Mais uma vez os dados dão conta de que Itabuna apresenta uma ligeira retomada na geração de empregos, enquanto Ilhéus continua sua derrocada, perdendo, como sempre, mais algumas dezenas de vagas. Isso vai se repetindo por meses a fio, contrariando, inclusive, os ótimos anos em que o Brasil inteiro conseguiu gerar emprego e renda. Nesse período a oferta de empregos na “Terra da Gabriela” encolheu. Detalhes a respeito podem ser lidos no jornal “A Região” (http://www2.uol.com.br/aregiao/arquivo/archives/2009/04/entry_4453.html).
Porque em Ilhéus é tão mais difícil se gerar empregos do que em Itabuna?
A resposta não é muito simples, mas podemos apontar alguns fatores.
Em primeiro lugar, o Turismo. Nada contra que uma cidade com o potencial de Ilhéus tenha atenções voltadas para o Turismo. Mas é importante olhar para o lado e ver quais os resultados que o turismo trouxe para a cidade. O perfil de exploração turística em Ilhéus é formado por casas de aluguel “por temporada” (que são ocupadas, normalmente, pelo pior tipo de turista – um dia discuto esse assunto), supermercados lotados, desabastecidos e inflacionados, pousadas e barracas de praia. Mesmo os restaurantes e bares estão, aos poucos, desaparecendo. A pergunta é: no frigir dos ovos, quantos empregos esse modelo turístico gera? Alguns corretores, alguns (sub)empregados temporários (domésticas, camareiras, garçons) e só. Pouca gente empregada, mal remunerada, e apenas pelos poucos meses em que esse “turismo” existe. Fora desse período, o turismo da cidade praticamente inexiste (isso é comentado pelo blog “Sarrafo” em http://sarrafonamadrugada.blogspot.com/2009/04/porque-parou-parou-porque.html). Não é bom para as pessoas de Ilhéus. Não é bom para a cidade. Atende, no máximo, os interesses de uns poucos empresários e donos de imóveis “alugados para temporada”.
O Turismo perverso que é imposto a Ilhéus é um problema grave, e um entrave na geração de empregos. Mas não é o único. O comércio da cidade praticamente inexiste, senão nos períodos de alta movimentação na cidade (os famigerados meses “turísticos”). O Ilheense não consome do próprio comércio, não consome os serviços da cidade. Isso ocorre porque uma quantidade cada vez maior de pessoas não possui poder aquisitivo suficiente e, ao mesmo tempo, a própria estrutura urbana da cidade não favorece isso: supermercados sem estacionamento, acesso complicado às áreas comerciais, são alguns dos problemas a que o comércio de Ilhéus está sujeito, embora muitas vezes os comerciantes sequer tenham conhecimento disso.
Outro fator é a pouca disposição para desenvolver o setor industrial. Cidades como Camaçari e Feira de Santana conseguiram grandes avanços na geração de emprego ao implantar indústrias de transformação que se estabelecem por períodos mais longos – as indústrias normalmente não podem se mudar tão facilmente de uma cidade para outra, tampouco fecham as portas ao primeiro sinal de crise –, geram empregos mais bem remunerados e com mais estabilidade. Esses trabalhadores consomem dos serviços e do comércio local, fazendo com que a cidade inteira se beneficie disso, não apenas por alguns “meses de turismo”, mas durante o ano inteiro. Feira de Santana, por exemplo, está recebendo, em plena “crise”, mais 23 indústrias (http://www.r2cpress.com.br/node/6829), e enquanto isso o que ocorre com o pólo industrial de Ilhéus? O que está acontecendo com as poucas iniciativas frutuosas que foram feitas, como o Pólo de Informática?
Uma possibilidade real de redenção para o município está no projeto do Complexo Intermodal. Que, infelizmente, ainda não saiu do papel. Aliás, pelo que se sabe, sequer no papel (Licitação) está ainda. Mas se vier, e precisamos ser céticos a esse respeito para que não nos iludamos mais uma vez com castelos de areia, gerará uma quantidade muito grande de empregos formais, bem remunerados e, principalmente, independentes da cruel sazonalidade do “Turismo” a que a cidade se sujeita.
Dadas essas variáveis, posicionar-se contra o Complexo é muito difícil. Preocupações ambientais? Sim. Com certeza. O projeto não pode agredir o meio-ambiente, e os impactos precisam ser contornados, reparados, evitados. Na medida do possível. Mas precisamos contorná-las; respeito ao meio-ambiente não significa conformismo com o subdesenvolvimento crescente a que a cidade está sujeita.
Há muito mais em jogo do que o Meio Ambiente. Há pessoas querendo viver melhor, ou simplesmente viver. Precisamos ter todos esses valores em vista.
Acorda Ilhéus, não se iluda! Não deixe, mais uma vez, a oportunidade passar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente aqui