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terça-feira, 20 de setembro de 2011

E-Mail publicado a pedido

"Olá,


Sou mulher, mãe, professora, tenho 48 anos e três filhos maiores de idade, dois deles desempregados. Sou também ilheense e católica… Frequentei durante muito tempo a igreja São José, da Avenida Itabuna, até a morte do Padre Getúlio. Depois disso, perdi um pouco a vontade de ir às missas porque não é mais como antes. Infelizmente, vejo uma igreja que se afasta cada vez mais dos objetivos que deveria ter, ignora as necessidades dos fiéis, não pisa no chão nem se inclina para ouvir o povo.


Um dos meus filhos desempregados é justamente o que concluiu o curso de Administração de Empresas na Uesc. Ele tem 25 anos e sua experiência profissional não passa de estágios do tempo da faculdade, nada além disso. Nós o queremos perto da gente, mas está difícil segurar um jovem de boa formação acadêmica e familiar, que vê seus sonhos cada vez mais se transformando em frustração. É duro!


Mas em Ilhéus está assim. Faltam oportunidades, as empresas fecham, assim como se fecham as portas para quem procura emprego. Por isso, é difícil para mim, como mãe e católica, entender a posição do bispo Dom Mauro, que resolveu combater o Porto Sul. Com que argumentos? Propondo o que em troca?


Não consigo entender uma suposta defesa do meio ambiente que não entende o ser humano como parte de todo esse contexto. Também não compreendo toda essa confusão em torno do assentamento Bom Gosto, já que – em trabalhos sociais dos quais já participei ali, descobri a miséria absurda em que vive a maioria das famílias. Existem áreas de 1 hectare onde 16 famílias tentam sobreviver, num verdadeiro processo de favelização rural. Muitos sequer vivem da terra, apenas moram nela e buscam seu sustento como trabalhadores informais em Ilhéus. Para mim, não tem nada melhor para essas pessoas do que negociar um reassentamento em boas condições, apoio financeiro e assistência técnica. O que não dá para entender é ser contra tudo e, em troca, oferecer nada. Aliás, o que se oferece é a manutenção de centenas de pessoas na miséria, no isolamento, longe dos serviços e distante de qualquer perspectiva.


É assim que muitos preferem viver em Ilhéus: na estagnação, na cegueira, de costas para as oportunidades. Ilhéus já perdeu várias chances de dar um futuro melhor ao seu povo. Muitos sonhos, como o de meus filhos, viraram frustração porque há gente com espírito de porco e mentalidade atrasada, que prefere ser contra… Para mim, na verdade, eles são contra Ilhéus.


Gostaria que essa carta fosse divulgada em todos os meios de comunicação, como um desabafo de uma mãe que está cansada de ver um filho formado, cada vez mais triste e decepcionado por não poder colocar em prática o que aprendeu na universidade. Sei que minha tristeza não é só minha. Há muitos na mesma situação, infelizmente.


Olga Ferreira"

Um comentário:

  1. Em respeito aos que tem me cobrado sobre a suspeita a respeito de Dona Olga eu ponho o devido esclarecimento.

    Eu tenho o endereço de E-Mail da pessoa que assinou Olga e me enviou a mensagem. Como foi enviado de maneira privativa, não o divulgarei.

    O E-Mail é válido (não retorna erro). Mas não conheço pessoalmente quem está ali atrás.

    Já vi de tudo nessa vida. Não me surpreendo fácil com nada. E também não duvido de nada.

    Ao mesmo tempo, independente de quaisquer desconfianças, posso apontar alguns fatos a respeito das condições de emprego em Ilhéus.

    A Universidade Estadual de Santa Cruz forma centenas de profissionais todo ano. E menos de um terço deles conseguem colocações na cidade. Se formos contar os que exercem a profissão para a qual se dedicaram nos anos de graduação, este número cai dramaticamente.

    Os números de geração de empregos em Ilhéus e região são muito abaixo da média nacional e estadual. Esta é uma das poucas regiões do país que não conseguiu nenhum tipo de prosperidade concreta durante os últimos anos em que o Brasil avançou tão significativamente.

    As propostas de geração de emprego e renda que existem são baseadas em atividades como artesanato, agricultura familiar e outras similares. Ocorre que os levantamentos sobre as condições em que estas pessoas vivem não são nada animadores. A quase todos eles falta quase tudo.

    O município de Ilhéus não consegue arrecadar o suficiente para atender às suas próprias necessidades. A infra-estrutura da cidade está sendo aceleradamente sucateada, e simplesmente não há recursos para reverter isto.

    As perspectivas de futuro são bastante inquietantes. A população de Ilhéus diminui a cada aferição do IBGE, pois as pessoas simplesmente não conseguem se estabelecer na cidade. Isto explica em parte os crescentes índices de violência. Isto dá uma idéia do porque haverem tantas crianças nas ruas. Este, aliás, mais um gravíssimo problema que a cidade enfrenta. Uma verdadeira bomba-relógio.

    Não conheço Dona Olga. Mas posso afirmar que ela existe. Aliás, existem, na verdade, muitas Donas Olgas em Ilhéus. A cada dia aparecem mais. Elas podem até não ter este nome, mas com certeza vivem dramas semelhantes.

    Valeu!

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