou punido, e vai ser suspenso por uma corrida. O que pode complicar ainda mais sua carreira, que já foi interrompida em 2011 (o Franco-Suiço fez uma temporada de GP2 depois de estrear na Fórmula 1).

De fato o piloto agiu de maneira imprudente e mostrou muito pouca habilidade. Mas não se trata de um caso isolado. David Coulthard, em 1998, naquela mesma pista, protagonizou o maior estrago da história da Fórmula 1 ao rodar na frente de praticamente todo o grid, uma curva depois da largada.



David não recebeu nenhuma punição.

Em 1993 Michael Andretti quase mata a si mesmo e a Gerard Bergerna largada do GP do Brasil. Apesar do susto, e da estupidez, na corrida seguinte ele alinhava normalmente. E aprontava de novo.



No mesmo Interlagos, um ano depois, Irvine faz algo muito parecido com o que Grosjeain fez, e quatro pilotos tiveram muita sorte de não se machucar.



E a Cereja do Bolo: Gilles Villeneuve. Aqui vemo-no em 1981, no traiçoeiro Silverstone, perdendo o controle de sua Ferrari e promovendo (mais) um belo estrago.



Corridas de automóvel são fantásticas. Mas são perigosas. Imprevisivelmente perigosas.

É um ambiente onde pilotos e máquinas são levados ao limite extremo de suas capacidades. Então, eventualmente falham. E assim, acidentes acontecem.

Pessoalmente não sei se punir é suficiente. Tampouco se não é algo que depõe contra a essência do próprio esporte, que efetivamente envolve risco, superação, espetáculo. Se essa política de suspensões existisse desde sempre, não teríamos visto Gilles Villeneuve, o mais espetacular piloto de todos os tempos.

Romain errou, fez uma grande bobagem. Não há dúvidas. Mas proporcionou um momento e tanto, algo que, afinal, torna a Fórmula 1 o esporte que é. Foi perigoso? Sim. Foi injusto? Com certeza.

Foi espetacular.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente aqui