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sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Quando o bicho pegou

Para muitos, Alain Prost e Ayrton Senna se detestaram mutuamente desde que passaram a dividir a equipe Mclarem.

Esta afirmação não é inteiramente verdadeira. De fato, durante a temporada de 1988, apesar de disputas duras e até algumas declarações sugestivas, a convivência entre os dois gênios ocorreu de maneira razoavelmente pacífica.

Naquele ano, apesar de fazer mais pontos que o brasileiro, Alain viu Ayrton levantar o troféu, num campeonato em que a Mclarem venceu 15 das 16 corridas. É que havia uma regra de descarte dos piores resultados, e como acumulou muitos abandonos, Senna acabou beneficiado.

Mas a relação entre os dois se deteriorou mesmo apenas em 1989. Foi por ocasião do Grande Prêmio de San Marino, disputado no circuito de Ímola, na Itália. E tudo foi decorrência de uma bela ultrapassagem de Ayrton Senna sobre o francês.



Ocorre que não foi por Alain Prost não aceitar a derrota, tampouco por qualquer tipo de falta de esportividade da parte dele que se gerou a celeuma.
É que, dada a superioridade dos carros Mclarem frente à concorrência, os dois pilotos haviam feito um acordo de cavalheiros. Este arranjo dava conta de que não haveria ultrapassagens na primeira volta, a fim de diminuir os riscos para ambos, já que outros 24 pilotos vinham logo ali atrás, com disposição de esmagar os pescoços maternos em troca da chance de superar uma Mclarem.

Ao final da primeira volta, se tudo corria bem, a diferença entre os carros de Woking e a concorrência já era bastante significativa, e eles começavam a duelar de verdade.

Só que naquela corrida Ayrton decidiu ultrapassar o francês. Depois usou como argumento o fato de que se tratava de uma relargada, e assim não foi exatamente na primeira volta que aconteceu a manobra.

A alegação do brasileiro efetivamente foge ao espírito do acordo, que buscava garantir que as disputas entre eles só começariam depois de abrirem vantagem para a concorrência. Mas a defesa de Ayrton segue à letra o que haviam acertado: aquela não era a volta de número 1 da corrida.

Ficou o dito pelo não dito. E Ron Dennis não tomou partido por nenhum de seus pilotos, pelo menos publicamente. A partir de então, Alain tomou duas decisões cruciais. Não compartilharia mais com Ayrton a equipe Mclarem no ano seguinte e, no decorrer daquela temporada, passaria a trabalhar o mínimo possível em equipe.

Coincidência ou não, Alain acabou conquistando, naquele ano, seu terceiro campeonato mundial.

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