Estou meio impossibilitado de escrever textos por esses dias. Por uma série de motivos. Entre eles a insistência da Oi em não me disponibilizar uma mísera conexão Velox, há quase um mês atrasada. Tenho me virado como posso, mas infelizmente estou mais desconectado do que jamais desde que comecei com esta brincadeira de escrever.
Mas muni-me de paciência, e vou peregrinar com meu Lap Top por tantos lugares quantos forem necessários para matar a saudade. Um novo texto.
Hoje estava no meio do engarrafamento matinal (tem um outro na hora do almoço e o último no final do expediente) da Ponte do Pontal. Sem perspectivas de mover meu automóvel, e vendo os demais condutores frustrados, pensei em ligar um som e relaxar. Mas meu carro não tem som.
Aí comecei a divagar. Pensei como faria diferença para a cidade ter a nova Ponte. Aquela que já foi prometida tantas vezes e jamais realizada. Aquela que os ambientalistas garantem que provocará o fim de todos os ecossistemas quando for construída, e que, eles garantem, por isso mesmo não será.
Aí dei-me conta da inutilidade de meus pensamentos. Não há solução, exceto a velha “Nova Ponte”. E, depois de conseguir avançar mais uma dezena de metros, voltei meu olhar em busca de mais motivos de divagações.
Motocicletas.
Elas passavam ágeis, nem sempre com o devido cuidado, e iam embora. Quase indiferentes ao trânsito. Confesso que deu-me uma vontade de preconceito. Um desejo de que elas fossem proibidas, que parassem de derramar sua diligência sobre minha inércia. Era inveja o que eu sentia. Eu sei. Não só pela facilidade inerente de lidar com o trânsito cada vez mais impraticável das cidades como pelo prazer que é conduzir uma motocicleta ao ar livre, sentindo o vento no corpo, curtindo as paisagens. A gente anda de carro. De motocicleta, passeamos.
E pensei no paradoxo que aquela pequena máquina motorizada de duas rodas traz aos planejadores urbanos. Pois vejam se não é paradoxal.
Por um lado, com a melhoria da renda dos brasileiros e dos níveis de consumo, a quantidade de veículos – motocicletas inclusive – explodiu. E na mesma proporção explodiram o número de ocorrências, acidentes, vítimas feridas e fatais. Principalmente entre os motociclistas, por motivos óbvios: o veículo não proporciona proteção suficiente (na verdade quase que proteção nenhuma) e os usuários do trânsito não são especialmente cuidadosos nem precavidos.
E aí dá vontade de tornar a motocicleta um item proibido de ser vendido. Esquecendo, muito convenientemente, que a culpa não é das motos. É dos motociclistas. E dos motoristas e dos pedestres também.
Por outro lado, considerando que consome 1 litro de combustível a cada 25 quilômetros (as menos econômicas entre as populares), a Motocicleta se apresenta como heroína do meio ambiente – muito menos combustível fóssil queimado para realizar o mesmo trabalho – e da economia – muito mais trabalho realizado para cada Real investido.
Além disso, as motocicletas são muito mais ágeis, ocupam menos espaço nas ruas, são mais simples de estacionar e manobrar. Parecem, a cada dia mais, serem a solução perfeita para o tráfego cada dia mais complexo das cidades.
Assim estabeleci esse paradoxo motociclístico. Não podemos mais admitir as motocicletas. Mas não podemos mesmo é viver sem elas. Aliás, precisamos delas cada vez mais. Retirem as motos das cidades e vejam o que acontece com encomendas sem motobóis, transporte de pessoas sem moto-taxi, e o próprio trânsito com todas essas pessoas passando a usar veículos maiores ou o transporte público. A parte engenheira de meu cérebro começou, eu acho, a tentar conciliar esse paradoxo.
Mas não deu tempo, porque eu finalmente cheguei na Ponte, a Velha, e o trânsito voltou a fluir.
Intelectual, bonito, inteligente, bem sucedido. Ainda vou montar na sua moto, professor.
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