Original publicado em 11/05/2010
Hoje estava no meio do engarrafamento matinal (tem um outro na hora do almoço e o último no final do expediente) da Ponte do Pontal. Sem perspectivas de mover meu automóvel, e vendo os demais condutores frustrados, pensei em ligar um som e relaxar. Mas meu carro não tem som.
Aí comecei a divagar. Pensei como faria diferença para a cidade ter a nova Ponte. Aquela que já foi prometida tantas vezes e jamais realizada. Aquela que os ambientalistas garantem que provocará o fim de todos os ecossistemas quando for construída, e que, eles garantem, por isso mesmo não será.
Parece que o governador, para não cumprir sua promessa, vai se aliar aos ecossistemas. Ou aos ambientalistas. Ou a quem lhe puder ser útil.
Aí dei-me conta da inutilidade de meus pensamentos. Não há solução, exceto a velha “Nova Ponte”. E, depois de conseguir avançar mais uma dezena de metros, voltei meu olhar em busca de mais motivos de divagações.
Motocicletas.
Elas passavam ágeis, nem sempre com o devido cuidado, e iam embora. Quase indiferentes ao trânsito. Confesso que deu-me uma vontade de preconceito. Um desejo de que elas fossem proibidas, que parassem de derramar sua diligência sobre minha inércia. Era inveja o que eu sentia. Eu sei. Não só pela facilidade inerente de lidar com o trânsito cada vez mais impraticável das cidades como pelo prazer que é conduzir uma motocicleta ao ar livre, sentindo o vento no corpo, curtindo as paisagens. A gente anda de carro. De motocicleta, passeamos.
E pensei no paradoxo que aquela pequena máquina motorizada de duas rodas traz aos planejadores urbanos. Pois vejam se não é paradoxal.
Por um lado, com a melhoria da renda dos brasileiros e dos níveis de consumo, a quantidade de veículos – motocicletas inclusive – explodiu. E na mesma proporção explodiram o número de ocorrências, acidentes, vítimas feridas e fatais. Principalmente entre os motociclistas, por motivos óbvios: o veículo não proporciona proteção suficiente (na verdade quase que proteção nenhuma) e os usuários do trânsito não são especialmente cuidadosos nem precavidos.
E aí dá vontade de tornar a motocicleta um item proibido de ser vendido. Esquecendo, muito convenientemente, que a culpa não é das motos. É dos motociclistas. E dos motoristas e dos pedestres também.
Por outro lado, considerando que consome 1 litro de combustível a cada 25 quilômetros (as menos econômicas entre as populares), a Motocicleta se apresenta como heroína do meio ambiente – muito menos combustível fóssil queimado para realizar o mesmo trabalho – e da economia – muito mais trabalho realizado para cada Real investido.
Além disso, as motocicletas são muito mais ágeis, ocupam menos espaço nas ruas, são mais simples de estacionar e manobrar. Parecem, a cada dia mais, serem a solução perfeita para o tráfego cada dia mais complexo das cidades.
Assim estabeleci esse paradoxo motociclístico. Não podemos mais admitir as motocicletas. Mas não podemos mesmo é viver sem elas. Aliás, precisamos delas cada vez mais. Retirem as motos das cidades e vejam o que acontece com encomendas sem motobóis, transporte de pessoas sem moto-taxi, e o próprio trânsito com todas essas pessoas passando a usar veículos maiores ou o transporte público. A parte engenheira de meu cérebro começou, eu acho, a tentar conciliar esse paradoxo.
Mas não deu tempo, porque eu finalmente cheguei na Ponte, a Velha, e o trânsito voltou a fluir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente aqui