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sábado, 20 de agosto de 2011

Bom Turismo!

Circula a notícia de que haverá um levantamento científico do modelo e da estrutura do turismo na cidade de Ilhéus. Este projeto, parceria da UESC e da BAMIN, será conduzido por pesquisadores da UESC. O objetivo é fazer um levantamento das instalações do setor de hotelaria, restaurantes e serviços como um todo, inclusive educação e saúde, além das condições das ruas, saneamento, situação ambiental, entre outros aspectos. Um dos coordenadores do projeto, prof. Gustavo da Cruz , explica que “O objetivo é ter informações consistentes que apontem caminhos para tornar o turismo ilheense mais forte e sustentável”.

Acho que esta pesquisa é uma ação inteligente e coerente para tratar o Turismo minguante e decadente que se pratica na região ex-cacaueira. De fato, nem é preciso muito esforço, tampouco uma pesquisa rigorosamente científica, para se perceber a imensa quantidade de equívocos que há no Turismo ilheense, bem como imaginar medidas simples que podem melhorar este cenário.

O modelo do Turismo da Terra da Gabriela é inteiramente equivocado. Os equipamentos turísticos, salvo os que foram legados pela Natureza, são praticamente inexistentes: há muito poucos serviços que são ofertados ao turista, e a qualidade destes serviços é muito ruim. A imensa maioria dos visitantes sai insatisfeita, principalmente quando compara Ilhéus com as opções mais próximas: Itacaré e Porto Seguro.

Em Ilhéus, o turismo existe principalmente para que algumas pessoas possam alugar suas casas por um valor diário bem polpudo. Estes, os donos das casas, saem ganhando alguma coisa. O restante das pessoas da cidade vê o turismo apenas como um período de turbulência no trânsito, nas ruas, nas delegacias. Não usufruem em nada.

Uma das coisas que é necessário entender é que este turista, o que aluga casas para veraneio, não é o turista que é desejável para a cidade. O Turista típico que vem a Ilhéus e aluga uma casa, vai apenas à praia e lá consome pouco e suja muito. De volta para a casa alugada, empurra sua pouca educação na forma de música alta nos tímpanos próximos e depois se vai embora. Não usa a infra-estrutura hoteleira, vai pouco a restaurantes, consome pouco nas barracas de praia. Cria um ambiente hostil ao seu redor, usa, suja e abusa de Ilhéus. Pouco deixa em troca.

É verdade também que em Ilhéus se oferece pouca coisa além das praias. Opções noturnas, como bares e restaurantes, além de passeios turísticos, praticamente inexistem. Com isso, o turismo existe de fato apenas nos meses de alta estação. E os serviços que este turismo oferece geram poucos empregos, em condições de trabalho precárias, com remuneração muito baixa, e por tempo muito curto: a alta estação. Tipicamente a geração de empregos do turismo em Ilhéus se resume a diaristas, garçons, “flanelinhas” e atividades afins.

O Turismo que existe em Ilhéus segue um modelo cruel e exclusivista. Não ganham as pessoas, não ganham os trabalhadores, não ganha o município. Apenas favorece uma minúscula elite.

É fácil imaginar que o Turismo numa cidade de 477 anos pode passar por muitas opções que podem e devem ser exploradas. Há pouca atenção aos aspectos históricos, por exemplo, que podem enriquecer e embevecer a estadia dos turistas enquanto viajam por diferentes lugares, palco de lutas, vitórias, derrotas e toda sorte de dramas humanos. História é sempre um deleite, e o Turismo pode e deve fornecer isso como uma alternativa à sua clientela. O ano inteiro.

É preciso entender, também, que o Turismo numa região incrustada na Mata Atlântica passa por passeios ecológicos, visitas a lugares exóticos e paradisíacos. Pode-se oferecer ao Turista uma série de experiências que ele não conseguirá ter em outros locais. Durante todo o ano. Todavia, é preciso que estes locais sejam bastante acessíveis, possuam boa infra-estrutura para recepcionar as pessoas e prestem serviço de qualidade a preço justo.

Aliás, os preços dos parcos serviços que existem em Ilhéus também merecem atenção especial. “É tudo muito ruim e muito caro”, já ouvi de vários visitantes. De fato. E, conforme me esclareceu um empresário, não dá para ser de outra maneira enquanto as coisas permanecerem como estão. Posto que a atividade turística só é lucrativa nos meses de alta estação, que correspondem a 1/3 do ano, impõe-se aos empreendedores a dura tarefa de arrecadar, em 4 meses, a reserva necessária para manter seu negócio nos outros 8. Isto é, seguramente, um forte elemento de pressão nos preços.

Ocorre que este quadro pode ser revertido no momento em que o Turismo de Ilhéus atravesse a areia da praia. Quando houver turismo além da beira do mar, oferecendo-se atrações da cidade em si – História, Gastronomia, Ecologia – então haverá a possibilidade de haver um fluxo contínuo (ainda que variado) de turistas em todo o ano. Os empreendimentos poderão faturar durante 12 meses, e assim se manter durante 12 meses. Isso diminuirá a pressão sobre os preços dos serviços.

Neste sentido, é importante que, além dos de fora, se pense o Turismo para os próprios ilheenses. Ilhéus não se oferece aos seus: não há atrações para as pessoas que moram na cidade. O Turismo não precisa ser pensado apenas para os visitantes; pode-se oferecer serviços aos próprios ilheenses que, ao se tornarem consumidores do Turismo local, ajudarão a movimentar esta indústria durante todo o ano.

Finalmente, o Turismo também precisa ser planejado para desenvolvimento regional. Normalmente a exploração turística de uma região acaba por excluir os nativos. Pessoas de fora se instalam e estabelecem seu negócio, restando aos locais apenas as profissões menos remuneradas e em condições de trabalho menos atrativas. Deve-se pensar na formação de empreendedores locais, com o devido financiamento, mais a contrapartida de qualificar e utilizar mão de obra local, de forma a oferecer aos ilheenses e seus descendentes a possibilidade de serem os atores principais deste processo, e não meros coadjuvantes.

Este conjunto de sugestões, que é simples de relatar, mas muito complicada de se efetivar, já que enfrentará barreiras culturais, políticas e financeiras, não é a solução pronta para o problema. Sequer são propostas concretas, apenas modestas sugestões. Mas devem servir para os que desejam ver o turismo como indutor de desenvolvimento, e não de exploração. É menos que um remédio. Apenas um singelo desejo.

Bom Turismo!

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