"A minha luta é muito diferente dessas instituições, empresas e personalidades. Minha luta é igual a de milhares de professores da rede pública".
Amanda Gurgel
Ser nordestino é ser conterrâneo de gente como a professora Amanda Gurgel. Ela ficou famosa com um vídeo no Youtube (está aí embaixo), onde envergonhou todo o parlamento de seu estado, e boa parte do executivo também, ao expor de forma sincera e educada a situação cada vez mais precária da educação pública no Rio Grande do Norte.
Doença que, naturalmente, contamina o Brasil todo.
Ora. Desde então a professora ficou muito badalada, e já apareceu até no "Programa do Faustão" da Rede Globo (uma das mais lamentáveis opções de programação televisiva do Brasil).
E por isso caiu em minha desconfiança. Por princípio, desconfio de todo mundo que topa compor programas como o do Faustão, embora felizmente nem todas as minhas desconfianças tenham se comprovado justificadas.
Contudo, a professora Amanda, depois da postagem mais recente em seu Blog (aqui) agora me dá é muito gosto. Potiguar da Peste! Se ser nordestino é ser conterrâneo de pessoas como ela, então tenho mais orgulho ainda de sê-lo.
Na postagem, a professora explica porque simplesmente recusou o prêmio Pensamento Nacional de Bases Empresariais (PNBE).
A professora explica que, "Evidenciando suas prioridades, esse mesmo prêmio foi antes de mim destinado à Fundação Bradesco, à Fundação Victor Civita (editora Abril), ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a empresários da educação. Em categorias diferentes também foram agraciadas com ele corporações como Banco Itaú, Embraer, Natura Cosméticos, McDonald's, Brasil Telecon e Casas Bahia, bem como a políticos tradicionais como Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon, Gabriel Chalita e Marina Silva".
De fato, considerando o lado em que luta a professora Amanda - em defesa da educação pública, gratuita e de qualidade - e o lado em que estão os demais agraciados pelo PNBE, há aqui uma forte contradição. Ou se valoriza a educação pública ou se valoriza a educação mercantil.
A luta de Amanda é bem outra. Segundo suas próprias palavras, ela se engaja numa batalha que "é muito diferente dessas instituições, empresas e personalidades" e "é igual à de milhares de professores da rede pública".
E Amanda vai além: ela explica que os "pressupostos dessa luta são diametralmente diferentes daqueles que norteiam o PNBE. Entidade empresarial fundada no final da década de 1980, esta manteve sempre seu compromisso com a economia de mercado. Assim como o movimento dos professores sou contrária à mercantilização do ensino e ao modelo empreendedorista defendido pelo PNBE. A educação não é uma mercadoria, mas um direito inalienável de todo ser humano. Ela não é uma atividade que possa ser gerenciada por meio de um modelo empresarial, mas um bem público que deve ser administrado de modo eficiente e sem perder de vista sua finalidade".
Ao contrário dos promotores do PNBE, a professora ressalta que se opõe "à privatização da educação, às parcerias empresa-escola e às chamadas 'organizações da sociedade civil de interesse público' (Oscips), utilizadas para desobrigar o Estado de seu dever para com o ensino público".
Para serem coerentes, os promotores do PNBE deveriam emitir uma nota de repúdio contra a petulância da Professora Amanda. Jamais poderiam cogitar agraciá-la com qualquer tipo de menção honrosa.
Porque ela não parece disposta a mudar de lado. Vai continuar enfrentando a educação mercantil e denunciando o sucateamento da educação pública.
Quiçá continue sendo, como se vê no vídeo abaixo, uma verdadeira pedra no sapato.
Um orgulho para o Brasil.
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