Este GP da Malásia foi, de longe, o mais legal que eu assisti nos últimos tempos. Uma corrida com muitas ultrapassagens, embora nenhuma pelas três primeiras posições, e muitas brigas por posição – que a ultrapassagem é bonita, mas a defesa do adversário também é uma atração à parte, e não é trabalho simples de se fazer. Perguntem a Adrian Sutil e a Jenson Button.
E deixou uma coisa muito clara, para mim. Aliás, aparentemente contraditórias, foram duas as coisas que ficaram claras.
Primeiro, que este será um campeonato bastante disputado. Porque há um certo equilíbrio entre as 3 maiores equipes, com a Mercedes e a Force Índia tentando se juntar ao grupo, e em nenhuma delas há um piloto preferido. Logo, a luta será franca entre Vettel, Webber, Massa, Alonso, Button e Hamilton.
Segundo, que o campeão será Sebastien Vettel. É uma aposta, claro. Mas eu posso justificar minha apreciação: Vettel está guiando com muita consistência, e sua Liz Gostosa (ele sempre põe nome de mulher nos carros que guia, chama o seu Red Bull 2010 de Hot Liz. Foi a melhor tradução que eu achei) é o carro mais rápido do Grid até agora.
Claro, ainda tem muitas corridas, as equipes não estão paradas: em suas sedes o trabalho com certeza é frenético. Antes da temporada européia começar haverão muitas alterações mecânicas e aerodinâmicas em todos os carros, e muita coisa pode mudar.
Por isso Vettel me parece uma aposta boa. Porque apesar de esperar alternâncias de desempenho a cada corrida (como foi até agora, com a Ferrari fazendo dobradinha na primeira prova, a Mclarem dominando a segunda e a Red Bull destruindo a concorrência na terceira), parece que a equipe Suíça, com sede na Inglaterra (vai entender isso), estará com uma pequena vantagem média durante toda a temporada, ainda que inferiorizada aqui e acolá. E Vettel tem braço para fazer a pequena diferença que faltar.
E com todas essas variáveis, o GP da Malásia mostrou-se uma corrida exuberante. Com a exuberância de Lewis Hamilton, vindo das últimas filas, e ganhando posições uma a uma, escalando na tabela de posições até encontrar o insuperável Sutil e sua Force Índia.
Eu acho Hamilton um piloto espetacular. No sentido etimológico da palavra: piloto que dá espetáculo. Vai para cima dos adversários, divide curvas, não tem medo de errar, arrojado e audacioso. Não consigo vê-lo guiar sem lembrar de um certo tri-campeão mundial que o Brasil teve, mas que morreu tragicamente numa curva da vida.
Foi bom de ver a consistência de Felipe Massa, que soube tirar o máximo de sua Ferrari, e acabou beneficiado com o abandono de seu colega de equipe para superá-lo na tabela e assumir a ponta do campeonato. Felipe e Alonso, os dois ferraristas, são os atuais líderes do certame. Mas a Ferrari ainda mostra dificuldades na confiabilidade – Felipe e Alonso já estão com um motor e um câmbio parcialmente encostados, e Alonso já mandou outro motor para a Terra de Hade.
Don Fernando, aliás, foi o melhor de se ver na corrida. Aparentemente apagado, na verdade Alonso vinha lidando com um problema de embreagem e/ou câmbio (a Ferrari não esclareceu) desde a volta de apresentação. O que o fez largar mal. O que o fez ter que lidar com a caixa de câmbio de maneira peculiar: passando as marchas “no tempo”. Durante toda a corrida. E ainda assim andou no mesmo ritmo de Felipe Massa, até que o motor, sempre sacrificado ao ser submetido às altas rotações inerentes a cada mudança "no tempo" – principalmente em baixas velocidades – acabou quebrando.
Isso, porém, não tira o brilho da prova que o espanhol fez. Dadas as condições, e guardadas as proporções, foi uma das melhores atuações que eu já vi um piloto fazer na Fórmula 1. Infelizmente não foi por causa de ultrapassagens ou manobras mirabolantes. Não foi “espetacular”. Mas foi digna dos grandes mestres, sem nenhuma dúvida. Alonso está ocupando rapidamente o posto de piloto principal da equipe, a despeito do carisma e da qualidade de Felipe Massa. Alonso está crescendo na Ferrari, não pela carreira, nem pelos títulos ou patrocinadores. Apenas porque é o melhor piloto do mundo na atualidade. Simples assim.
E o destaque negativo, infelizmente, vai para Bruno Senna. Ou o Senna B (um amigo meu havia me alertado: houve o Senna A, de Ayrton. Esse aí é um Senna B, de Bruno). Deixa eu explicar o meu ponto de vista, antes que se gere alguma polêmica.
Ao contrário de Lucas di Grassi, o outro brasileiro estreante, Senna não divide a pista com um piloto reconhecidamente rápido e experiente, como Timo Glock. Seu colega de equipe é o novato indiano Karun Chandhock. Na prova do Bahrein, enquanto Senna testou durante toda a sexta-feira e no sábado pela manhã, Karun guiou o carro da Hispania apenas para a classificação. Ficou a apenas dois segundos do brasileiro. Na prova da Austrália, a diferença havia caído para 0,1s. E Bruno sempre tendo a preferência nos testes. E Chandhock conseguiu levar o carro até o final em Melbourne.
Na Malásia, Senna já viu Chandhock classificar o carro à frente, e terminar a corrida com mais de 17 segundos de vantagem. Não está dando para ficar muito entusiasmado com Bruno. Pelo menos por enquanto.
Mas ainda faltam muitas corridas, as equipes e os pilotos ainda tem muito para fazer, sofrer e mostrar. Talvez Bruno se mostre digno do sobrenome, afinal. Talvez Vettel não seja o campeão. Talvez Massa supere Alonso, pois já passou com sucesso por apertos similares no passado.
Talvez. Mas eu aposto que não.
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