Eu publiquei um texto, explicando porque eu digo sim ao novo porto. O texto foi apresentado também no site do Rabat (leia aqui) e recebeu, como tantas vezes acontece, uma saraivada de críticas.
Que eu considero dignas de respeito, em sua maioria, e por esse motivo dediquei algumas horas para construir uma tréplica, contestando, concordando e discordando, sempre mui feliz com a polêmica e com o debate.
Não obstante, não vou responder aqui a ataques grosseiros, pessoais ou sem nenhum fundamento. Prefiro deixar o silêncio, seguido da inflexível disposição para o debate civilizado e sincero. Portanto, desculpem-me, mas vou ater-me ao que vale á pena, e assim não responderei às seguintes colocações:
“Acho que o Sr. necessita de lentes novas para ver melhor o que já está muito claro.
E abra os olhos também!” (Anonymous)
“(...)nao sei bem de que forma poderia descrever o pensamento do sr degas e das pessoas que usam a desculpa de que esse projeto vai desenvolver a regiao. poxa fico pensando se essas pessoas acreditam mesmo nessa possibilidadde, ou se elas ganham algum para se fazerem acreditar” (Anonymous)
“Esses intelectualóides metidos a comnunistas ainda vão destruir Ilheus. O que há de errado em um home honesto ter sua fazenda e ganhar dinheiro com isso? O que há de errado em ter uma casa e alugar? Quem não gostar que se mude ora!
Ainda vão destruir Ilheus com essas invencionices.”
(Anonymous)
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E agora vejamos o que temos, material farto e interessante: Primeiro "Anonymous", me pergunta: “já pensou que o que pode vir de possitivo vai ser maior que o negativo? já pensou nós já temos problemas demais e só vao aumentar.”.
A resposta é: SIM! Com certeza! Há uma série de riscos que estamos assumindo no projeto. Há uma chance de os malefícios superarem os benefícios. Isso é óbvio! Discutirei em breve o porquê de o Porto ser um projeto que traz riscos e que, por esse motivo, precisa ser acompanhado com atenção. Mas não se trata apenas de trocar o certo pelo duvidoso. Trata-se de trocar o certamente ruim, o modelo miserável a que essa região está submetido, por algo que pode – e depende muito de nós mesmos fazê-lo – ser uma alternativa muito boa e muito interessante para a região.
O mesmo "Anonymous" segue seu raciocínio: “se vc acha que isso vai resolver os problemas de emprego da regiao, por que regioes que tem esse "desenvolvimento" tem favelados , desempregados, analfabetos, viciados, desesperados,
por que? sabe? me diga? me convença?”.
Eu não sou demagogo. Notem que não tenho nenhum interesse pessoal no Complexo do Porto Sul, exceto que me incomoda viver numa cidade e numa região cada vez mais empobrecida. Assim, posso te dizer com toda clareza que minhas opiniões são suportadas por interesses totalmente impessoais. Talvez o Sr. Tenha ouvido alguém prometer, com o projeto, o bálsamo de todos os males da região. Eu jamais faria isso.
Dessa forma, respondendo às suas perguntas: não, não acho que os problemas serão resolvidos. Sim, é verdade que as regiões que possuem equipamentos semelhantes não estão livres de mazelas sociais. Mas, por favor, viaje a Vitória, a Cabedelo (na minha querida Paraíba), a Santos, a Itajaí. São todas cidades que eu tive o prazer de conhecer, e posso afirmar tranquilamente que a qualidade de vida ali é muito superior à que temos nessa região. Há mais oferta de emprego e de serviços, há uma economia mais ativa. Isso fomenta, via taxas públicas e via demanda populacional, o desenvolvimento de equipamentos públicos como hospitais, escolas, universidades, espaços públicos, etc. Claro que o Porto não vai ser a salvação de todos os problemas de Ilhéus e região. Demagogia dizer isso. Mas será uma ruptura com a decadência econômica progressiva a que essa cidade está submetida.
E os dados dessa decadência não são meus. São dados do IBGE, que aponta a população de Ilhéus como decrescente em função do êxodo, e do DIEESE, que mostra os níveis de emprego cada vez menores há anos seguidos – mesmo quando o Brasil quebrava recordes de geração de emprego.
Não vejo como negar a decadência desse modelo econômico frente a dados tão claros. Ouço muito esperneio, muita agressão, mas os dados, infelizmente, não se curvam a isso. Permanecem inexoráveis mostrando que a economia dessa região está simplesmente se desfazendo aos poucos.
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Alguém que, um tanto estranhamente, assinou como “Álvaro Dengas”, pondera o seguinte:
“Com certeza, vai ocorrer um crescimento populacional desordenado. Vai atrair migrantes que chegarão à Ponta da Tulha, no nosso município, no entorno, das cidades vizinhas, como Uruçuca, Itacaré, Ubaitaba, Itabuna... Com perspectiva de trabalho e melhores condições de vida.”
Eu não fico confortável de afirmar que essas coisas vão ou não vão acontecer “com certeza”. Não tenho bola de cristal e, segundo reza o bom método científico, todas as hipóteses precisam ser testadas para que cheguemos a uma tese. De onde vem a “certeza”? Mas eu concordo que há, efetivamente, um risco de que esse processo ocorra. Não obstante, também vejo medidas relativamente simples que podem ser tomadas e que o evitem: por exemplo, capacitar e usar mão de obra da região onde está se desenvolvendo o projeto. Não vejo nenhuma complicação em se fazer isso.
“A cidade de Vitória não possuía infra-estrutura para receber o grande fluxo migratório que, com o problema do desemprego no campo, se deslocou em sua direção durante e após, a construção do Porto de Tubarão, das indústrias que fazem parte dos Grandes Projetos Industriais. A instalação dessa população no pequeno espaço físico da cidade gerou a expansão de favelas e a ocupação do manguezal na área oposta ao Oceano. Foram considerados como
impacto dos fluxos migratórios, o inchaço das periferias, o aumento de índices de desemprego, diminuição nos índices de escolaridade, elevação dos índices de violência e criminalidade, prostituição, o índice de pobreza aumentou significativamente”.
Em contrapartida a cidade de Vitória hoje possui uma atividade econômica muito mais robusta, com bancos, comércio, hotéis, serviços, etc. funcionando num ritmo muito mais acelerado do que antes do Porto de Tubarão. A arrecadação municipal multiplicou, não só com o Porto quanto com o próprio fortalecimento da economia. É hoje um centro muito melhor de serviços médicos e hospitalares, educacionais e de transporte. A sua infra-estrutura, na forma de avenidas, pontes, etc. também foi multiplicada. Os problemas que chegaram à cidade com o Porto de Tubarão poderiam ser evitados ou amenizados, mas as vantagens que o investimento trouxe estão lá para se ver. Qualquer capixaba atesta isso com orgulho.
“Senhor já imaginou a quantidade de desempregados com a conclusão das
obras? O impacto social, ambiental que gerará? A falta de saúde, de emprego, de moradia?”
Acho impressionante como algumas pessoas afirmam que isso vai acontecer. Não, os desempregados não precisam certamente surgir com a conclusão da obra. Pois pode-se planejá-la para usar somente mão de obra local, conforme discuti acima. E quanto à falta de saúde, emprego, moradia... desculpe o pragmatismo, mas a quantas o Sr. acha que andam as ofertas de saúde, emprego e moradia em Ilhéus hoje? Com o Porto, e todas as atividades que cercarão o porto, haverá certamente uma demanda por mão de obra. Não vejo como isso aumentará o desemprego porque mesmo que nenhuma pessoa daqui seja contratada, o nível de desemprego então apenas será mantido. Não aumentará. Quanto à saúde e à moradia, pensando do ponto de vista público, a perspectiva é na verdade muito boa, porque haverá um incremento na arrecadação municipal e estadual. Basta que os dirigentes direcionem os investimentos na direção certa. Se isso não acontecer, então temos um problema. Mas um problema de gestão política - vejamos os prefeitos que andamos elegendo. Não do Porto.
"Novas parcerias deverão ser feitas com a Vale e outras instituições, pois novos projetos estão para serem implantados na região, aumentando ainda mais o processo migratório e os problemas socioeconômicos"
Isso! Esse é o ponto! As empresas não são preocupadas com o bem estar das pessoas, nem com a preservação da natureza, nem com o desenvolvimento econômico e social de uma região. Preocupam-se em ganhar dinheiro. Precisamos nos posicionar, e entrar em acordo com elas. Exigir delas. Colocar os interesses coletivos à frente das negociações, exigir contrapartidas aos seus lucros. Isso pode ser feito. Já foi feito em outros lugares.
“O cacau é mais do que uma cultura, é uma paixão que nos leva a acreditar que é possível superar a crise e atingir a sustentabilidade" (viúva do Saudoso Demostinho)
Não conheci o “Saudoso Demostinho”, tampouco conheço sua viúva. Mas devoto-lhes o maior respeito, independente disso. Não obstante... qual o sentido prático dessa frase? O cacau é uma paixão? E daí? O futebol também é! E nos dá a sensação de que é possível superar a crise? Poderia nos dar a sensação de que é possível construir um foguete para ir a Marte. Não nos dá a mínima evidência de nada. Não tem valor racional nenhum.
“o TURISMO, a maior indústria do mundo, segundo os cientistas econômicos e conhecedores do assunto. Na revista Exame eles apresentam estudos que o turismo é capaz de gerar novas colocações uma vez e meia mais rápido que qualquer outro no setor industrial, sem contar com os empregos indiretos.”
Ah, sim. O Turismo é uma grande indústria. Com certeza. Mas mostre-me uma única cidade que vive apenas do Turismo, por favor. Além disso, vamos falar francamente, o turismo que se tem em Ilhéus é o turismo predatório e parasitário. Não gera emprego e renda, senão sub-empregos temporários que perduram durante a alta estação, se tanto. Nem mais nem menos.
A fatia do “bom turismo”, a que o Sr. provavelmente se refere, é muito, muito pequena.
“o turismo é algo que não destrói (...) O turismo da forma que está sendo orientado, o que é uma tendência mundial, PRESERVA.”
Taí uma informação que eu gostaria de conhecer a fonte. Vendo campos de golfe, áreas abertas para prédios e cabanas, instalações de restaurantes, piscinas, quadras, campos de futebol e hotéis, estacionamentos... tudo produzindo esgoto, poluição e desmatamento, acho difícil acreditar que “o turismo preserva”. O turismo, assim como qualquer outra atividade econômica, tem seu impacto sobre o ambiente. Não podemos negar. Esse impacto pode ser contornado, minimizado e compensado? Claro! Tanto o impacto causado pelo turismo quanto o impacto causado por um Porto.
“(agronegócio) 40% dos empregos com carteira assinada no país”
Outra informação que eu queria ver a fonte. Porque se 40% das carteiras assinadas estão no agronegócio, mas menos de um quarto das pessoas do país vive no campo, então está-se vivendo uma opulência sem tamanho! Que se torna ainda mais estranha quando juntamos essa informação com o fato de que “o governo Lula editou a medida provisória 410, tirando o direito à carteira assinada dos trabalhadores rurais que executam trabalhos temporários”, que pode ser confirmada no site do PSTU (leia aqui).
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Um outro interlocutor, que também se alcunhou Anonymous, faz as seguintes considerações:
“mas emprego e renda? Para quem? Para os técnicos altamente qualificados que serão trazidos de São Paulo - ou do exterior - para operar o Porto e levar o dinheiro embora do mesmo jeito que os turistas porcos que seu texto condena??”
Bom. Vamos fazer duas contas possíveis. Primeiro caso: TODOS os contratados vem de fora. TODOS os empregos indiretos serão dados para pessoas de fora. Convenhamos que essa probabilidade é irreal. Mas ainda assim, o nível de desemprego da cidade não aumentará. Ninguém será contratado, mas também ninguém perderá o seu emprego! Provavelmente ainda diminuirá, pois esses TODOS que virão de fora precisarão viver na cidade: comprar, alugar casas, abastecer veículos, estudar, comer, etc. Isso é geração de emprego e renda.
Agora a outra conta possível: com um mínimo de responsabilidade, capacita-se e aproveita-se mão de obra local para se engajar no porto. Então muitas pessoas encontrarão oportunidade de trabalhar diretamente no porto. E empresas gerarão empregos indiretos de maneira semelhante. Então o nível de desemprego diminuirá muito!
A conta não é tão difícil de entender: o nível de desemprego não tem porque aumentar. No pior e remotíssimo caso, permanecerá estacionado. Mas com um pouco de ação das pessoas, e responsabilidade dos condutores do processo, os resultados podem ser ótimos.
Ilhéus está (tomara que se realize!) recebendo um IFBA. E tem a UESC e mais algumas universidades privadas. Todos podem e devem se engajar na capacitação de mão de obra para desenvolver atividades ligadas ao novo Porto. Isso é possível, depende apenas de um pouco de coordenação e esforço.
“Aceito sua reflexão, mas penso que ela foi muito minimalista e superficial.”
Mostre-me especificamente onde. Ou então passo a tratar essa sua consideração como mais uma agressão sem sentido que não merece resposta.
“Lamentarei mais ainda ao ver daqui há 10, 15 ou 20 anos, os ilheenses lembrando, chateados, por terem acreditado na ilusão de que esse porto traria alguma riqueza pra cidade. E as poucas paisagens preservadas, completamente destruídas pela ganância de faturar do governo estadual associado com gente que nenhum compromisso possui com o Brasil - quanto mais com Ilhéus.”
Engraçado o Sr. não imaginar se não há, hoje, ilheenses que, 10, 15 ou 20 anos atrás, também acreditaram que a lavoura cacaueira e o turismo seriam a salvação da região e hoje se lamentam. Note que há uma diferença: o Sr. diz que lamentará, no futuro. Como o futuro não é uma certeza matemática, precisamos considerar isso no condicional. Assim, pode ser que o Sr. lamente no futuro. Pode ser que não. Mas eu estou falando de pessoas que efetivamente lamentam hoje. Fatos, não possibilidades.
“é no mínimo infantil acreditar que os governantes e empresários estão preocupados com o desenvolvimento econômico da região.”
Evidentemente. No caso dos empresários, isso é óbvio. Empresários se preocupam em ganhar dinheiro. Simples assim. Mas a busca deles pode ser benéfica para todos. Porque na busca pelo lucro eles geram emprego, constroem infra-estrutura, impulsionam diferentes aspectos da economia. Cabe-nos, enquanto sociedade, decidir quando e quanto eles, os empresários, podem avançar em sua busca pelo lucro. E a medida exata é a vantagem que a sociedade leva. Se deixa de haver vantagem, então é hora de impedir os empresários. Há mecanismos para isso tanto no poder Executivo quanto no poder Judiciário.
No caso do Porto Sul, ainda discutirei a respeito, não espero que as empresas desejem mais do que ganhar dinheiro. O que se espera é que isso possa ser traduzido em vantagens para as pessoas da região.
Quanto aos políticos eu não vou discutir. Porque eu creio nos seres humanos, e portanto creio que há, sim, políticos interessados no desenvolvimento e no bem comum. Mas são convicções pessoais.
Um grande prazer debater com vocês. Podem usar esse espaço aqui para continuar, se desejarem.
Arrasou Degas! Com toda serenidade derrubou todos os "arghumentos" que eles arrumam prá manter a cidade no atraso!
ResponderExcluirAs pessoas que não concordam com o porto Sul são todos os picaretas que exploram essa cidade há séculos.
ResponderExcluirVejam no site pimentanamuqueca os gringos que botam pressão prá o porto não sair. Enquanto isso eles ficam com seus hoteis de luxo, ganhando uma fortuna.
E o povo de Ilhéus que se f....
Claudio.
Só é contra o Porto Sul as pessoas que se dão bem com a miséria da região.
ResponderExcluirO que algumas pessoas não entendem é que, mesmo que houvesse potrencial para empregar 50% da população de Ilhéus com turismo (e não há), não há como fazer com que as pessoas ignorem suas vocações porque aluém acha que só se pode fazer turismo e serviços aqui. Apenas o complexo do porto não será suficiente para oferecer uma gama completa de opções de carreiras aos nossos jovens e dinamizar a economia da região, mas esta infra-estrutura, se corretamente implantada, pode viabilizar setores outros a se instalarem aqui. Ao invés de serem contra tudo estas pessoas deveriam se debruçar nas soluções técnicas para o evitar os problemas e melhorar o projeto. O Brasil precisa desta infra-estrutura viária para ser mais competitivo. Se não for construído em Ilhéus, o será em outro canto.
ResponderExcluirTemos é que lutar para que este projeto envolva açoes complementares para reforçar/ampliar as iniciativas empresariais daqui, principalmenet aquelas que não vivem apenas de mão-de-obra de baixa qualificação e barata.
Não tem como explicar as pessoas vendo a economia da cidade falindo e ainda acharem que não precisamos fazer nada.
ResponderExcluirComo nem sempre tá ruim prá todo mundo, e tem algumas pessoas que ainda estãzo se dando bem, por causa da miséria de muitos, aí fica fácil de explicar.
Pra essas pessoa ta tudo bom, e a cidade que se lixe.
Uma pena.