Pesquisar

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Resposta ao Sr. Penha

No blog do Gusmão há algumas apreciações do Sr. Marcos Penha, ele que tem sido um indelével e, aparentemente, cada vez mais raro, defensor da idéia de que o Complexo Intermodal não deve ser construído. O texto pode ser lido aqui.

Em primeiro lugar, vamos deixar bem claro o seguinte: defendo inteiramente o direito do Sr. Marcos Penha de dizer o que pensa, embora reserve-me o direito de discordar do que julgar improcedente.

Assim, sendo, gostaria de ressaltar, e ponderar, algumas das colocações do Sr. Penha.

Primeiro, comentando sobre a audiência pública para a FIOL (Ferrovia Integração Oeste Leste), a qual acabou sendo um tanto tumultuada por pessoas que queriam protestar contra o Porto Sul, portanto estavam no lugar errado, no debate errado, na hora errada, o Sr. Penha disse que "As questões colocadas não foram respondidas, a contento, pelos representantes da Valec (...) As respostas recorrentes eram 'não sei' e 'tá no site', dentre outras identicamente estapafúrdias"

Eu não classificaria de estapafúrdias as respostas. Primeiro porque foram respondidas, sim, a maioria das questões. E, por incrível que pareça, não foram formuladas as perguntas mais importantes - provavelmente porque estão muito bem respondidas no RIMA. Algumas respostas ficaram incompletas, porque as perguntas foram cuidadosamente selecionadas para que a respostas dependessem de detalhes muito específicos, e o material não estava disponível no instante. Uma falha, provavelmente. Mas nada imperdoável. Sobre o mais importante, que é a idéia geral do impacto ambiental, e das compensações a respeito, não restaram dúvidas. Assim, parece-me grosseiro chamar as respostas de "estapafúrdias".

De mais a mais, o problema não está mais no impacto ambiental - note que o foco da discussão já mudou. Está no impacto econômico.

Ambas as questões são relevantes. E há medidas prometidas - algumas já sendo levadas a cabo - como qualificar mão de obra local para a execução dos projetos e posterior aproveitamento no empreendimento.

Não vejo muito onde discutir mais a essas alturas. O que não significa que o problema está resolvido. Claro que não. Porque até agora o que se tem são apenas promessas. O próprio Complexo Intermodal ainda é uma promessa, nada mais. Cabe-nos, e aí eu acho que os ativistas ambientais serão de grande valia, uma fiscalização rigorosa do que está sendo executado, e como. Infelizmente, apesar de aparecer muito organizadamente nos protestos e nas manifestações contra o Complexo Intermodal, pouco vejo os ambientalistas atuando como fiscais. Fica parecendo que, se o projeto for levado a cabo, então seu interesse acabou. Tomara que seja só uma impressão minha.

"Caso o projeto venha a se concretizar, sem dúvida, haverá maioria de perdedores formada por gente sem qualificação profissional."

Eu acho interessante as frases que incluem um nível tão grande de certeza sobre o futuro. Afirmações carregadas de convicção, mas sem maiores fundamentos, pelo simples fato de que prever o futuro é algo que ainda não nos é dado, pobres mortais. "Sem dúvidas" este é um problema potencial que pode ocorrer. "Sem dúvidas" há alternativas para que esse problema seja evitado, ou minimizado. "Sem dúvidas" é possível fazer o projeto de maneira adequada. Mas não há como se dizer "Sem Dúvidas" que ele esta fadado ao fracasso (ou ao sucesso). Isso depende ainda de toda uma série de circunstâncias e decisões.

O Complexo Intermodal pode dar certo, sim. Pode ser uma excelente alternativa para esta região falida e sem esperanças. Concretamente, é uma saída viável para que a economia cresça e se diversifique. Para que Ilhéus e região deixe de ter mais de 30% de sua população abaixo da linha da pobreza. Para que a prefeitura possa ter capacidade de investimento em saneamento, saúde e educação, a fim de corrigir as enormes distorções sociais e econômicas que bloqueiam totalmente o desenvolvimento da cidade, atendendo a toda uma população de miseráveis, ou quase miseráveis, que não encontra nenhuma ONG nem tampouco nenhum ativista para denunciar. Todavia, nada se realizou ainda. Portanto não tenho certeza de que será. Assim como ninguém pode ter certeza de que não será. Qualquer afirmação nesse sentido é, no mínimo, descuidada.

"Podemos traçar, tranquilamente, o perfil dos defensores do complexo intermodal: grandes investidores estrangeiros, políticos com mandato (principalmente), os que defendem interesses particulares e os enganados por conta de promessas hipoteticamente alvissareiras. Esses últimos, por não usarem o raciocínio e estarem na lanterna dos afogados, funcionam como papagaios, que só repetem as ‘vantagens’ futuras alardeadas. Nesse grupo, há quem adore falar palavra tipo intermodal, sem ao menos saber o significado, só pelo motivo de achá-la bonita."

Intermodal, ou Multimodal, significa que o complexo vai estar apto a operar o entrelaçamento de várias modalidades de transporte, composto de porto, retroárea portuária, ferrovia, rodovia, aeroporto, terminais turísticos e de carga alfandegado. No caso, multimodal parece a palavra mais adequada ao contexto.

Não sou nenhum gênio. E, apesar de não me sentir ofendido, quero deixar bem claro que me surpreendi muito ao descobrir que sou uma pessoa do tipo que "por não usarem o raciocínio e estarem na lanterna dos afogados, funcionam como papagaios, que só repetem as ‘vantagens’ futuras alardeadas". Eu me achava um pouco mais inteligente do que isso. Acho que me enganei. Eu e muitas outras pessoas.

Não obstante, poderíamos também traçar o perfil dos que são contra o complexo intermodal: grandes investidores estrangeiros, que possuem terras e/ou empreendimentos na região. Ou seja, há grandes investidores interessados tanto na execução quanto no cancelamento do projeto. Apesar de estarem em posições inconfessáveis, ressalto que ambos possuem o legítimo direito de defender seus interesses.

Mas eu entendo que há pessoas que são legitimamente contra o projeto. Porque acreditam que ele trará menos benefícios do que prejuízos. A diferença é que, no meu entender, isso não as qualifica como intelectualmete inferiores, nem superiores. Apenas pessoas que pensam diferente. Convencíveis ou não pelos argumentos.

"hoje, sob comando de governos civis, vem-se com a ideia de que a decisão partiu de cima e que não adianta questionar, apenas aceitar."

Acho que o Sr. não viveu, não se lembra, ou não conheceu muito bem o que foram os anos de chumbo. Naqueles tempos o Sr. ou eu não estaríamos escrevendo nossas opiniões impunemente. Não haveria audiência pública, e qualquer manifestante contrário à vontade do governo ia para a cadeia. Simples assim. Alguns, mais incômodos, acabavam "suicidados".

Hoje vivemos uma realidade muitíssimo diferente. Não se pode negar.

Democracia é um espaço onde as idéias e os argumentos podem ser postos livremente. O direito que nos é garantido é o da Livre Expressão. Mas precisamos entender que não há nenhuma garantia democrática de que as pessoas concordarão com nosso ponto de vista. No caso, aparentemente, a maioria das pessoas acredita que o Complexo Intermodal pode ser um paleativo importante para essa pobre região ex-cacaueira. Isso não é imposição, não é ditadura. Talvez, segundo o senhor Marcos Penha, seja falta de intelecto, ou algum atributo que só se vê na lanterna dos afogados. Isso eu não sei.

"qualquer um pode saber quem é, hoje, o maior mentiroso do mundo. Basta acessar o Google ( http://www.google.com.br/ ), digitar a palavra mentiroso e depois clicar “estou com sorte”. Aparecerá a figura do cabra com seu respectivo vasto currículo. Confira. Como dica, lembro que a mentira tem perna curta. Tem perna curta, barba branca, língua presa e falta um dedo. É o que diz a sabedoria popular."

Eu já teci inúmeras críticas ao presidente Lula, ao governador Wagner e ao Prefeito Newton. Inclusive cobrando promessas não cumpridas. Mas acho que uma ofensa pessoal não deveria caber num debate saudável. Opinião minha, muito particular, naturalmente.

Não obstante, associar o nome de uma pessoa, de uma empresa ou de um país a certas palavras do Google não é difícil. O algoritmo é simples: o Google "vende" palavras. Quanto mais se paga para associar um endereço, ou um grupo de endereços eletrônicos a uma ou mais palavras, maior relevância esse(s) endereço(s) terá(ão) quando houver uma busca. Se eu tivesse dinheiro o suficiente, e mais flexibilidade de caráter, poderia colocar qualquer nome associado a qualquer palavra.

Assim sendo, não se trata de nenhuma sabedoria popular. Apenas sabedoria dos que usaram o Google como arma política.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente aqui