A bem da verdade, o fato é que a tese dos que se opõem não convence muitas pessoas na cidade e na região. As pessoas já decidiram que desejam o empreendimento, e isto já foi manifestado publicamente em várias oportunidades.
Passeata de apoio ao Complexo Intermodal |
Todavia, em respeito ao bom raciocínio e ao bom pensamento há que se ponderar cada um dos argumentos cuidadosamente. Com freqüência as minorias possuem argumentos sólidos que são desprezados pelos demais.
Todavia, não não é este o caso: o tripé mostra-se frágil, e simplesmente rui quando é submetido a uma análise cuidadosa. Vejamo-no pé por pé.
Geração de empregos.
É muito difícil estimar realisticamente a quantidade de empregos que um grande empreendimento público/privado irá proporcionar. Por um lado, o dimensionamento do negócio não consegue levar em consideração a evolução das tecnologias que podem surgir no futuro, e que certamente impactarão na quantidade e no perfil de mão de obra que poderá ser aproveitado. Por outro lado, as cadeias de atividades indiretas são difíceis de serem avaliadas, embora fáceis de serem desprezadas. No caso do complexo, além dos empregos diretos haverá uma série de demandas para atividades econômicas indiretas nas áreas de transporte, alimentação, logística, tarefas de administração e bancárias, jurídico, entre tantas. E ainda há o fato de que cada uma dessas atividades também catalisa o surgimento de uma “segunda linha” de atividades indiretas, e assim sucessivamente.
Logo, é muito difícil se calcular com precisão absoluta a real quantidade de empregos que será gerada. As estimativas são um tanto frágeis, e as mais otimistas falam em dezenas de milhares de empregos. As mais pessimistas, por sua vez, limitam o ganho em algumas centenas. Por sabedoria, talvez seja o caso de apostar num número intermediário.
Mas não é razoável supor um número muito baixo porque a própria dinâmica capitalista vai buscar explorar os equipamentos e as oportunidades ao máximo. Os capitalistas não são bobos, e não desperdiçam nenhuma chance de ganhar mais, levando o uso de qualquer capital ao limite. É uma grande tolice pensar que um Porto servirá apenas à mineração. É obtuso não considerar que se buscará maximizar o uso de toda a infra-estrutura instalada. O Porto servirá à mineração, certamente. Mas também servirá ao Turismo, ao Pólo de Informática, ao setor de Serviços, ao Comércio e à Indústria de toda a região, talvez de todo o estado da Bahia. E, certamente, servirá a outras atividades que não foram elencadas aqui.
Degradação ambiental.
Da mesma forma que na geração de empregos, as análises mais otimistas e mais pessimistas se opõem diametralmente. De um lado há os que defendem que o impacto será irrelevante, e que as ações de compensação e mitigação serão plenamente satisfatórias. Na outra ponta há as análises apocalípticas que apontam uma degradação irreversível, com impactos múltiplos em todos os ecossistemas do litoral norte de Ilhéus, antevendo o desaparecimento de espécies, desequilíbrio de populações e toda sorte de danos ambientais. As trombetas do apocalipse já chegaram à pachorra de mostrar baleias Jubarte em um vídeo, sugerindo que elas também estariam em risco.
Naturalmente que o mais ponderável é apostar em algo intermediário. Outros portos convivem com o meio ambiente sem que nenhum impacto dramático tenha sido observado, embora, é importante observar, sempre tenha havido mudanças que precisaram ser administradas.
É interessante observar, porém, que em nenhuma dessas análises se observa uma conseqüência irreversivelmente negativa sobre as pessoas. A única alegação é a respeito de que se inviabilizariam atividades locais, tipicamente a pesca artesanal, a agricultura familiar e o turismo. Sobre este último, ocorre que em inúmeros lugares do Brasil e do mundo o Turismo convive com muita facilidade de estruturas portuárias. Aliás, normalmente tira muito proveito delas. Não há registro de nenhuma cidade cujo turismo tenha sucumbido em função da instalação de um Porto. Aliás, o que se dá é muito pelo contrário.
As demais atividades primárias e extrativistas, como a pesca e a agricultura familiar, de fato serão afetadas. Mas é forçoso reconhecer algo que se pode observar com uma simples visita àquelas comunidades: as pessoas apenas subsistem com essas atividades econômicas. Vê-se fácil em boa parte daquelas comunidades que a quase todos eles falta quase tudo; desde bens de consumo até as necessidades mais básicas de saúde, alimentação, habitação e transporte. Considerando suas carências atuais, é efetivamente inverossímil se pensar que estas pessoas não consigam oportunidades melhores com a instalação do complexo. Mas é simplório o argumento de que a vida delas ficará pior. Não há muito por onde.
Moradia de família que vive da pesca artesanal |
Interior da casa de uma família que vive da pesca artesanal |
Impacto na sociedade.
O argumento final é o de que a região sofrerá com a chegada de centenas de milhares de pessoas que virão em busca de emprego. É o que se cunhou chamar de “favelização”. Um termo questionável do ponto de vista ético e científico.
Inicialmente é importante ressaltar uma contradição que há nos discursos: por um lado se garante haverá geração de meras centenas de empregos; mas por outro se sustenta que centenas de milhares de pessoas virão e se fixarão na a região em busca de oportunidades. Evidentemente que ou uma coisa ou outra precisa ser falsa: ou se gera muito emprego, e se atrai muitas pessoas, ou se gera pouco emprego, e se atrai menos pessoas.
Por outro lado, não há mais que se temer a chegada de favelas em Ilhéus. Elas já existem, são muitas, e se multiplicam. Em bairros, como Nossa Sra. Da Vitória, Teotônio Vilela. Em localidades, como Banco da Vitóiria, Aritaguá, Inema, Juerana. Não há risco de o Complexo gerar “favelização”. Se o temor é pelas favelas, não há mais o que recear: elas já estão aí.
Condições de moradia em Ilhéus |
Estrutura de saneamento básico em Ilhéus |
Em seguida se destrói este argumento ao se considerar as próprias contas da prefeitura e as estatísticas do IBGE: Ilhéus simplesmente não é mais uma Cidade sustentável. É uma cidade cuja população diminui sucessivamente por falta de oportunidades. Alinha-se entre as que menos evoluíram economicamente no Brasil nas últimas décadas. Na verdade, involuíu.
Esta cidade não arrecada mais o suficiente sequer para manter a si mesma, e muito menos para qualquer tipo de investimento público. Seus equipamentos de saúde, educação, transporte, habitação, limpeza, manutenção de vias, estão todos em colapso. Nada mais funciona, e não há como fazer funcionar, já que não há recursos, nem perspectiva de havê-los.
É difícil imaginar que as coisas possam ficar piores para esta cidade com a chegada do Complexo Intermodal. Ilhéus já não tem mais quase nada a perder.
Desta forma, bem medidos os argumentos e bem avaliados os fatos, não se vislumbra nenhuma sustentação inatacável nas alegações daqueles que são contrários à vinda do Complexo Intermodal. Mais ainda, quando cobrados sobre propostas alternativas, invariavelmente o discurso destes grupos se volta para Turismo, agricultura familiar, pesca artesanal. Atividades que são exploradas há décadas, produzindo apenas desigualdade e pobreza. Anseia-se por algo novo, enquanto o que oferecem é apenas mais do mesmo remédio amargo que não funciona.
Parece fácil escolher. Contudo, não é a vontade das pessoas de Ilhéus que decidirá pela instalação ou não do Complexo Intermodal. Há interesses bem maiores por trás. Uns a favor, outros contra. As esperanças de todos estão lançadas. No futuro, dias melhores virão.
Ou não.
Muita sensatez, cara!
ResponderExcluirAndo meio preguiçoso pra escrever... Ainda bem que temos você pra dizer o que "a gente" tem vontade de dizer!
Sabe qual o trecho que mais gostei?
Este:
"Todavia, não não é este o caso: o tripé mostra-se frágil, e simplesmente rui quando é submetido a uma análise cuidadosa."
Sei que o "rui" que você escreve é outro (tem outro significado), mas não me deixa esquecer daquele... você sabe!
É! Aquele! Que, parece, também ruiu, desmoronou, escafedeu-se, sifu...!
Onde quer que esteja, que Deus o tenha!
Antes de parabenizá-lo pelo artigo, quero dizer que gostaria de ter escrito algo semelhante!
Parabéns!
Souza Neto
Tem coisas que a gente faz achando que ninguém vai notar, e depois descobre que valeu à pena.
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