Jim Thatcher, responsável pelo suporte a padrões no Microsoft Office
Parece que a Microsoft deu um passo inédito em seu caminho corporativo. Pela primeira vez a empresa migrou seus aplicativos em direção a um padrão aberto, algo que geralmente só acontecia no sentido inverso: os outros aplicativos é que, buscando alguma penetração junto aos usuários, eram obrigados a incluir uma portabilidade para o “padrão” da empresa.
Do ponto de vista do usuário a mudança é simples de entender: a partir da próxima versão do Word, Power Point e Excel, será possível abrir e editar arquivos no formato ODF (Open Document Format), que é usado nos aplicativos Open Office e Libre Office, entre outros. Além disso, promete ainda a Microsoft que o usuário também terá o conforto de editar arquivos .PDF usando seu editor de textos.
Office 2013 adere ao padrão ODF |
Tecnicamente um fator decisivo é o fato de que o formato ODF é baseado em XML, permitindo uma fácil interoperabilidade entre diferentes aplicativos, já que o XML traz em si sua própria estruturação, e com isso se pode reduzir o acoplamento entre os programas e os dados. Esta independência facilita o desenvolvimento e a integração de diferentes aplicativos, algo outrora disponível apenas no “mundo” MS-Office.
Do ponto de vista empresarial, porém, a decisão da Microsoft é muito ousada, e revela uma forte guinada na orientação estratégica da empresa. Pela primeira vez o MS-Office, que chegou a ser praticamente um padrão em produtividade pessoal nos anos 90 e início do milênio, adere a um formato aberto. Pode parecer pouco, mas a orientação da Microsoft sempre fora no outro sentido, chegando à pachorra de criar formatos “especiais” para o Office a partir da versão 2007 (os famigerados arquivos .docx e .xlsx), numa patética tentativa de distanciar seus usuários dos aplicativos Libre Office e Open Office.
A empresa, usando a popularidade conquistada pelos seus aplicativos de escritório nas décadas passadas, usava o patrimônio em dados que os usuários possuíam, todos armazenados no seu formato proprietário, para estabelecer um vínculo cruel, obrigando-os a aderir às sucessivas versões do MS-Office. Ficavam todos sujeitos a uma espécie de escravidão do formato.
A popularidade crescente do Libre Office, e o investimento da Oracle no Open Office, que implementam compatibilidade com os formatos da Microsoft, bem como com o padrão ODF, mudaram aos poucos o cenário.
Agora, aderindo ao modelo Open Document, a empresa pode passar de vilã a protagonista na comunidade de código aberto, mostrando disposição para disputar os usuários não mais pela escravização do formato, e sim através da sua inegável competência na produção de aplicativos com alta qualidade técnica e facilidade de uso.
Sinal dos tempos.
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