De crianças aprendemos que não se deve botar todos os ovos numa só cesta porque, em caso de acidente com ela, toda a nossa coleção de ovos estará irremediavelmente perdida.
Em economia essa máxima é de particular importância. Muitas vezes o destino de cidades, regiões e até países inteiros foram decididos tragicamente por estarem todos os ovos numa só cesta. Um exemplo marcante é a cidade de Detroit, a que já nos referimos (leia aqui), que teve uma história de voluptuosa evolução econômica ao atrelar-se à indústria automobilística, mas que, da mesma maneira, afundou junto com ela, estando hoje a caminho se tornar inviável (leia aqui).
É que a cesta caiu, e todos os ovos estavam ali. Quebraram-se. A cidade se viu sem nada.
A receita geral é bem simples: quanto mais cestas existirem, menos ovos se perdem junto com alguma cesta que cai. Isso é particularmente importante ao se considerar o caso de Ilhéus, que durante muito tempo manteve todo os seus “ovos” dentro da cesta da lavoura cacaueira. Hoje, a lavoura do Sul da Bahia atravessa sua pior crise, da qual provavelmente não sairá.
Afirmar que a crise do Cacau é irreversível pode ser chocante, e parecer exagerado para alguns. Apaixonadamente pode haver quem diga que o cacau vai recuperar seu fôlego, e sustentará novamente Ilhéus e região. Há até os que não conseguem conceber a existência de Ilhéus sem o Cacau como sua principal atividade econômica.
Mas o pensamento racional precisa ser cético, e ignorar paixões. Por mais apaixonado que seja Ilhéus pelo Cacau que um dia produziu, os dados concretos são extremamente cruéis para essa relação. Hoje, “o Pará apresenta uma das médias mais altas de produtividade do mundo, de 881 quilos por hectare.” (leia aqui), muito próximo da Indonésia, o líder mundial em produtividade cacaueira que “alcança índice médio de 908 quilos por hectare” (leia aqui).
A bem da verdade, o fato é que no Pará há alguma perspectiva de superar a Indonésia, pois existe, naquele estado, a produção da região “Transamazônica, maior produtora paraense que apresenta média superior a mil quilos por hectare, a mais alta de todo o mundo” (leia aqui).
Portanto, talvez o Brasil um dia supere a Indonésia na produção de Cacau. Mas isso não será graças à produção da Bahia, pois “A Bahia, tradicionalmente maior produtor brasileiro apresenta média de 285 quilos por hectare” (leia aqui). Na verdade, estima-se que a Bahia deixe de ser o maior produtor de Cacau do Brasil em um prazo de 5 anos pois “das 160 mil toneladas de amêndoas de cacau produzidas anualmente no país o Pará já responde por 60 mil toneladas” (leia aqui).
Notem bem: Ilhéus tem uma produção de 285 Kg/Ha, contra 881 Kg/Ha da produção no Pará. A eficiência deles é mais de 3 vezes maior do que a de Ilhéus. E isso se deve a muitos fatores, entre os quais alguns como o clima, a vegetação e o regime de chuvas, todos mais favoráveis no Pará do que na Bahia. Como não se pode trocar o clima do Pará com o do sul da Bahia, não há como concorrer com isso.
O que será de Ilhéus então?
Há forte semelhaça entre os casos de Ilhéus e Detroit. Caso a economia do Sul da Bahia pemaneça insistindo em manter sua atividade baseada no Cacau, com todos os ovos em uma única cesta, então provavelmente terminará como a antiga "Capital do Automóvel" nos Estados Unidos, cujas fotografias de decadência podem ser vistas aqui.
Mas Ilhéus tem à sua frente uma escolha mais interessante. O Complexo Intermodal prevê a instalação de um Porto, um Aeroporto Internacional e uma Ferrovia, a princípio. Isso permitirá à cidade e região uma imensa diversificação de suas atividades. Pode-se fortalecer o Turismo, todas as indústrias regionais serão favorecidas, frutificarão atividades comerciais de importação e exportação, a agricultura poderá escoar grãos, o Pólo de Informática poderá importar equipamentos, pode até ser estrategicamente decisivo para a sobrevivência da própria Lavoura Cacaueira... as possibilidades são infinitas.
Trata-se de uma colossal diversificação de atividades econômicas. Com a implantação do Complexo Intermodal oferece-se não uma, mas inúmeras cestas de ovos à cidade de Ilhéus. Com o projeto, muitos ovos estarão sempre protegidos de acidentes. A economia da cidade poderá evoluir, as pessoas poderão encontrar oportunidades, a região florescerá novamente.
Mas para isso acontecer é necessário escolher.
Queremos continuar a por os ovos numa cesta só?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente aqui